Título: Longa trilha por percorrer
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 17/07/2010, Política, p. 2

Embora a militância tenha marcado presença, Dilma ainda tateia na tarefa de se fazer convincente na relação com o eleitorado

Mesmo com Dilma Rousseff atacando o vice do adversário tucano José Serra ou prometendo fazer um trabalho infalível caso eleita, o povo ainda parece muito ligado a Lula. O comício no centro do Rio de Janeiro mostrou claramente que a militância petista e dos partidos aliados faz qualquer coisa por ele, até enfrentar vento forte e chuva torrencial numa noite de inverno carioca.

Não só a área da praça da Cinelândia ficou cheia. Estavam lotadas as escadarias da Biblioteca Nacional, do Teatro Municipal e o Amarelinho, antigo bar reduto de seguidores do ex-governador Leonel Brizola (PDT), morto em 2004. Lá, entre um petisco e outro, os frequentadores gritavam um quase inaudível Olê, olá, Lula, Lula. O Lula tem muita força e vai ganhar a eleição, disse o catador de latinhas Orlando Silva, 48 anos, que aguardou desde as 15h para assistir o comício e conhecer pela primeira vez o presidente e a candidata do PT.

O presidente discursou por cerca de 27 minutos e antes de Dilma. Afinal, todo o palco foi montado para a candidata. A animação do público, no entanto, esmoreceu diante da chuva, que não deu trégua. Alguns deixaram o local depois de Lula falar e, na metade do discurso da petista, mais militantes abandonaram o ato eleitoral. Quem ficou, esperou para receber um abraço ao fim. Nem Lula, nem Dilma frustraram os fiéis seguidores.

Afagos Primeiro desceu o presidente, depois a candidata. E ambos se esbaldaram trocando afagos, apertos de mão e abraços. O comício serviu para fechar uma passeata entre a Igreja da Candelária e a Cinelândia.

No trecho de 1,1 km, Dilma juntou-se somente nos últimos quinhentos metros. Ela estava em pé na caçamba de uma caminhonete ao lado de seu candidato a vice, Michel Temer (PMDB).

A presidenciável ficou todo o trajeto cerca de 200 metros à frente da grande concentração de militantes.

Por um erro de cálculo de última hora, os estrategistas da campanha perceberam que não seria possível colocá-la no meio da multidão. Resultado: ficou praticamente isolada.

Quase chegando ao local do comício, o carro em que ela estava quis fazer um percurso para desviar da população. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), desceu da caçamba e brigou com um dos assessores políticos de Dilma. O que é isso, querem tirar ela do povo? Volta para a avenida, esbravejou. A petista pediu calma. Quando Dilma viu a festa preparada, abriu um sorriso e comentou com o candidato ao Senado pelo PT, Lindberg Farias: O pessoal está fazendo uma festa bacana.

A animação a contagiou. Dilma fez um discurso menos técnico e mais político. Chegou a elogiar Temer atacando o deputado Índio da Costa (DEM-RJ), que, em primeiro mandato, tornou-se vice de José Serra para agradar ao DEM. Meu vice tem tradição política.

Não caiu do céu nem é improvisado, disse. A candidata também prometeu tentar ser infalível.

Não posso errar porque a primeira mulher presidente tem de honrar todas, honrar quem cria os filhos e tem duas ou três jornadas de trabalho.