Título: Sérgio Cabral é reeleito com ampla maioria
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A14

Reeleito com ampla maioria dos votos, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), passa a ter perfil para tornar-se liderança no cenário político nacional. Aliado do presidente Lula, assegurou benefícios para sua própria projeção e para o Rio ao garantir para o Estado investimentos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Foi presença constante nas visitas do presidente e, na fase de campanha, da candidata de Lula, a petista Dilma Rousseff, ao Rio.

Ao comemorar a vitória ontem, Cabral deu demonstração do seu envolvimento com o governo federal. Disse que hoje estará em Brasília onde vai se reunir com o comitê da candidata para traçar a estratégia da petista, no Rio, no segundo turno. Ontem, com 99,82% das urnas apuradas, Dilma tinha, no Rio, 43,76% dos votos válidos e José Serra, 22,54%, atrás de Marina Silva, com 31,51%.

A implantação das Unidades de Política Pacificadora (UPPs), com a ocupação da polícia em várias favelas cariocas, de onde o comando dos traficantes de drogas foi expulso, é peça principal na eleição do governador. Ontem, Cabral garantiu que vai implantar unidades em três favelas ainda este ano (Morro dos Macacos, Mangueira e São Carlos). E disse que em 2011 planeja unidades para as maiores e emblemáticas favelas do Rio: Rocinha, Complexo do Alemão, Maré e Manguinhos.

As UPPs são citadas como um exemplo nacional de solução contra a violência, avalia o cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) , Ricardo Ismael.

Ontem à noite, com 99,96% das urnas apuradas, Cabral tinha 66,08% dos votos frente a 20,68% do deputado federal Fernando Gabeira (PV), e 10,80% de Fernando Peregrino (PR). Os outros três candidatos somavam 2,43%.

"O resultado faz Cabral entrar no jogo da disputa nacional nas próximas eleições", afirma Ismael. "O Estado do Rio tem uma importância grande, pois conta com 9% do eleitorado nacional".

Quando votou, ontem, em Copacabana, por volta de 11hs, Cabral fez questão de afirmar, como fez em toda a campanha, que instalará as UPPs em todas comunidades carentes do Estado. "A mãe de todas as prioridades continuará a ser a segurança. Sem elas, as outras políticas públicas sofrem. Creches, hospitais, escolas, sofrem sem segurança", afirmou.

Cabral votou acompanhado pelo senador Francisco Dornelles (PP) e do vice-governador Luiz Fernando Pezão, que teve papel importante visitando o interior fazendo campanha mesmo sem o governador. Ele é da cidade de Piraí, onde implantou na frente de muitas outras regiões do país uma prefeitura com recursos de internet acessíveis à população.

Também acompanhou Cabral na hora do voto, o governador da Província de Buenos Aires, Daniel Scioli. Cabral está firmando uma parceria de troca de experiências com a capital argentina, que irá instalar a primeira Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas, em novembro. "Rio e Buenos Aires têm fortes identidades. Estamos mostrando a conexão do Rio com o país e o mundo."

Cabral aposta em vitória de Dilma Rousseff para presidência no segundo turno para dar continuidade aos projetos que vem desenvolvendo para o Estado: "O povo será grato a Lula e a tudo que tem feito pelo Brasil e pelo Rio. Vamos seguir com Dilma, com o PAC 2. A Copa e a Olimpíada serão um sucesso internacional, mas também deixarão um legado para a população do Rio de Janeiro".

O candidato do PV ao governo do estadual, Fernando Gabeira, derrotado por Cabral, considerou a campanha necessária, "por ser de oposição", o que representou, segundo ele, uma alternativa ao governo. Gabeira concordou com Cabral que o foco agora deve ser reforçar a segurança e investir mais em educação e saúde. "O caminho é esse", afirmou. Ele disse, porém, que será preciso acompanhar a implementação dessas políticas. Gabeira informou que retornará à Brasília para concluir o mandato de deputado federal e recolher o material de 16 anos como parlamentar para produzir um arquivo, um material sobre os principais problemas do Brasil.

Pela manhã, quando votou na Lagoa, Zona Sul do Rio, já resignado com a derrota, Gabeira disse que seria difícil que a boca de urna alterasse as intenções de voto mostradas pelas últimas pesquisas eleitorais.

Além de continuar a fiscalizar o governo do Estado, ele disse que vai defender a criação de uma comissão mista no Senado para tratar da proteção dos oceanos. A partir dessa comissão, poderia se criar no governo um órgão de administração dos oceanos e da atmosfera, como existe nos Estados Unidos, comparou. "Os ecossistemas oceânicos, segundo a Organização das Nações Unidas, deveriam ser protegidos em 10%. No Brasil, só protegemos 1,5%. Estamos muito longe da proteção necessária. É dos oceanos que retiramos o petróleo, então temos que cuidar bem dele."

Para a Câmara dos Deputados, o mais votado no Rio foi o ex-governador Anthony Garotinho (PR), com 681 mil votos, seguido do deputado federal Chico Alencar (PSOL), com 240 mil votos, e de Leonardo Picciani, com 164 mil votos. Na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Wagner Montes (PDT) confirmou seu favoritismo, com 526 mil votos, seguido por Marcelo Freixo (PSOL), 177 mil votos e o pastor Samuel Malafaia (PR), com 133 mil votos.