Título: Viana alcança vantagem apertada no Acre
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Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A23

A apuração das urnas no Acre mostrou uma disputa acirrada entre os candidatos Tião Viana, do PT, e Tião Bocalom, do PSDB, e colocou em xeque a hegemonia da família Viana e da Frente Popular, comandada pelo PT, no Estado. Desde o início da contagem dos votos os dois candidatos apareceram lado a lado na escolha dos 470 mil eleitores do Estado, com chances de vitória.

Às 22h56, com 97,8% das urnas apuradas, Tião Viana tinha 50,38% dos votos e Tião Bocalom, 49,31%. A manutenção desses percentuais ao final da apuração daria vitória a Viana no primeiro turno. O candidato do PRTB, Antônio Gouveia, conhecido como Tijolinho, aparecia com 0,31%. Com uma hora a menos em relação a Brasília, por causa do fuso horário, o Acre deve ser o último Estado a terminar a contagem dos votos.

O resultado apertado surpreendeu o grupo político de Tião Viana, conhecido como Frente Popular, que reúne 14 partidos e está há três mandatos consecutivos no governo estadual. Pela manhã, ao votar, Tião contava com a vitória já no primeiro turno, baseado no resultado de pesquisas eleitorais.

Segundo levantamento do Ibope, divulgado na noite de sábado, o petista poderia vencer no primeiro turno com 56% dos votos válidos. Na pesquisa, o candidato tucano tinha 42%.

Procurados, os candidatos ao governo do Estado não quiseram se manifestar antes do fim da apuração das urnas.

A disputa pelas duas vagas do Senado também mostrou o candidato do governo e o da oposição concorrendo lado a lado. Jorge Viana (PT), ex-governador do Estado, tinha 31,73% dos votos, seguido pelo deputado Sérgio Petecão (PMN), com 30,98%. De acordo com esse resultado, os dois já estão eleitos. Em terceiro lugar aparecia Edvaldo Magalhães (PCdoB), com 19,04%. João Correia, do PMDB, aparecia em quarto lugar, com 18,24% dos votos.

O resultado mostrou problemas na Frente Popular, que apostava em uma vitória folgada de Tião Viana, uma das maiores votações proporcionais do país para Jorge Viana e a conquista das duas vagas para o Senado, com Jorge e Edvaldo Magalhães.

Petecão, ex-aliado político de Jorge Viana, é conhecido no Acre por práticas assistencialistas. Petecão é famoso por oferecer ônibus que transportam famílias carentes a enterros, jogos e excursões.

As três disputas anteriores pelo governo do Estado, quando a Frente Popular ganhou as eleições, foram menos acirradas. Em 1998, Jorge Viana venceu por 57,7% dos votos seu concorrente Alércio Dias, que teve 26,2%. Na eleição seguinte, Viana reelegeu-se com 63,5%, derrotando Flaviano Melo (PMDB), com 33,6%. Na passada, Binho Marques, indicado pelos Viana para concorrer, ficou com 53,05%, à frente de Marcio Bittar, então do PPS, com 35,12% dos votos e de Tião Bocaolm, com 11%.

Na eleição para a Assembleia Legislativa, o quadro é mais favorável à Frente Popular, que deve eleger cinco dos oito deputados. Os dois mais votados, no entanto, devem ser o principal quadro da oposição, Marcio Bittar (PSDB), e o ex-governador e deputado Flaviano Melo (PMDB).

No Acre, os principais quadros da oposição já estiveram junto ao governo, na Frente Popular. Tanto Petecão quanto Bocalom estiveram do mesmo lado político dos irmãos Viana. Petecão foi presidente da Assembleia Legislativa no mandato de Jorge Viana como governador e Bocalom foi secretário do governo estadual, na gestão da Frente Popular. A Frente, com partidos como o PT e o PV, foi construída pela então petista Marina Silva , candidata do PV à Presidência, os irmãos Viana e Binho Marques, governador do Estado, entre outros expoentes.

A eleição de 2008 já mostrou a dificuldade da Frente. O atual prefeito, Raimundo Angelim (PT), disputou com Petecão e ganhou por uma diferença de votos inferior a 1%.

O resultado da disputa nacional no Acre surpreendeu também petistas e aliados de Marina Silva (PV). No Estado em que a candidata do PV se projetou politicamente no cenário político nacional e internacional, José Serra (PSDB) estava à frente, com 52,2% dos votos, com 98% das urnas apuradas. Dilma Rousseff (PT) tinha 23,7% e Marina Silva, 23,6%.

No Acre, a compra de votos continua sendo uma prática comum, segundo o procurador regional eleitoral, Fernando José Piazenski. Antigamente a prática mais frequente era a entrega de camisetas enroladas em cédulas de dinheiro. Hoje, é a distribuição gratuita de gasolina, a "contratação" para trabalhar no dia da eleição e a compra de voto em lista: uma pessoa organiza uma lista com dez nomes, por exemplo, recebe dinheiro e distribui a eles em troca do voto. "Isso só vai acabar quando a população se conscientizar que o voto é secreto. O eleitor pode até receber o dinheiro, não só de uma pessoa, mas de várias, só não precisa votar em quem foi indicado. Isso vai fazer com que essa prática acabe sozinha", considerou o procurador eleitoral.

De acordo com balanço divulgado na noite de ontem pela Polícia Federal, quatro pessoas foram presas no Estado por transportar eleitores e por compra de votos e 44 pessoas foram detidas por fazer boca de urna, entre elas dois candidatos a deputado estadual. Um cabo eleitoral foi preso ao entregar um santinho junto com R$ 10 para um eleitor em Senador Guiomar, no interior. Foram recrutados 162 policiais para acompanhar a eleição no Estado. Ontem a PF recebeu dezenas de denúncias de práticas ilícitas. Só na capital foram 91 denúncias.