Título: Serra deve evitar ataques à adversária
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A5
Ao contrário do que ocorreu em 2006, quando Geraldo Alckmin mudou o tom da campanha do PSDB do primeiro para o segundo turno, José Serra deve evitar ataques à candidata do PT, Dilma Rousseff. A aposta dos tucanos é a televisão e os debates, como já fora no primeiro, mas agora com tempos iguais no horário eleitoral gratuito. No momento, o objeto do desejo do PSDB é o apoio de Marina Silva, que é duvidoso, embora o PV possa fechar com Serra.
Em discurso feito após as 24h - ele chegou às 23h50 -, as críticas mais duras de Serra foram às pesquisas. "Não foram as pesquisas, foi o povo brasileiro que me trouxe até aqui". Serra renovou seus compromissos de campanha. E disse o que tem a oferecer: "Minha biografia, meu jeito de ser, a minha ficha limpa e a capacidade de retirar as coisas do papel e fazer as coisas acontecerem". Serra voltou a falar em Deus, ao conclamar os correligionários para o segundo turno, o que tem ocorrido em praticamente todos os eventos da campanha.
Serra leu o discurso de agradecimento. Ele disse que será um presidente que vai "defender a integridade das instituições, lutar pela liberdade de imprensa" e estabelecer uma relação exemplar. "O seu comportamento (do presidente da República) é exemplo para toda a população".
Marina sentiu-se agredida por Dilma em debates. Mas o PT entrou no circuito e assegura que as feridas estão cicatrizadas. O partido viu como um sinal positivo Marina declarar que o Brasil está preparado para ter uma mulher como presidente.
Serra votou logo após as 13h, no Colégio Santa Cruz, localizado na zona oeste de São Paulo. Estava bem-humorado e confiante de que iria para o segundo turno, como passara a semana repetindo aos mais céticos da cúpula do PSDB. Seu grande desafio na campanha foi motivar os correligionários. Nem todos eram como o marqueteiro Luiz González, que sempre manteve aposta no segundo turno.
Ao longo da campanha, Serra sempre era o mais confiante de que a eleição não terminaria ontem. Repetia que as pesquisas de opinião não estavam refletindo o "sentimento das ruas". Mas era real o ceticismo do PSDB com relação à passagem de Serra para o segundo turno. O tamanho do desafio: Dilma, sua adversária, tinha, e ainda tem, muito o que apresentar na campanha - o PAC, o programa Minha Casa, Minha Vida, o apoio de um presidente aprovado por mais de 80% da população, a máquina federal, uma coligação partidária forte e situação de expansão econômica.
A palavra de ordem do PSDB, agora, é unidade. Candidatos tucanos eleitos no primeiro turno devem reforçar a campanha, especialmente Aécio Neves, senador eleito por Minas Gerais, o governador eleito do Paraná, Beto Richa e o próprio Alckmin. Mas ontem mesmo já havia sugestões de mudança de curso. A presença de Fernando Henrique Cardoso na campanha, por exemplo.
Serra escondeu o ex-presidente durante toda a campanha, como Geraldo Alckmin fizera em 2006. Ele chegou a ser cobrado disso num dos debates entre os presidenciáveis .Ocorre que o único candidato apoiado por Fernando Henrique Cardoso, o ex-deputado Aloysio Nunes Ferreira, teve uma votação extraordinária e se elegeu em primeiro lugar para o Senado, em São Paulo. FHC fez campanha na televisão para Aloysio.
Ontem à noite o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, voou para São Paulo. São questões como esta que os tucanos precisam acertar entre eles. Gonzales quer manter na propaganda a linha de tentar mostrar que a candidata do PT é "inconsistente" e resultado de um "dedazo" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O preço a ser pago pelo PT é o risco de Dilma ficar pequena em relação ao presidente Lula.
Evidentemente a campanha pode passar por algum ajuste, dependendo das circunstâncias. Com mais tempo na televisão, Serra também espera explicitar melhor suas propostas para o Bolsa Família (reajuste e o estabelecimento de um décimo-terceiro) e a questão do aumento de 10% para os aposentados. "A minha estética é botar o Serra nas casas das pessoas falando com os brasileiros mais simples.
Candidato da coligação "O Brasil pode mais", José Serra demonstrou bastante otimismo durante o dia.
No colégio onde votou, o candidato tucano foi recebido com aplausos de eleitores e com gritos de "Serra, presidente do Brasil". A recepção mais calorosa, porém, foi dedicada ao seu companheiro de coligação Geraldo Alckmin. Em pronunciamento feito à tarde, Serra demonstrava confiança em um possível segundo turno. "Os brasileiros sabem que o Brasil não tem dono. O dono é o nosso povo e se Deus quiser nós vamos ter segundo turno, para o bem do Brasil", afirmou. Nos últimos dias de campanha, o candidato sempre invocou o nome de Deus. Disse, inclusive, já ter um slogan para a segunda fase da campanha: "Com Serra, ninguém erra".
O candidato do PSDB ainda alfinetou suas principais adversárias, Dilma e Marina. "Nós estamos num país multicolorido. Não é a onda verde, nem a onda vermelha, nem a azul. É a onda verde-amarela que vai até o coração de todos os brasileiros que querem um governo honesto", afirmou. No palanque, Serra também elogiou a atuação das esposas dos candidatos na campanha. "Aqui são dois times, dos homens e das mulheres. E elas são mais competentes, na minha opinião, nesta campanha estadual", disse. Durante a coletiva, o candidato afirmou ainda que defenderia a liberdade de imprensa, para que a mídia "possa informar tudo o que está acontecendo no Brasil".
Cerca de 200 militantes do PSDB enfrentaram a garoa fina e gelada do início da noite de ontem, na capital paulista, para se reunir em um espaço de eventos na Barra Funda, na zona oeste do município. Às 21h eram aguardadas 1,5 mil pessoas para a festa programada para comemorar a eleição de Geraldo Alckmin para o governo paulista no primeiro turno, o que até aquela hora não estava confirmada, e a conquista do segundo turno para o candidato do partido a presidência, José Serra.
Na comemoração dos tucanos, só refrigerante e água, com saquinhos de pipoca para degustação. Bexigas amarelas, azuis e brancas emolduraram os painéis dos candidatos. Nas fotos de divulgação, Alckmin aparece ligeiramente à frente de Serra, indicando quem é o dono da festa. Por meio de dois telões e dez telas de LCD, a militância acompanha a apuração. Gritos de "urra" foram entoados por volta das 19h, quando Alckmin apareceu com 52% dos votos, 19 pontos à frente do candidato do PT ao governo paulista, Aloizio Mercadante.