Título: Tarso Genro quer PDT em governo de coalizão no RS
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A15
Primeiro governador eleito em primeiro turno no Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), disse ontem à noite que pretende formar um governo de "coalizão". Logo após confirmada a eleição, o ex-ministro da Justiça anunciou que vai convidar o PDT (que disputou a eleição estadual coligado com José Fogaça, do PMDB) para compor a "unidade popular pelo Rio Grande" - coligação que reuniu PT, PSB, PCdoB e PR.
"O PDT tem mais identidade conosco do que com os nossos adversários", disse o petista. Ele também pretende conversar com o PP e com o PTB sobre o que os dois partidos "pensam a respeito do futuro do Estado" e admite acatar "sugestões compatíveis" do PMDB, adversário histórico do PT no Estado.
Genro foi eleito com 3,4 milhões de votos, o equivalente a 54,35% dos votos válidos no Estado, contra 24,74%% do ex-prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB), e 18,4% da governadora Yeda Crusius (PSDB), que buscava a reeleição. Na disputa pelo Senado, o senador Paulo Paim (PT) foi reeleito com 33,83% dos votos válidos, à frente da estreante Ana Amélia Lemos (PP), que somou 29,54% e ficou com a segunda vaga.
Genro disse que trabalhará pela eleição da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, no segundo turno, na função que a coordenação de campanha definir. Pretende combinar a tarefa com as negociações para a formação do futuro governo estadual, em outubro, e constituir, em novembro, um comitê para tratar da transição com o governo de Yeda Crusius.
Esta foi a terceira vez que Genro, 63 anos, concorreu ao governo do Estado. Em 1990 ele não passou do primeiro turno e em 2002 perdeu no segundo turno para Germano Rigotto (PMDB), que neste ano disputou o Senado mas ficou de fora. Também foi prefeito de Porto Alegre de 1993 a 1996 e de 2001 a 2002, além de ministro do "Conselhão", da Educação, da Articulação Política e da Justiça nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pela manhã, antes de um café com Dilma, Genro disse que até hoje nunca havia disputado uma campanha em que "tudo deu tão certo quanto esta". Para o petista, houve "ajuda recíproca" entre ele e Dilma para o crescimento de ambos na preferência dos eleitores gaúchos nos últimos meses no Estado.
"Nós interagimos e crescemos juntos", comentou. "Eu, pelo fato de ter participado sete anos do governo, me credenciei como representante do projeto do presidente Lula; ela pelo papel absolutamente relevante que ela teve no governo".
Genro também deve assumir o governo com uma bancada confortável na Assembleia Legislativa. O PT aumentou o número de deputados estaduais de dez para 14, enquanto o PSB e o PCdoB, coligados dos petistas, passaram, somados, de três para quatro parlamentares. A Assembleia gaúcha tem 55 cadeiras. O PDT, que deve compor o futuro governo, manteve sete deputados e Genro tem ainda proximidade com o PTB, que passou de quatro para seis parlamentares. Somados, os partidos simpáticos ao governador eleito têm 31 deputados, ou 56,4% do Legislativo estadual.
Na Câmara dos Deputados, o PT gaúcho passou de sete para oito deputados, o PSB de um para três e o PCdoB, de um para dois. O resultado ainda exclui o desempenho da deputada federal Maria do Rosário, que não teve os votos computados para a composição das bancadas porque aguarda resultado de recurso contra a impugnação de sua candidatura.
O PP gaúcho também aumentou a representação em Brasília de cinco para seis parlamentares, enquanto o PMDB recuou de cinco para quatro (o secretário geral do partido no Estado, deputado federal Eliseu Padilha, não se reelegeu), o PSDB e o DEM, de dois para um. O PDT e o PTB mantiveram as bancadas de três parlamentares. O PPS e o PSOL perderam as únicas cadeiras que detinham. No caso do PSOL, a filha de Genro, Luciana, perdeu a vaga.
Derrotado na disputa pelo governo, Fogaça, ex-prefeito de Porto Alegre, lamentou que o PMDB não tenha apresentado um candidato à Presidência da República. "Foi uma grande falha do meu partido não assumir uma candidatura própria, que alavancaria as nossas propostas", disse o candidato, que se manteve neutro durante a disputa entre Dilma e o candidato do PSDB à Presidência, José Serra.
Fogaça disse ainda que não foi fácil enfrentar "dois polos de poder", representados por Genro, ex-ministro do governo Lula, e Yeda, que tentava a reeleição. "O único candidato da planície era eu, contra os outros que tinham estruturas maciças de poder atrás de si". Durante a manhã de ontem, Yeda dizia que mantinha a esperança de chegar ao segundo turno, embora não tivesse conseguido ir além da terceira posição nas pesquisas. Depois de fazer uma campanha em que explorou a conquista do equilíbrio das contas públicas do governo estadual, ela lembrou que em 2006 também estava atrás nas pesquisas de intenção de voto, mas acabou eleita ao vencer o petista Olívio Dutra no segundo turno.