Título: Aloysio Nunes surpreende e é eleito com mais de 30% dos votos em SP
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Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A9

Deu zebra. Na corrida pelas duas vagas de São Paulo ao Senado, o candidato Aloysio Nunes (PSDB) - que começou entre os lanternas nas pesquisas de intenções de votos - cravou a liderança, com 30,4% do votos. Ele desbancou o candidato Netinho de Paula (PC do B), que ficou na terceira posição, com 21,1% dos votos, e dividia a chapa ao Senado com a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), que garantiu a segunda cadeira de São Paulo, com 22,6% dos votos.

A vitória de Aloysio Nunes foi a grande surpresa nas eleições de São Paulo, apesar de ele ter mostrado reação nas últimas pesquisas. Ele não só conquistou a vaga, como superou o total de votos para o Senado de Aloizio Mercadante (PT) em 2002, que neste ano disputou, e perdeu, a vaga de governador de São Paulo com o tucano Geraldo Alckmin (PSDB). Em declaração à Agência O Globo, Aloysio Nunes disse que, agora que garantiu vaga ao Senado, sua principal missão será ajudar a eleger o tucano José Serra.

Tudo indica que, para a arrancada no momento final da disputa, foi fundamental o apoio declarado do ex-governador Orestes Quércia (PMDB), que, por motivo de saúde, renunciou à candidatura ao Senado.

No último levantamento do Datafolha antes de Quércia (PMDB) anunciar sua renúncia, no início de setembro, Aloysio Nunes aparecia em sexto lugar na disputa, com 9% das intenções de voto. Já Quércia tinha 26% das intenções de voto, atrás apenas de Marta Suplicy, com 32%. Logo depois, o candidato Netinho de Paula aparecia com 24% das intenções de voto, Romeu Tuma (PTB), com 16%, e Ciro Moura (PTC), outros 13%.

Já na pesquisa divulgada pelo Datafolha antes da votação, ontem, os candidatos Netinho e Marta, da coligação União para Mudar (PT, PDT, PSDC, PCdoB, PTdoB, PR, PRB, PRP, PRTB e PTN), apareciam à frente da disputa, com 24% das intenções dos votos válidos, seguidos por Aloysio Nunes, com 20%.

O candidato tucano, ao lado de Ricardo Young (PV) - que terminou em quarto lugar na disputa, com 11,2% dos votos -, formava a dupla favorita ao Senado dos paulistanos que votaram na escola Madre Alix, no Jardim Paulistano, região nobre da capital paulista, seção da eleitora e candidata Marta Suplicy.

No momento em que Marta chegou ao colégio para a votação, por volta do meio-dia, um clima de tensão pairou no ar, agravado pelo desconforto causado pelo grande número de jornalistas presentes. Ao ver a assessora de imprensa da candidata entrar na seção para tentar organizar o trabalho dos cinegrafistas, uma senhora não perdeu tempo e disparou: "Nós também estamos esperando para votar". Marta, imediatamente, se pôs atrás dela na fila. Esse sentimento de rejeição era compartilhado por outras senhoras elegantes que circulavam pelo colégio, no momento da votação.

A única pessoa que destoava dos demais eleitores que estavam no Madre Alix era Malvina Joana de Lima, servidora pública e "militante", como fez questão de frisar. Com uma camisa cheia de adesivos da candidata do governo à Presidência, Dilma Rousseff (PT), e bandeira do PT em punho, era a mais empolgada com a chegada de Marta Suplicy. Mas Malvina vota em Moema, bairro da zona sul da capital.

Na saída da escola, Marta disse que estava confiante na sua vitória e na do candidato Netinho para o Senado. "Caso seja eleita, espero ser um braço direito da candidata do governo à Presidência, Dilma Rousseff (PT)", emendou. Questionada se apoiaria o senador José Sarney (PMDB-AP) para presidente do Senado, caso eleita, Marta foi evasiva e respondeu que "muita água ainda vai rolar".

Ela apostava ainda num segundo turno para governador em São Paulo. "Vai ter uma virada em cima da hora", disse, referindo-se à expectativa de arrancada de Mercadante.

Já Netinho foi recebido com palmas dos eleitores ao chegar no seu local de votação, a Uniban de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. Essa animação era compartilhada pelo próprio candidato do PC do B. "Estou motivado com a campanha que fiz, de ficar pegando na mão das pessoas, de ficar discutindo propostas", destacou.

Ele disse ainda que não se mostrou surpreso com o avanço do rival Aloysio Nunes nas pesquisas de intenção de voto. "Acho natural que ele cresça devido à campanha que fez, do tempo de TV que teve. Não tenho o que falar sobre as pesquisas. Agora é esperar a apuração das urnas", comentou.

Nos últimos dias da campanha, Netinho foi alvo de investigação criminal aberta na Promotoria Eleitoral de Barueri, na Grande São Paulo, após denúncias de fraude na declaração de bens à Justiça. Policiais civis tentaram vasculhar sua casa, mas foram impedidos de entrar porque não tinham mandado de busca. Para Netinho, as acusações foram motivadas por um grande apelo de desconforto racial.

Em 2008, Netinho foi eleito vereador em São Paulo pelo PC do B, com 84.406 votos. Essa votação deu a ele o posto de terceiro candidato mais votado na ocasião, com 1,41% dos votos válidos.

Surpreendeu ainda o crescimento percentual dos votos nulos e brancos na disputa para o Senado nesta eleição. Dos mais de 50 milhões de votos para senador em São Paulo, os nulos somavam mais de 8,2 milhões, ou 16,25%. Com 5,6 milhões, os votos brancos representaram 11,10%.

Nas eleições de 2006, a fatia de votos nulos e brancos foi de 11,6% e 9,4%, respectivamente. Já em 2002, de 10,6% e 7,9%. O crescimento dos votos nulos e brancos neste ano pode estar ligado ao fato de muito eleitor ter achado que era possível votar na legenda para senador. Na hora H, sem a "cola" de um dos candidatos, acabaram anulando ou votando em branco.