Título: Marina quer plenária para decidir apoio
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A4

Responsável por levar a disputa presidencial ao segundo turno, Marina Silva (PV) conseguiu quebrar a polarização entre PT e PSDB e com quase 20% dos votos válidos será determinante para a eleição do próximo presidente.

Exultante com o seu resultado, a senadora sinalizou ontem que seus adversários, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), terão de cortejá-la para conquistar o seu apoio, defendendo uma plenária interna para decidir o posicionamento do PV no segundo turno. Marina observou ainda que agora sua plataforma de campanha tem "audiência" e o candidato que quiser o seu apoio terá de encampar suas propostas, sobretudo as relacionadas ao ambiente. "Se não fomos ao segundo turno, estamos no topo da política que se inaugura no Brasil", disse.

"Vamos fazer uma discussão, que sejam ouvidos o Movimento Marina Silva, os intelectuais. Faremos uma plenária para avaliar nossa posição. O voto não é da Marina, nem de José Serra, nem da Dilma. O voto, fora de visão patrimonialista das coisas, é do eleitor", disse a senadora após cumprimentar a petista e o tucano.

A presidenciável ainda demonstrou satisfação com a realização de um segundo turno ao avaliar que o "Brasil ouviu o apelo de pensar duas vezes". O PV, no entanto, está rachado sobre o assunto. Por isso há uma tendência de que voto seja liberado para os filiados. Aliás, a harmonização de Marina e do grupo de campanha com o restante do partido será um dos maiores desafios que a senadora terá de resolver depois do primeiro turno. Antes mesmo do fim da campanha, houve um estremecimento dessa relação.

O presidente nacional da legenda, José Luiz de França Penna, declarou apoio ao PSDB no caso de segundo turno entre Dilma e Serra. A declaração irritou profundamente a candidata e os seus aliados. O coordenador da campanha, João Paulo Capobianco, divulgou uma nota pública desautorizando a declaração do presidente partidário.

Pela ligação histórica que Marina e seus aliados têm com o PT, dificilmente apoiariam o tucano. "O projeto de Serra é tão equivocado quanto o de Dilma", disse Capobianco. Além disso, os verdes sempre votaram junto com a base do governo Lula no Congresso. Apesar disso, a opinião do presidente nacional, de apoio ao PSDB, é sustentada por diretórios no país todo, como o de São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Rondônia. "O PV tem que apoiar o PSDB. Marina é importante, mas o PV é maior que qualquer pessoa", disse Roberto Stopa, presidente do diretório do Mato Grosso, antes da eleição acabar.

Amigo de Marina há mais de 30 anos, Toinho Alves indaga: "A dúvida é: o PV continua nesse campo político levado por Marina? Se não se habilitar a fazer isso, não sei como Marina vai poder traduzir a riqueza da transformação política no partido da mesma forma que se traduziu na campanha política". Ao longo da campanha, a senadora pautou o debate ambiental, fez com que seus adversários incorporassem parte de suas propostas e foi aceita por parcela significativa dos eleitores como alternativa à polarização entre PT e PSDB. O avanço tardio nas pesquisas não foi suficiente para levá-la ao segundo turno. Apesar da derrota, a senadora tem bons motivos para comemorar. Saiu das urnas maior do que entrou ao se tornar mais conhecida nacionalmente.

Com quase 20% dos votos válidos, sua votação foi superior a que teve as candidaturas de oposição à disputa entre PT e PSDB nas três últimas eleições. Em 1998, Ciro Gomes, hoje deputado pelo PSB, ficou com 10% das intenções de voto. Na eleição seguinte, recebeu 11,9%. Em 2006, Heloisa Helena (PSOL) obteve 6,8% dos votos. "O mais importante não é eleger ou não Marina, mas sinalizar o caminho que o país deve seguir", diz Israel Klabin, apoiador da candidatura presidencial. O resultado nas eleições também consolida a senadora como uma liderança política no pós-Lula.

Aos 52 anos e com capital político, Marina mira as próximas eleições para a Presidência da República. O recall, aliás, será uma arma fundamental para atrair novos partidos à sua eventual candidatura ao Palácio do Planalto em 2014. Isso possibilitará a ela disputar as eleições com mais tempo na propaganda política, o que pode ser determinante para as suas pretensões.

Apesar do resultado considerado favorável, Marina terá de se manter em evidência nos próximos quatro anos. Depois de passar por 16 anos entre o Senado e o Ministério do Meio Ambiente, ela terá que se acostumar com a ideia de ficar sem cargo público a partir de 2011, já que o seu mandato acaba no final deste ano.

Para se manter na mídia após as eleições, Marina deve aproveitar a presidência do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), criado com ajuda do empresário e vice em sua chapa, Guilherme Leal, para viajar o país e dar palestras. Há a possibilidade de ela se mudar para o Estado de São Paulo, onde concentrou a maior parte da sua campanha.

A candidata votou no Acre no fim da manhã de ontem acompanhada pelo pai, irmãos, marido, filhos, sobrinhos e amigos. Antes, foi ao templo da Igreja Assembleia de Deus, que frequenta desde 1997, e rezou. Ao falar da candidatura, Marina lembrou de sua ligação histórica com Chico Mendes e disse que com o líder sindicalista morto em 1988 aprendeu a "dialogar com todos os setores da sociedade sem abrir mão dos princípios" a fazer críticas a seus oponentes "sem destruí-los". Marina passou menos de doze horas no Acre, Estado em que construiu o início de sua carreira política. Embarcou para São Paulo às 11h40 para acompanhar a apuração com sua família.