Título: Mudança pautará discurso no Amapá
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2010, Política, p. A14
Sob o efeito da prisão do governador Pedro Paulo Dias (PP) e do ex-governador Waldez Góes (PDT) em 10 de setembro na operação Mãos Limpas, da Polícia Federal, o segundo turno das eleições no Amapá será uma disputa sobre quem mais representa a mudança em comparação ao atual governo. Concorrem Lucas Barreto (PTB) e Camilo Capiberibe (PSB), ambos com campanhas contrárias ao grupo que esteve no comando do Estado nos últimos oito anos. Waldez governou por dois mandatos seguidos e saiu neste ano para concorrer ao Senado. Waldez e Pedro Paulo, que tentava a reeleição, são alvos de inquérito da PF que investiga desvio de verbas públicas de pelo menos R$ 300 milhões e ficaram em quarto lugar nas urnas.
Lucas, que obteve 28,83% dos votos em disputa apertada com Camilo, com 28,68%, tenta barrar a volta dos Capiberibe ao poder. "Não queremos a volta do passado nem o presente", diz. O clã dos Capiberibe é liderado por João Capiberibe (PSB), pai de Camilo e governador entre 1995 e 2002. Ele foi eleito para a segunda vaga ao Senado e ainda aguarda decisão da Justiça, que decidirá se ele perdeu os direitos políticos em 2004 por compra de votos. A mulher do ex-governador, Janete Capiberibe (PSB), foi reeleita como deputada federal e está na mesma situação do marido.
Ex-deputado estadual por três mandatos e criador de peixes e gado, Lucas já foi do grupo de Waldez. Brigou com o então governador em 2005 ao denunciar fraude e migrou para o PTB. Seu discurso mistura a defesa do choque de gestão na máquina com uma visão mais à esquerda. "A população do Amapá precisa de um governo de esquerda", disse Lucas na quarta-feira. A opção deve-se aos baixos índices de desenvolvimento humano no Estado, que sofre com péssimos serviços de saúde e de educação e tem 80% da população abaixo da linha da pobreza.
Camilo Capiberibe terá como estratégia para reafirmar a candidatura da mudança fazer ataques ao ponto fraco de Lucas, a contratação do concorrente por ato secreto no gabinete de José Sarney (PMDB), senador pelo Amapá. "A grande diferença entre nós é que eles são o palanque do José Sarney", diz Camilo. Com grande poder político quando mudou seu domicílio eleitoral do Maranhão para o Amapá, em 1990, Sarney hoje é rejeitado pela população. Lucas não desmente o cargo, afirma que foi indicado pela bancada federal do Estado para ajudar a resolver dívidas de prefeituras com a União. O candidato do PTB trabalhou com Sarney por um ano, até 2008, ano em que saiu para concorrer a prefeito de Macapá.
Camilo também não rejeitará apoios, exceto do PMDB de Sarney, inimigo dos Capiberibe. Os dois candidatos buscarão alianças que incluem o PP de Pedro Paulo e o PDT de Waldez. Para evitar vinculação aos dois políticos, buscarão as lideranças dos partidos separadamente.
No Estado que deu mais votos proporcionalmente ao presidente Lula nas eleições de 2002 e de 2006, a candidata Dilma Rousseff (PT), obteve a maior votação, de 47,38%. O percentual foi menor que o de Lula. Em 2006, o presidente recebeu 54,4% dos votos. Em 2002, ficou com 49,9%. A surpresa ficou por conta do desempenho de Marina Silva (PV), que recebeu 29,17% dos votos. José Serra (PSDB) teve 21,36%.
A exceção em relação ao efeito da operação da PF sobre as eleições foi Marília Góes (PDT), segunda deputada estadual mais votada no Estado. Mulher de Waldez, Marília também foi presa pela PF.