Título: PT volta a desafiar Serra a mostrar FHC
Autor: Romero , Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2010, Política, p. A7

Dilma recebe os eleitos para discutir a estratégia do 2º turno: "Faremos um movimento para esclarecer a população, com muita tranquilidade nossas posições" Tomada de surpresa pela frustração da esperada vitória no primeiro turno da eleição presidencial, a candidata Dilma Rousseff, do PT, vai, na campanha do segundo turno, intensificar as comparações entre o desempenho do governo Lula e o de Fernando Henrique Cardoso. O objetivo é tornar as eleições uma espécie de plebiscito da gestão Lula. Os petistas acreditam que a comparação lhes é favorável e, por isso, ajudará Dilma a ganhar a disputa.

A petista telefonou ontem para Marina Silva, cujo apoio ambiciona para o segundo turno. Mas nada pediu. Por enquanto foi apenas um gesto de aproximação.

"O segundo turno facilita a confrontação política porque não há elementos de dispersão. Vamos comparar os nossos oito anos com os oito anos do FHC", explicou um participante de uma das reuniões que Dilma teve ontem com integrantes do governo e da campanha, e com deputados, senadores e governadores eleitos e reeleitos no domingo. "Eleição é comparação", acrescentou a fonte.

Outra decisão tomada ontem é procurar a ex-candidata Marina Silva, do PV, que recebeu quase 20% dos votos no primeiro turno, para negociar apoio à Dilma no segundo turno. A tarefa de conversar com ela ficará a cargo dos governadores eleitos do Acre, Tião Viana (PT), e do Rio Grande do Sul (PT), Tarso Genro. Viana foi correligionário de Marina até o momento em que ela deixou o governo Lula e o PT, em agosto de 2009.

Tarso Genro é amigo de Marina desde a fundação do PT, há 30 anos. Ambos fizeram parte da mesma corrente dentro do partido, a Democracia Radical. Ontem, Genro, que esteve em Brasília para participar do encontro dos governadores aliados com a petista, se ofereceu para procurar a ex-candidata do PV. A pelo menos um interlocutor declarou ser tão amigo de Marina quanto é de Dilma.

"Eles são, de fato, muito amigos", atestou um ministro que conviveu com os dois no governo. "Até outro dia a Marina era do PT. É natural que ocorra essa aproximação. Há setores muito próximos a Marina", disse ontem um dos coordenadores da campanha, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP).

A expectativa de petistas e integrantes do governo é que, no segundo turno, Marina não apoie nenhum dos dois candidatos, a exemplo do que fez Heloísa Helena, do PSOL, em 2006. Naquela ocasião, ao optar pela neutralidade, Helena beneficiou o presidente Lula, uma vez que o PSOL tinha surgido de uma dissidência do PT e possuía um eleitorado mais identificado com a esquerda. Quando Lula decidiu atacar as privatizações feitas pelo governo tucano, uma boa parcela dos eleitores de Heloísa Helena teria decidido dar seu voto ao petista.

O comando da campanha do PT sustenta que os "ataques" a Dilma e ao governo Lula promovidos pelo candidato José Serra, do PSDB, uma estratégia que teria se intensificado na reta final da disputa, beneficiou mais a candidata do PV do que o tucano. Isso explicaria o crescimento de Marina nos últimos dez dias da campanha e a queda da candidata do PT, levando a decisão para o segundo turno.

Dilma, explica um aliado da candidata, teve uma "largada espetacular" quando se iniciou a campanha na televisão, em agosto, mas aqueles votos, diz a fonte, ainda não eram consolidados. Os escândalos na Casa Civil envolvendo Erenice Guerra, ex-braço direito da candidata, e os "ataques" da campanha tucana teriam feito esses votos migrarem para a candidata do PV. "A maioria dos votos que foram para a Marina voltam para a Dilma", aposta um dos estrategistas da campanha petista.

O comando de Dilma e a cúpula do governo se surpreenderam com o resultado do primeiro turno. A candidata chegou a ficar abatida no domingo, mas foi reanimada pelo presidente Lula, que lembrou-lhe o fato de ter ido para o segundo turno nas duas vezes em que venceu a eleição presidencial. A avaliação é que o PT e os partidos aliados se saíram muito bem na eleição de domingo, especialmente nas disputas para o Congresso, mas ontem ninguém conseguia esconder a decepção com o fato de Dilma não ter vencido no primeiro turno.

"Surpreendeu porque todas as pesquisas davam vitória da Dilma", reconheceu um ministro ligado à campanha. Por isso, por determinação do presidente , a campanha começou a se movimentar ontem mesmo para a disputa do segundo turno. Partiu de Lula a ideia de chamar a Brasília governadores e parlamentares. A ideia é usar o capital político dos eleitos para ajudar Dilma no pleito do dia 31.

A estratégia, agora, é mostrar o governo Lula, compará-lo ao máximo com o de FHC. "Serra vai ter que assumir o governo de Fernando Henrique", disse um aliado de Dilma. Existem aliados da candidata petista, no entanto, que preferem ver a campanha com menos Lula e mais Dilma. "Tem que personalizar. A comparação agora terá que ser feita entre os dois, Dilma e Serra", opinou um aliado.