Título: Apoio de Lula ajuda Lindberg no Rio
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A9

O apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seja oficial ou pessoal, embolou a disputa pelas duas vagas ao Senado no Rio de Janeiro. De um total de 11 candidatos que concorreram ao cargo, a aliança entre os governos federal, estadual e municipal rendeu bons frutos para o candidato do PT ao Senado, Lindberg Farias. O ex-prefeito de Nova Iguaçu avançou nas pesquisas das últimas semanas antes da eleição e passou do terceiro lugar, com 20% das intenções de voto registradas em julho, para ser o senador mais votado entre os 11,5 milhões de eleitores do Estado. Lindberg teve 28,65% dos votos válidos, o equivalente a 4,21 milhões. Esta performance o torna o senador mais votado da história do Rio.

A disputa pela segunda cadeira fluminense no Senado foi acirrada entre Marcelo Crivella, do PRB, e Jorge Picciani, do PMDB, presidente da Assembleia Legislativa (Alerj). Crivella, que nas pesquisas de julho liderava com 42% das intenções de voto, acabou reeleito com 22,66% dos votos válidos, contra 20,72% obtidos por Picciani. Utilizando-se de uma gravação antiga de Lula, que não pediu diretamente votos para ele, Picciani não conseguiu se eleger, mas terminou a apuração a uma distância de menos de 2 pontos percentuais do segundo senador eleito. O Rio teve 13,77% de votos nulos para o Senado e 9,41% em branco.

Ex-prefeito da capital por três mandatos, César Maia, do DEM, acabou como o grande derrotado nas eleições. Duramente criticado em sua última gestão na Prefeitura, Maia ficou em quarto lugar, com 11,07% - à frente do cantor Waguinho (8,81%), sucesso na década de 90 com a banda de pagode Os Morenos.

O senador eleito Lindberg Farias disse, em entrevista, que espera enfrentar uma oposição menos beligerante no Senado nos próximos quatro anos. Para o petista, a liderança da oposição na Casa caberá a Aécio Neves, de perfil mais conciliador, o que pode permitir aproximação com o PSDB em questões como reformas tributária e política. "O Aécio Neves, sem sombra de dúvidas, não vai fazer oposição por oposição. Estou convencido que nós do PT temos que desarmar esse clima de radicalização política."

O petista disse que seu partido passou oito anos de "oposição intransigente" ao governo Fernando Henrique, assim como o PSDB fez com o governo Lula. "O Senado foi o palco dessa disputa radicalizada dos dois lados", afirmou Lindberg.

Como plataforma, Lindberg afirmou que vai levar para Brasília o pleito para que o governo federal entre com verbas para a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) em todo o Estado.

Mais cedo, depois de votar em Nova Iguaçu ao lado da mulher e do filho, Lindberg ponderou que o programa eleitoral na televisão foi fundamental ao sucesso na votação. "Entre os candidatos, eu era o que tinha o menor grau de conhecimento [pela população]. A partir da tevê, o nível de conhecimento cresceu muito", reconheceu, sem esquecer do apoio do governo.

"Claro que o apoio do [presidente] Lula, do [governador Sergio] Cabral e do [prefeito Eduardo] Paes também contou, já que eu era o único que tinha todos esses apoios", afirmou. "Entrei no voto do governador Cabral." Para o candidato petista, o que contou a favor dele foi o desejo do eleitorado de renovar o Senado.

Mas Lindberg não foi o único a surfar na popularidade do presidente Lula, que deixará o Planalto com recorde de aprovação. O reeleito Marcelo Crivella recebeu apoio pessoal do presidente, mas, por não ser da coligação que recebeu suporte de Lula, chegou a ser obrigado a retirar a gravação dele da propaganda eleitoral. "A primeira coisa que vou fazer é agradecer ao presidente da República, que é a pessoa mais humilde, e às comunidades que votaram e acreditaram no nosso projeto."

Crivella, que votou pela manhã em Copacabana, cobrou ações do Senado e pediu que os colegas voltem logo ao trabalho após as eleições. Ele disse que vai aproveitar o fim do ano para recuperar o tempo perdido com a campanha e acelerar os projetos que já estão em tramitação e trazer ao Rio os recursos que já estão empenhados.