Título: PMDB deixa mágoas de lado e pede empenho
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Fonte: Valor Econômico, 07/10/2010, Política, p. A12
Com o compromisso da candidata a presidente Dilma Rousseff (PT) de mais participação e visibilidade do PMDB no segundo turno, os dirigentes nacionais do partido convocaram ontem seus eleitos e não eleitos a deixar de lado mágoas do primeiro turno e se engajar na campanha - muito mais para levar o presidente do partido, Michel Temer à Vice-Presidência da República. Nos discursos inflamados, o tom era de afirmação frente ao PT. Aos derrotados, o recado claro: somente no poder o partido poderá ajudá-los no futuro. "Essa é a hora de nosso partido se afirmar. (...) Não aceitamos essa história de campanha só para um partido ganhar. Ou ganhamos todos juntos, ou perderão aqueles que se julgam donos do voto do povo desse país", afirmou o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, no discurso mais forte do encontro do partido, em um hotel de Brasília.
"Agora é ir para a rua, vencer e deixar discussões outras para depois", disse, por sua vez, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB), admitindo "mágoas" com o abandono de sua candidatura por Dilma e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A própria Dilma cuidou de amaciar o baiano. Ontem pela manhã, o recebeu por cerca de uma hora. Temer, que na véspera já tinha obtido de Dilma compromisso de mais poder ao partido na campanha, participou. A candidata comprometeu-se a dar tratamento especial a Geddel - e sinalizou espaço no governo. O primeiro evento na Bahia já foi marcado para amanhã.
Enquanto a cúpula pemedebista se revezava com discursos conclamando a militância a sair às ruas, candidatos derrotados em 3 de outubro mostravam abatimento e desânimo com a campanha. Era queixa unânime que o PT "passou o trator" nos Estados para eleger a maior bancada na Câmara - com o objetivo de ganhar a presidência da Casa. Alguns do Ceará diziam que o Banco do Nordeste foi pródigo em distribuir empréstimos. Do Pará, outros afirmavam que o Incra foi usado para cooptar aliados. Todos questionavam de onde virão os recursos para a campanha. "Do meu bolso, não será", ouvia-se.
Candidatos ao governo que não contaram com a presença de Dilma e do presidente Lula em seu palanque, como o governador Carlos Gaguim (TO), derrotado na disputa à reeleição, ou que enfrentaram problemas com o PT local, como o senador Hélio Costa (MG), que também perdeu a eleição, mostravam abatimento. "Estou mudo", disse Costa, já na saída. "O jogo foi pesado", disse Gaguim.
Todos, no entanto, prometem engajamento total na campanha. "Não confundam o PT com uma pessoa", afirmou Costa, tentando, sem citar nomes, situar sua divergência com o PT de Minas na figura do ex-prefeito Fernando Pimentel (PT), candidato a senador também derrotado.
Embora a cúpula do PMDB exaltasse uma suposta unidade partidária em torno da chapa Dilma-Temer, as ausências de dissidentes como o governador reeleito André Puccinelli (MS), o senador Jarbas Vasconcelos (PE) e o ex-governador Luiz Henrique (SC), eleito senador, que apoiam a candidatura de José Serra (PSDB) a presidente, lembravam que as divisões ainda existem.
"Não consigo admitir, engolir, que o PMDB de corpo e alma vá preferir eleger, com todo o respeito, Índio da Costa (DEM) vice-presidente, quando o presidente nacional do nosso partido pode, deve e vai ser", disse Henrique Alves.
O deputado disse que o partido deveria fazer um "mea culpa" pelas divergências históricas entre bancadas da Câmara e do Senado, citando os senadores presentes, como Romero Jucá (RO) e Renan Calheiros (AL). Ambos usaram o mesmo tom de convocação à militância. "O PMDB está compartilhando esse projeto de poder e quer, sim, ocupar todos os espaços desse projeto de poder".
Temer, que relatou no discurso ter o compromisso de Dilma em dar poder ao PMDB na campanha, fez um apelo pessoal. "O PMDB, com essa qualificação, esse tamanho, não pode perder a eleição. Por isso, eu peço: levem-me à Vice-Presidência, ao lado da companheira Dilma Rousseff."
A necessidade de unir esforços para tentar eleger Dilma e Temer faz com que o PMDB não demonstrasse publicamente insatisfação com a escolha do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) como um dos coordenadores da campanha. Reservadamente, no entanto, revelam descontentamento. O PMDB é o partido mais criticado por Ciro, um crítico do que chama de "frouxidão moral" da hegemonia da coligação PT-PMDB. Lideranças do PMDB do Nordeste diziam que, em seus Estados, Ciro não vai coordenar nada.
O PMDB conta com um dirigente na coordenação-geral da campanha. Moreira Franco, que deixou a vice-presidência da Caixa Econômica Federal para dedicar-se integralmente à disputa eleitoral, participa das reuniões desde terça-feira.
Um dos maiores alvos dos ataques de Ciro Gomes no PMDB, o deputado Eduardo Cunha (RJ) admitiu que tem problemas pessoais com o Ciro. Mas reagiu com pragmatismo. "Não estamos aqui para discutir relacionamentos com A, B ou C. O PMDB quer participar da campanha e discutir os rumos dela, independente de hierarquias de comando", resumiu. (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)