Título: Dino rechaça convite de Roseana para aderir
Autor: Camarotto , Murillo
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2010, Políitca, p. A10

Depois uma apuração voto a voto no Maranhão, a governadora Roseana Sarney (PMDB) comemorou, na madrugada de ontem, sua reeleição ao governo do Estado ainda no primeiro turno das eleições. Apenas quando a apuração atingiu 99% dos votos, em torno da 1h30 de segunda-feira, Roseana apareceu na sacada do Palácio dos Leões, sede do governo maranhense, ao lado do vice Washington Luiz (PT), do senador reeleito Edison Lobão (PMDB) e de uma enorme bandeira do PT.

Minutos mais tarde, Roseana conclamou a oposição a se unir a ela. "Eu vou fazer um apelo para que a oposição venha se juntar a nós para fazer com que o Maranhão seja um dos Estados mais desenvolvidos da federação", disse a jornalistas. A resposta veio apenas hoje, durante a entrevista coletiva dada por Flávio Dino (PcdoB), candidato ao governo maranhense que, com até 90% dos votos apurados, disputaria um segundo turno com Roseana. "Fui eleito oposição, e como tal meu papel é o de fiscalizar", disse. "Não há risco de capitulação, composição ou silêncio."

A crença na realização de um segundo turno no Maranhão resistiu até o início da madrugada, quando a apuração ultrapassou 95% dos votos. Flávio Dino chegou a convocar uma entrevista coletiva, depois cancelada, e Jackson Lago (PDT), ex-governador que também disputou o governo, ligou para o candidato do PCdoB para lhe dar os parabéns e garantir seu apoio no segundo turno. Em um hotel, o pessoal de campanha de Dino aguardava o candidato acompanhando a apuração voto a voto. Depois que Roseana atingiu 50,04% dos votos válidos, a equipe começou a deixar o local, na mesma avenida onde passava um combio de carros em direção ao Palácio dos Leões, no centro histórico da capital, para saudar a governadora reeleita.

Somente hoje pela manhã o Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (TRE-MA) finalizou a apuração. Roseana Sarney foi eleita com 50,08% dos votos válidos. Flávio Dino ficou em segundo lugar, com 29,49% e Jackson Lago com 19,54%. Também disputaram o governo maranhense Saulo Arcangelo (PSOL), Marcos Silva (PSTU) e Josivaldo Correa (PCB). Juntos, os candidatos de oposição a Roseana somaram 4.877 votos a menos do que precisariam para levar a disputa ao 2º turno.

Ontem à tarde, Flávio Dino agradeceu os votos dos eleitores, o apoio dos partidos que formaram a coligação "Muda Maranhão" (PCdoB, PPS e PSB) e os prefeitos que o apoiaram no interior. O candidato ainda ressaltou que em São Luís, maior colégio eleitoral do Maranhão e onde Roseana nunca ganhou as eleições, a oposição ao grupo liderado pelo senador José Sarney (PMDB-AP) saiu vencedora. Os votos dados à oposição na capital somaram 57% do total. Dino, que nas eleições de 2008 para prefeito de São Luís obteve 34% dos votos, perdendo para o atual prefeito João Castelo (PSDB), agora alcançou 38% no município.

Durante a campanha , a ida de Roseana ao segundo turno foi alardeada pela oposição como o fim do poder político do clã Sarney no Maranhão, já que, com a oposição unida, o risco de a governadora perder seria maior. O ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB), que perdeu a disputa por uma das duas vagas ao Senado e apoiou Flávio Dino, ainda assim não vê a vitória no primeiro turno como um novo êxito da família Sarney. Segundo ele, mesmo com uma campanha muito mais cara, o apoio do presidente Lula e de boa parte dos prefeitos e o governo estadual em suas mãos, Roseana venceu no primeiro turno por pouco menos de 5 mil votos. José Reinaldo ainda diz que a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a candidatura de Jackson Lago, que foi contestada por descumprir as regras da Lei da Ficha Limpa, foi dada apenas na noite da quinta-feira da semana passada, depois do fim da propaganda eleitoral na TV, o que prejudicou sua votação. "O domínio dos Sarney está chegando ao fim", diz. Dino concorda: "Esta foi a última eleição que a oligarquia venceu."

Procurada pelo Valor, Roseana Sarney, que governará o Maranhão pela quarta vez, não retornou os pedidos de entrevista. Sua coligação obteve as duas vagas ao Senado com a eleição dos peemedebistas Edison Lobão e João Alberto. Dos 18 deputados federais eleitos, 12 são dos partidos de apoio a Roseana, e na Assembleia Legislativa, 31 dos 42 deputados estaduais eleitos fazem parte da coligação.