Título: Nos Estados, eleitorado que vai ao 2º turno cai para 14%
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2010, Política, p. A11
A corrida para os governos estaduais, neste ano, aprofundou fortemente a tendência de disputas rápidas, decididas no primeiro turno. Eleitores de apenas nove Estados voltarão ao segundo turno, o menor número desde 1990, quando começou a vigorar a necessidade de maioria absoluta dos votos nas eleições para governador. Em 1994, o número foi o dobro, 18 Estados, que reuniam 77,75% do eleitorado nacional. Agora, apenas 14% dos eleitores brasileiros terão de ir às urnas, em 31 de outubro.
Mais até do que o declínio no número de Estados, é essa queda percentual que representa uma acentuação abrupta do fenômeno de esvaziamento progressivo do segundo turno nas corridas estaduais.
Se antes a redução estava se dando em torno de dez pontos percentuais a cada eleição - de 77,75%, em 1994, caiu para 61,02%, em 1998, para 53,39%, em 2002, e quatro anos depois para 41,44% - agora, o declínio foi muito mais forte, de 27,44 pontos percentuais.
Curiosamente, no grupo cada vez menor de Estados que prorrogam a competição, quase todos são frequentadores assíduos do segundo turno. Das nove unidades da Federação que terão eleição em 31 de outubro, oito são campeãs de volta às urnas. O Pará, hors concours, irá pela sexta vez, ou seja, nunca conseguiu definir uma eleição no primeiro turno, desde 1990. No Estado, o favorito Simão Jatene (PSDB) quase quebrou a tradição, mas ficou com 48,92% dos votos e terá de enfrentar novamente a governadora petista Ana Julia Carepa.
Amapá, Paraíba, Rondônia e Roraima vêm em seguida e deixaram de levar a competição para a segunda etapa em apenas uma oportunidade. Distrito Federal, Goiás e Piauí continuam a disputa pela quarta vez em seis eleições. Alagoas é o único "intruso" no grupo: estica a corrida estadual apenas pela segunda vez. O ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) e o atual Teotônio Vilela (PSDB) disputam em 31 de outubro.
A história eleitoral dos Estados põe em lado opostos dois vizinhos: enquanto o Pará está sempre postergando a decisão, o Amazonas, junto com o Mato Grosso, é o mais apressado em definir o resultado. Ali, o governador sempre foi conhecido no primeiro turno.
A formação de rápidas maiorias, que atingiu seu ápice neste ano, tem explicações tanto estruturais - de arranjos na política nacional -, quanto locais, ligadas à correlação de força e à trajetória da política estadual.
Em 2010, houve a divisão dos quatro maiores partidos em duas frentes, de modo bem mais definido que em eleições anteriores. A aliança nacional entre PMDB e PT, de um lado, e de PSDB e DEM, do outro, contribuiu para acelerar a polarização e minimizar o espaço para uma terceira via - o que ocorreu, de forma surpreendente, na corrida presidencial, na qual Marina Silva (PV) rompeu a disputa que se esperava plebiscitária.
O esvaziamento ou a reincidência do segundo turno nas eleições estaduais também são explicados pelas circunstâncias da política local. No Amazonas, o longo domínio de personagens oriundos de um mesmo grupo político, fundado no início da redemocratização por Gilberto Mestrinho, costuma ser considerada a razão para a tendência do Estado em decidir rapidamente o eleito.
Já no Pará, essa hegemonia foi quebrada. Como lembra o professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Romero Ximenes, o Estado era dominado amplamente pelo PMDB, desde 1982. Até que em 1994, o PSDB desafiou a hegemonia e obteve três vitórias seguidas para governador.
"Os tucanos derrubaram essa hegemonia, mas foi sempre com muita dificuldade", conta Romero Ximenes.
O professor ressalta que, em 2006, o fortalecimento de um terceiro partido, com a eleição de Ana Julia, do PT, que teve o apoio do cacique pemedebista Jader Barbalho, ajudou a embolar mais a disputa estadual. Neste ano, Jader - que concorreu ao Senado, mas cujos votos estão impugnados - decidiu lançar um candidato próprio ao governo, Domingos Juvenil, que obteve 10,81%. Estes votos serão o fiel da balança no segundo turno entre petistas e tucanos.