Título: Pará terá segundo turno entre PT e PSDB
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A23
Contra os resultados de todas as pesquisas, vai haver segundo turno na disputa para o governo do Pará, segundo maior Estado brasileiro. A governadora Ana Julia Carepa, do PT, candidata à reeleição, conseguiu evitar a vitória no primeiro turno do favorito Simão Jatene , do PSDB. Jatene manteve-se acima dos 50% dos votos válidos durante a maior parte da apuração, o que lhe daria a vitória, mas na reta final começou a perder força enquanto a governadora reagia. Às 00h27, 99,26% das urnas apuradas, Jatene tinha 48,98% dos votos válidos e Ana Julia, 36%.
Na disputa pelo segundo turno deverá ser decisiva a posição do PMDB, do deputado federal Jader Barbalho, candidato ao Senado cuja votação não foi divulgada junto com os demais votos porque sua candidatura está indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Barbalho concorreu graças a um recurso a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Uma das vagas para o senado provavelmente será do tucano Fernando Flexa Ribeiro.
Com cerca de 1,8 milhão de votos, votação superior à de Jatene para o governo, Flexa Ribeiro já era senador antes, tendo assumido a cadeira na condição de suplente do atual prefeito de Belém, Duciomar Costa, quando este deixou o Senado em 2005 para assumir a prefeitura. O grande derrotado para o Senado foi o deputado federal Paulo Rocha (PT), que também concorreu com recurso ao STF e não teve seus números divulgados até o fechamento desta edição. No primeiro turno da disputa para o governo do Pará, o PMDB optou pelo lançamento de candidato próprio, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Domingos Juvenil, cuja votação superou o previsto na última pesquisa do Ibope (8%), alcançando quase 11% do total. Para analistas, como os cientistas políticos Romero Ximenes, Edir Veiga e Roberto Correa, todos da Universidade Federal do Pará, a candidatura de Juvenil fazia parte de uma estratégia de Barbalho para negociar em condições favoráveis o apoio do PMDB a um dos candidatos no segundo turno.
As pesquisas divulgadas nos dois dias que antecederam a votação previam a vitória de Jatene no primeiro turno. Na sexta-feira, uma pesquisa conjunta da UFPA com o local Instituto Veritate dava 55,7% dos votos válidos para o tucano, contra 30,1% pata a petista. E, no dia seguinte, o Ibope previu que Jatene teria 53% dos votos válidos, contra 32% que seriam dados a Ana Julia. Às 23h30, com a votação praticamente encerrada, a governadora tinha 36% dos votos, contra 49% de Jatene.
A diferença entre os números das pesquisas e os efetivamente apurados pode ser explicada pelas dimensões territoriais do Pará. O segundo maior Estado do Brasil (depois do Amazonas) tem dificuldades de acesso em muitas regiões e, por isso, exibe um histórico de erros das pesquisas eleitorais. No sábado, o PT divulgou um texto relatando casos de erros no passado, inclusive em 2006, quando Ana Julia se elegeu, reafirmando a confiança na realização do segundo turno. Ontem, não foi divulgada pesquisa de boca de urna no Estado.
Diante das desvantagens nas pesquisas, o PT acelerou seu esforço de campanha nos dias que antecederam o pleito, na tentativa de criar uma "onda vermelha" no Estado. Outro esforço do partido do governo estadual foi recomendar formalmente o segundo voto para o senado em Barbalho, do PMDB, manobra que poderia tanto dar frutos no primeiro turno como facilitar uma aliança com o deputado no segundo turno. Jatene também já vinha pedindo votos para Barbalho.
A governadora Ana Júlia votou ontem de manhã em uma escola do bairro de Nazaré, na região mais rica da capital, com o reforço da companhia do ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha. Embora não seja paraense, Padilha vota em Santarém, uma das maiores cidades do interior do Estado e aproveitou para dar apoio a Ana Júlia antes de retornar a Brasília. O ministro apelou para que os eleitores dessem um segundo mandato à governadora, dizendo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também precisou de um segundo mandato para realizar seus projetos. Especialmente em Belém, há uma visão muito difundida de que a governadora tem uma gestão de poucas realizações.
Jatene votou um pouco antes da governadora no bairro de Umarizal, também na zona mais rica de Belém, e, apesar de uma postura cuidadosa, demonstrou uma expectativa grande de vitória, declarando "enorme gratidão pela forma amorosa" com que disse ter sido tratado pela população.
Barbalho, que votou em uma região mais pobre do bairro de São Brás, chegou a dizer que seria "o senador mais votado" da eleição de ontem, apesar de as pesquisas finais terem mostrado uma queda dos seus números. O deputado renunciou à sua cadeira no Senado em 2001 para evitar ter seu mandato cassado sob acusação de envolvimento com desvio de verbas da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Rocha, do PT, que também renunciou ao mandato de deputado em 2005 para não ser cassado em meio ao escândalo do "mensalão", disse que sua queda nas pesquisas (ele estava na frente de Flexa) foi causada pelo indeferimento da candidatura, que teria sido aprovado pelos adversários.
A eleição no Pará, com a presença de tropas federais em 106 dos 143 municípios, transcorreu com tranquilidade, não havendo até o final desta edição registro de incidentes graves, segundo o TRE-PA. Até pelo menos as 20h, entretanto, três horas após o término oficial da votação, ainda havia eleitores votando em pelo menos três locais. Em Belém, a eleição atrasou na zona eleitoral nº 97, na Escola Maria Luiza (bairro de Bengui). E em Ananindeua, cidade da região metropolitana da capital, a votação se estendeu em dois locais da zona eleitoral nº 98. O TRE-PA informou ainda que foi necessário haver voto manual na zona eleitoral nº 29, seção 112, no bairro de Guamá, periferia de Belém.