Título: Para Lula, sempre há jogo sujo na reta final
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2010, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, no Rio, que sempre há "jogo sujo" na fase final de campanhas eleitorais e que já foi vítima de artifícios dos adversários em outras disputas. Lula afirmou, ao ser perguntado sobre as acusações de que a candidata petista Dilma Rousseff seria favorável ao aborto, que "o que não se pode é priorizar o secundário".

"Sempre tem gente fazendo política suja. A Dilma tem um programa, pode comprovar o que fez", disse, afirmando que a candidata não apoia o aborto. "Duvido que tenha um pastor que tenha que agradecer a alguém mais do que a mim pela liberdade religiosa", acrescentou, depois de participar de visita ao novo prédio do Cenpes, o centro de pesquisas da Petrobras.

Na reta final das eleições surgiram notícias, depois desmentidas pela campanha de Dilma, de que a candidata seria favorável ao aborto. Analistas afirmaram que o apoio de segmentos religiosos foi fundamental para a arrancada de Marina Silva, do PV, o que acabou provocando o segundo turno entre Dilma e o tucano José Serra.

Lula mostrou-se otimista em relação às chances de Dilma e lembrou que 67% dos eleitores votaram em mulheres para a Presidência no domingo, em Dilma ou em Marina. "O povo optou por votar em mulher. E como agora tem um homem e uma mulher, acho que a mulher pode levar vantagem", ponderou. "Acho que boa parte desses votos [em Marina] pode ir para a companheira Dilma."

Mais cedo, Lula fez um discurso em tom de despedida - no qual evitou falar de política -, ao inaugurar em Angra dos Reis a plataforma P-57, da Petrobras, que será enviada para o campo de Jubarte, no Espírito Santo. A politização do evento - organizado pela Petrobras - ficou por conta dos sindicalistas presentes, que manifestaram apoio à petista.

As únicas referências ao processo eleitoral feitas por Lula foram ao parabenizar a reeleição de Sérgio Cabral ao governo do Rio e à atuação do governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), presente ao evento, que conseguiu eleger o aliado Renato Casagrande com mais de 80% dos votos.

Lula brincou que, quando chegar o fim de seu mandato, não vai querer entregar a faixa presidencial. "No dia 31, quando der meia-noite, eu ainda não vou entregar a faixa. Estou pensando em colar a bichinha na barriga, com uma cola daquelas que não larga, e sair correndo", brincou o presidente.

Em discurso de 25 minutos, o presidente disse que, quando entregar a faixa presidencial, terá a convicção de ter feito um mandato republicano. Afirmou que jamais deixou de atender a algum prefeito ou governador devido ao partido político a que pertence. "Não é assim que eu faço política. Eu tenho divergência com muita gente, mas, como presidente, eu não sou o meu partido, eu sou o presidente de 190 milhões de brasileiros e eu trato todo mundo em igualdade de condições", disse.

Sérgio Cabral não tratou da sucessão presidencial, mas comparou os oito anos de Lula a governos anteriores. "Precisou entrar um companheiro de vocês na Presidência da República, um metalúrgico, para voltarmos a construir uma usina, após 30 anos sem uma nova siderúrgica", disse.

O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, fez um agradecimento à orientação do presidente de elevar o percentual de conteúdo nacional das plataformas e navios a serem usados pela estatal e de retomar a indústria naval nacional.

Este foi justamente o mote utilizado pelo presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore, Ariovaldo Rocha, em seu discurso. "Somos gratos, presidente Lula, principalmente, por resgatar a esperança que andava adormecida nesse país. Queremos lembrar a todos que tenham consciência, tenham relevância, uma preponderância, no dia 31 de outubro, sigam aquilo que está acontecendo no Brasil. Não entrem em desafio, porque já ouvi governos anteriores dizendo "para quê construir navios no Brasil, se eu posso importar mais barato?" (...) Senhores, fiquem com Deus, e sucesso no dia 31."

O coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antonio de Moraes, foi bem mais explícito e pediu, aos trabalhadores presentes, que não voltem atrás. "Estamos em momento central da nossa história, porque novamente aqueles que pensavam assim põem a cabeça para fora e querem retomar o retrocesso no nosso país. Temos o desafio de dizer que o Brasil não aceita mais voltar atrás", disse.