Título: Com apenas 0,9% dos votos, futuro do PSOL é incerto
Autor: Villaverde , João
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A4

O futuro do PSOL está em aberto: de um partido que atingiu 6,85% dos votos válidos no primeiro turno das eleições presidenciais de 2006 para um que atingiu apenas 0,9%, segundo a votação realizada ontem. Plínio de Arruda Sampaio, candidato do PSOL à Presidência da República, saiu cedo de casa, no Alto de Pinheiros, bairro nobre de São Paulo, votou e, trinta minutos depois, retornou à casa, onde recebeu o Valor, que o acompanhou por todo o processo. "Minha grande meta era passar a mensagem do PSOL e, com isso, garantir nossa representatividade. Só as urnas vão dizer se consegui, mas o saldo é positivo, diante de todas as enormes dificuldades que enfrentamos", disse Plínio.

O primeiro grande percalço do PSOL, de acordo com Plínio, foi vencer a popularidade do governo. "O governo hoje está no auge, mas isso é cíclico. Nada, ao longo da história, obteve hegemonia para sempre. Quanto tempo vai demorar para fazer isso [faz gesto decrescente com as mãos]? Eu não sei, mas sei que o PSOL precisa estar pronto e essa foi a semeadura que tentei fazer", raciocina.

Ao mesmo tempo, Plínio teve de competir com uma base alta de comparação - os quase 7 milhões de votos auferidos por Heloísa Helena, candidata presidencial do partido em 2006. "Heloísa é mais popular que eu", disse o candidato, que criticou também a "poda" realizada pela mídia, que, segundo Plínio, "cometeu, ainda, o absurdo de criticar o pobre do Lula por tentar censurar a imprensa. Quem censura a informação é a própria imprensa, basta ver o espaço que tive ao longo da campanha".

Fundado em junho de 2004 por dissidentes do PT, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) obteve nas eleições de 2006 um desempenho que o credenciaria para saltos mais ambiciosos quatro anos mais tarde. Além da terceira colocação atingida por Heloísa Helena - atrás apenas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) -, o partido elegeu também três deputados federais e dois deputados estaduais em São Paulo, Estado considerado "estratégico" para o partido. Plínio, que só ingressou no PSOL no fim de 2005, após perder eleição interna para presidência do PT, venceu as prévias realizadas com Heloísa para disputar a Presidência de 2010.

"Ela não teve muita simpatia pela minha candidatura porque foi derrotada na convenção interna, mas acredito que votará em mim e eu faço campanha para ela", disse Plínio, enquanto caminhava para sua sessão eleitoral, ontem. Heloísa não se elegeu ao Senado em Alagoas - ficou em terceiro. Ao Valor, mais tarde, em sua casa, Plínio refletiu quanto ao futuro do PSOL. "Em 2006, ninguém comprava geladeira e carro em várias prestações. Peguei a fase da bonança, e também estou fora dos holofotes há muito tempo".

Por isso a tática de apelar para o humor? "Não, de jeito nenhum. Sempre fui bem humorado. Mas como a campanha é toda podada, com debates em que os candidatos só podem falar um minuto, com replicas e tréplicas minúsculas e controladas de maneira rígida, o humor sobressai", afirmou Plínio, que garantiu disputar as eleições de 2014. "Agora que fiquei famoso tenho que aproveitar", disse.

Segundo o deputado federal Ivan Valente (P-SOL-SP), que acompanhou Plínio ontem, a campanha presidencial foi mais "sólida" que a anterior. "Plínio dialogou com a juventude e com os movimentos sociais, além de passar a mensagem do partido, que não contou com coligação, como em 2006 [com PSTU e PCB]. O voto no Plínio, de 1% do total, é mais consistente que os conquistados quatro anos atrás", disse Valente, que considerou sua eleição em São Paulo "central" ao futuro do partido. "Se nós conseguirmos uma vitória em São Paulo, que é o centro político e econômico do país, aí acho que a campanha do PSOL pode ser considerada vitoriosa", afirmou.

O PSOL realiza hoje uma reunião do comitê de campanha na residência de Plínio para traçar os planos para o segundo turno. Plínio já adiantou que o partido não participará do governo. "De direita? Nunca". A partir de amanhã, Plínio viaja com a esposa, Dona Marieta, para seu sítio em São João da Boa Vista (SP). "Com 80 anos um pouco de descanso não faz mal", disse Plínio, para quem o esforço se fez necessário para ampliar o contato do partido com os jovens e para garantir a reeleição dos deputados federais. Valeu a pena? "O contato com a juventude foi excelente, representado pelos mais de 47 mil seguidores no Twitter. Espero ter ajudado na representatividade do PSOL", disse.

Levado em consideração o coeficiente eleitoral de São Paulo, o PSOL, que não participou de uma coligação de partidos, precisava de 1,42% dos votos em São Paulo para eleger um deputado federal. Com os 1,49% registrados ontem no Estado, Ivan Valente garantiu sua cadeira - Chico Alencar, no Rio de Janeiro, também, mas Luciana Genro, no Rio Grande do Sul, não. O partido elegeu dois senadores: Marinor Brito, no Pará, e Randolfe, no Amapá.