Título: Roseana e Dino devem definir o pleito no MA
Autor: Prestes , Cristine
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A20
Se a Roseana não ganhar no primeiro turno, perde no segundo e a oligarquia Sarney no Maranhão chega ao fim¿. A avaliação é feita por quem acompanha de perto as eleições no estado e conhece profundamente a história da família, que há 40 anos domina a politica maranhense. Mas também é dita nas ruas por cidadãos comuns, tanto eleitores de Roseana Sarney, filha do senador José Sarney (PMDB-AP) que tenta a reeleição, como de um dos cinco candidatos de oposição que disputam o pleito.
Ainda que a avaliação pareça precipitada, a ida do pleito estadual para o segundo turno, se for confirmada nas urnas, é uma história que se repete. Roseana Sarney, que já foi governadora por dois mandatos (o primeiro foi de 1995 a 2002), vai ao segundo turno pela segunda vez consecutiva. Nas eleições de 2006, Roseana Jackson Lago (PDT) disputaram o segundo turno e Lago venceu por uma diferença de pouco menos de m100 mil votos. Foi a primeira vez, desde 1966, que um candidato de oposição ao clã Sarney assumiu o governo do estado. O pedetista, no entanto, foi afastado do cargo em 2009 por uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o condenou por abuso de poder político e determinou que a segunda colocada no pleito, Roseana, assumisse o posto. Até as eleições de 2006, venciam no Maranhão os candidatos apoiados pela família Sarney - ainda que alguns deles, como o ex-governador e candidato ao Senado pelo PSB, José Reinaldo Tavares, tenham, posteriormente, rompido com o clã.
A chamada "oligarquia dos Sarney" sofreu seu primeiro golpe mais forte em 2001, quando o escândalo envolvendo o dinheiro encontrado na sede da empresa Lunus, de propriedade da governadora e de seu marido, Jorge Murad. Roseana é a principal herdeira do poder pol1tico do pai. Um de seus irmãos, Fernando Sarney, também envolvido no escândalo; dirige o grupo de empresas de comunicação dos Sarney, que inclui, entre outros veículos, a TV Miramar, afiliada da Rede Globo no Estado. Seu irmão mais velho, José Sarney Filho, conhecido por Zequinha Sarney, disputa as eleições para deputado federal. Com o escândalo da Lunus, Roseana, que havia renunciado ao cargo de governadora para concorrer à Presidência da República, desistiu da disputa e se candidatando ao Senado, cargo para o qual foi eleita.
Para os analistas da política maranhense, essa nova ida de Roseana ao segundo turno, agora contra Bávio Dino (PCdoB), ex-juiz federal que largou a magistratura para entrar na política e se elegeu deputado federal, é mais um sinal da fragilidade em que se encontra o domínio exercido pelo clã. Ainda que um segundo turno seja sempre uma nova eleição, o cenário não é animador para Roseana Há três meses, Bávio Dino e Jackson Lago, que disputa novamente as eleições ao governo maranhense, fizeram um acordo de apoio mútuo em um eventual segundo turno. Ou seja, Dino deve ganhar o imediato apoio de Lago caso o segundo turno se confirme. Da mesma forma, os outros três candidatos de oposição que disputaram o pleito - Saulo Arcangelo (PSOL), Marcos Silva (PSTU) e Josivaldo Correa (PCB) - tendem a apoiar Dino. Mesmo que isso não ocorra, seus eleitores são aqueles que se recusam a dar continuidade ao poderio da família Sarney. De acordo com a pesquisa do Ibope realizada entre os dias 14 e 16 de setembro, a rejeição a Roseana atinge 28% dos eleitores e situa-se nesse patamar em todas as regiões do Estado. Entre os eleitores de Jackson Lago, a rejeição a Roseana atinge 71% - o que indica que seus votos devem migrar em massa para Flávio Dino em um possível segundo turno.
A pesquisa ainda trazia um outro dado interessante: independentemente da intenção de voto, 55% dos eleitores acreditavam que Roseana venceria as eleições, embora as intenções de voto na candidata à reeleição somassem 47% na época. Em outras palavras, significa que o eleitor não acreditava que Roseana pudesse perder - cenário que pode ser alterado se o segundo turno se confirmar.
Nesse contexto, a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da candidata do PT à Presidência da República Dilma Rousseff na campanha de Roseana pode ser crucial. O apoio criou uma saia justa no PT: o diretório nacional do partido impôs, no Maranhão, o apoio a Roseana em função da coligação entre o PT e o PMDB no âmbito federal, o que levou até a uma greve de fome feita pelo deputado estadual petista Domingos Dutra, que disputa a reeleição. Por causa disso, nem Dilma nem Lula, que tem seu mais alto percentual de aprovação no Maranhão, foram ao Estado durante o primeiro turno da campanha.
Isso não impediu Roseana de explorar ao máximo a coligação nacional com o PT. Um possível apoio ainda mais ostensivo de Lula e Dilma a Roseana; no entanto, não assusta Flávio Dino. Membro de um partido da base aliada do governo no Congresso Nacional, o PCdoB, o candidato tem a certeza do apoio de Lula e de um eventual governo Dilma a seu governo - tanto que durante sua campanha ao governo maranhense usou a imagem de Dilma e deixou claro aos eleitores que trabalhará em conjunto tom o governo federal.
A disputa ao Senado no Maranhão ocorreu sem grandes surpresas. Até o fechamento desta edição, com mais de 85% das urnas apuradas, o senador Edison Lobão e João Alberto, ambos do PMDB, estavam à frente.