Título: Assembleia quer compromisso por escrito de Dilma
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2010, Especial, p. A16
Em busca do voto evangélico, a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, fez ontem a primeira carreata do segundo turno. E começou por Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Na cidade, com mais de 500 mil eleitores, Marina Silva (PV) foi a segunda mais votada, com 27,91%, enquanto José Serra (PSDB) ficou com 15,81%.
Apesar de ter atingido 54,38% dos votos válidos na cidade, a queda de braço com os evangélicos da Baixada Fluminense não será fácil. O deputado eleito Áureo (PRTB), da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, afirma que Dilma precisará se posicionar.
"Ela tem que se reunir com os pastores, com a nova bancada evangélica e assinar uma carta de compromisso sobre as questões polêmicas", disse referindo-se ao aborto ou ao Plano Nacional de Direitos Humanos. Áureo sugere até que Dilma trabalhe em conjunto com as igrejas evangélicas, criando um programa de recuperação de drogados. "Podemos dividir a tarefa com as igrejas", diz, o que daria mais poder político aos pastores nas comunidades.
Outro importante representante da bancada evangélica fluminense, o ex-prefeito de Caxias e agora deputado federal, eleito com o maior número de votos na cidade, Washington Reis conta que são mais de 300 mil evangélicos na região e que, por isso, os coordenadores da campanha de Dilma no Rio pretendem levar a candidata petista a um grande encontro de pastores.
Nomes importantes estão sendo convocados para o encontro. É o caso de Samuel Malafaia (PR), terceiro deputado estadual mais votado no Estado, com 134 mil votos. Samuel é irmão do pastor Silas Malafaia, também da Assembleia de Deus, que tem um programa de televisão no qual prega contra os direitos civis dos homossexuais, por exemplo.
Há também o Apóstolo Joel, do Projeto Vida, de Volta Redonda, um dos grandes responsáveis pela vitória de Marina na região, ou o apóstolo Valdemiro Santiago dissidente da Igreja Universal e que fundou a Igreja Mundial do Poder de Deus, com 1,4 mil templos em todo o Brasil.
Prevista para durar cinco horas e percorrer Duque de Caxias, Belford Roxo, São João de Meriti e Nova Iguaçu, a carreata com Dilma, o governador Sérgio Cabral (PMDB), o senador eleito Lindberg Farias (PT), o senador Marcelo Crivella (PRB), o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani (PMDB), e outros políticos fluminenses durou pouco mais de uma hora e percorreu 10km por bairros pobres e pelo centro da cidade de Caxias. Segundo o vice-governador Luiz Fernando Pezão, Dilma gostou do evento e pediu para marcar outros.
Caxias tem o oitavo maior Produto Interno Bruto (PIB) municipal do país (R$ 28,143 bilhões) e o segundo do Estado, segundo dados do IBGE, em função da produção de petróleo. Ao passar pelas ruas, Dilma viu muitas moradias precárias, valões e esgoto a céu aberto. Mesmo assim, os moradores estavam nas portas de suas casas acenando com bandeirinhas que eram distribuídas. Muitos atraídos pela presença de Lindberg, principalmente as mulheres que, quando o viam passar, gritavam "Lindinho".
Logo que chegou, Dilma prometeu: "Eu quero começar [a campanha] por aqui [Baixada] porque nós iremos priorizar duas questões, que são o tratamento de água e o esgotamento sanitário", disse. Depois, prometeu uma UPP para a região.
Sobre o voto evangélico, não falou. "Começo [a campanha do segundo turno] tranquila porque aqui no Rio nós temos uma parceria muito bem sucedida no governo federal, governo estadual e prefeituras", disse Dilma. (Colaborou Juliana Ennes)