Título: Dilma vai reforçar programa de governo
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A3

O comando da campanha da candidata Dilma Rousseff, do PT, definiu duas estratégias para o segundo turno: mobilizar os aliados eleitos no primeiro turno para ajudá-la na disputa presidencial e reforçar o programa de governo, indo além do crescimento econômico. Com ar cansado, mas buscando mostrar tranquilidade, foi a própria candidata que deu o recado, em entrevista concedida quando 98% dos votos estavam apurados.

Dilma declarou que o período até a próxima votação será uma "oportunidade para detalhar mais propostas, de erradicação da miséria e de desenvolvimento". Dilma discorreu brevemente, em termos genéricos, sobre suas propostas para saúde e educação, e defendeu que o Brasil seja um país "desenvolvido não apenas no PIB, mas para garantir poder de consumo a todos os brasileiros". Ao parabenizar os eleitos "da base" para o Senado e a Câmara, ela fez questão de mencionar nominalmente cada um dos partidos aliados.

Ela fez questão, também, de agradecer os mais de 46 milhões de votos recebidos e cumprimentar os candidatos vitoriosos da oposição. Nesse momento, aproveitou a entrevista para um gesto amistoso em direção à candidata do Partido Verde, Marina Silva. Após parabenizar todos os candidatos à Presidência, Dilma ressaltou o "desempenho" de Marina, cujos eleitores devem decidir o vitorioso no segundo turno das eleições presidenciais.

A entrevista de Dilma refletiu as orientações do seu comando de campanha, que começou a definir a estratégia das próximas quatro semanas no início da noite, em reunião no Palácio da Alvorada, quando ficou claro que Dilma não venceria a disputa no primeiro turno. Numa avaliação preliminar das causas da frustração da vitória, foi observada a elevada abstenção - às 21h30, com 95% dos votos apurados, ela estava em 18% (23,2 milhões de votos).

A candidata, segundo participantes da reunião, chegou ao Alvorada no meio da tarde preocupada com a votação. Coube ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva reanimá-la. Lula lembrou que disputou várias eleições. "Agora é hora de mobilizar os eleitos e de não perder o ritmo", teria dito o presidente, segundo um participante do encontro.

A candidata do PT, no pronunciamento, também fez um agradecimento especial aos militantes da coligação, que soou como um chamado para a segunda fase da disputa eleitoral. "Nós somos bastante guerreiros acostumados a desafios e somos de chegada. Tradicionalmente, a gente tem desempenhado [o papel de militância] muito bem em segundo turno", afirmou a candidata.

Dilma sinalizou que terá como outra estratégia, no segundo turno, a busca por votos dos adversários de esquerda que ficaram de fora da disputa. "Tenho certeza que no segundo turno teremos um processo muito importante de esclarecimento, de diálogo com a população, com os movimentos sociais e com todos os representantes que queiram estabelecer este diálogo conosco", afirmou.

Sem admitir a frustração por não ter garantida a vitória da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno, a cúpula governista preferiu chamar atenção para a forte votação em candidatos de partidos aliados. Os votos ao Senado e Câmara devem garantir apoio aos projetos do governo, caso a candidata seja vitoriosa no segundo turno. "O presidente Lula está muito bem-humorado. Nossa votação para o Senado e Câmara foi arrasadora", garantiu o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, coordenador do programa de governo da candidata.

Apesar das vitórias da oposição em Estados importantes, como a eleição do DEM em Santa Catarina - onde Lula chegou a discursar defendendo "extirpar" o partido da política nacional - Garcia argumenta que houve uma queda "não só quantitativa como qualitativa" nas bancadas da oposição no Congresso. Foi comemorada no Palácio do Alvorada a iminente derrota, para o Senado, de líderes influentes da oposição, como Tasso Jereissati, no Ceará, Heráclito Fortes, no Piauí, Marco Maciel, em Pernambuco e Arthur Virgílio, no Amazonas.

A grande votação para o Senado do candidato Aloysio Nunes, do PSDB, amigo de Fernando Henrique Cardoso e José Serra, foi minimizada pelo assessor do presidente. "O Aloysio é muito respeitado na esquerda, representa um passado que não existe mais, que o PSDB perdeu", comentou. "Vamos ter uma bancada maior no Senado."

O coordenador-executivo do programa de governo da candidata Dilma Rousseff, Alessandro Teixeira, disse, no comitê eleitoral do PT, que o partido já esperava o resultado apertado dos votos apurados, no Sul e Sudeste. "É possível construir alianças", disse Teixeira, ao especular sobre a possível campanha do segundo turno. O PT ainda não teria traçado um plano para aproximação da candidata Marina, adiantou. "O momento é de cabeça fria, amanhã (hoje) vamos discutir com calma o que fazer", disse Marco Aurélio Garcia.

Garcia reconhece que a surpreendente votação em Marina foi um dos fatores que impediu a vitória de Dilma no primeiro turno. "Aprendi que, em política, nunca há uma causa só", comentou. Agora, os votos de Marina devem dividir-se, acredita. "Uma parte dos votos dela foram de eleitores descontentes do Serra, outra de ex-petistas e outra de evangélicos", disse.

A candidata do PT a Presidente, Dilma Rousseff, chegou a Brasília no meio da tarde e foi para o Hotel Royal Tulip, onde se hospedou. Acompanhou a apuração e a definição que a disputa iria para o segundo turno no Palácio da Alvorada, para onde foram também o presidente da Câmara e candidato a vice, Michel Temer, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, o chefe de Gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o ministro da Comunicação, Franklin Martins, o marqueteiro João Santana, e os coordenadores da campanha Antônio Palocci e José Eduardo Cardozo.

Também estavam no grupo o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, Marco Aurélio Garcia e o secretário nacional da Pesca, Altemir Gregolin. Com esta equipe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a liderar a preparação da campanha de segundo turno.

Pela manhã, Dilma Rousseff, disse que iria esperar "com tranquilidade" o resultado da eleição. Ela afirmou que "lutou a boa luta" e saiu "mais forte do que entrou" na campanha. "Foi uma vitória ter chegado até aqui e seja qual for o resultado, para nós será um bom resultado", comentou.

De acordo com a candidata, a militância do PT e dos partidos aliados é "aguerrida". Se a eleição fosse para o segundo turno (como foi), não iria desanimar. "Não temo nada. Nossos militantes são melhores diante de um obstáculo do que da facilidade", argumentou. Ela também agradeceu aos correligionários, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Deus por ter tido forças para superar as dificuldades enfrentadas na campanha.