Título: No Pará, tucano e petista vão disputar o apoio do PMDB
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2010, Política, p. A14

O primeiro turno das eleições para o governo do Pará, que colocou frente à frente no segundo turno a governadora Ana Júlia Carepa (PT) e Simão Jatene (PSDB), terminou à feição para o PMDB local e para seu líder maior, o deputado federal Jader Barbalho. Mesmo tendo ficado surpreendentemente em segundo lugar na disputa por uma das duas vagas no Senado - perdeu por 18 mil votos para o tucano Fernando Flexa Ribeiro -, Barbalho teve 1,8 milhão de votos, apesar de estar com a candidatura indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele deixou claro que vai usar esse cacife para negociar o apoio a um dos dois lados.

Em entrevista ao programa popular "Barra Pesada", da TV RBA, do grupo controlado por sua família, Barbalho foi explícito: "Quem vai decidir a eleição no Estado é o PMDB e, particularmente, o total de 1,8 milhão de votos que eu tive", afirmou. Barbalho está desde ontem negociando com Ana Julia e Jatene para decidir de que lado fica seu partido, ao mesmo tempo em que concentrará esforços em Brasília, para onde viaja hoje, na tentativa de conseguir que o Supremo Tribunal Federal (STF) declare que a Lei da Ficha Limpa não vale para as eleições deste ano, decisão que validará seus votos, permitindo seu retorno ao Senado em 2011, dez anos após sair pela porta dos fundos.

O atual deputado renunciou ao mandato de senador em 2001, quando presidia o Senado, para evitar a cassação do mandato, sob acusação de envolvimento em irregularidades na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Barbalho disse que o fato de o presidente do STF, Cezar Peluso, não ter usado a prerrogativa de desempatar a votação do recurso do ex-governador de Brasília Joaquim Roriz contra a Ficha Limpa indica que a lei não deverá ser considerada válida para as eleições deste ano.

Barbalho afirmou que sua votação só não foi maior - esperava cerca de 50% dos votos e teve menos de 30% - porque foi vítima de uma "campanha institucional" que chamou de "perversa", referindo-se às declarações de ministros do TSE de que os votos nos candidatos impugnados seriam considerados nulos. Preparando terreno para as negociações no Estado, o deputado disse que se o PMDB não tivesse lançado candidato, o PSDB teria ganho no primeiro turno. O candidato do PMDB a governador, Domingos Juvenil, teve 10,81% dos votos válidos.

Jatene e Ana Julia disseram que tentarão um acordo com o PMDB. O tucano, que ficou com 48,92% da votação, ligou para parabenizar Barbalho por sua votação. Para o tucano, "há uma ponte concreta" entre o PSDB e o PMDB, em função do resultado das urnas que, para Jatene, mostrou que quase dois terços do eleitorado paraense rejeitam o governo petista . O candidato do PSDB disse que o fato de José Serra ter alcançado o segundo turno na disputa presidencial vai lhe ajudar na disputa paraense.

Ana Julia afirmou que vai discutir com os partidos que não passaram ao segundo turno (além do PMDB, PSOL e PSTU tiveram juntos 4,22% dos votos para o governo) e até incluir no programa de governo propostas desses candidatos. Ela citou o programa Mães do Pará, proposta de Juvenil para construir unidades de referência em saúde no Estado. A petista queixou-se de que os números desfavoráveis das pesquisas lhe tiraram votos e ajudaram seu adversário e disse que a reação final veio de vários fatores, entre eles a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Pará, no dia 16 de setembro.

Para o cientista político Edir Veiga, da Universidade Federal do Pará (UFPA), a presença de Lula, a mobilização do PT e o esforço da máquina do governo explicam a reação de Ana Júlia na reta final. Veiga coordenou uma das pesquisas que davam a vitória de Jatene no primeiro turno (55,7% dos votos válidos, contra 30,1% de Ana Júlia). Segundo ele, a pesquisa, realizada entre os dias 24 e 28, não captou a reação final da governadora. Ele acha que o tucano sai na frente na disputa do segundo turno, entre outros fatores, pela votação maior que teve e pelas dificuldades que prevê no diálogo entre PT e PMDB, dois ex-aliados recentes.