Título: Tucano promete rever Belo Monte ao receber apoio de Gabeira e Feldmann
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2010, Política, p. A6

Um dia depois de a terceira colocada nas urnas, Marina Silva, e o PV optarem pela neutralidade no segundo turno da disputa presidencial, Fernando Gabeira, uma das principais lideranças do partido, e Fabio Feldmann declaram apoio à candidatura de José Serra (PSDB). Gabeira teve apoio dos tucanos em sua campanha pelo governo do Rio de Janeiro parte dos custos de sua candidatura bancada pelo partido de Serra. Feldmann, candidato do PV ao governo de São Paulo, foi o sétimo fundador do PSDB e mantém sua ligação histórica com o partido, apesar de ter-se filiado ao PV. Ambos foram derrotados nas disputas estaduais.

Serra elogiou Gabeira como um dos principais quadros políticos de sua geração e Feldmann como um "dos líderes do ambientalismo do Brasil".

Ao receber o apoio de integrantes do PV, Serra incorporou em seu discurso temas como a "sustentabilidade do desenvolvimento econômico" e criticou a hidrelétrica de Belo Monte, uma das principais obras de infraestrutura do governo federal. A hidrelétrica e o cumprimento das condicionantes ambientais da obra foram citadas por Marina e pelo PV nas propostas apresentadas aos candidatos que disputam o segundo turno e a cortejam em busca de apoio. Ontem, Serra declarou que o projeto tem de ser refeito. "Há muitas exigências ambientais que, no final, são atropeladas e acaba-se embarcando em um projeto caríssimo, cujas consequências nós não temos muita ideia, mas sabemos que são ruins". O tucano afirmou que, se eleito, pretende criar uma "obsessão" no país pela economia de energia elétrica.

Junto a Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também acenou aos integrantes do PV e às propostas apresentadas por Marina aos candidatos, ao propor que o Código Florestal, em tramitação no Congresso, não seja alterado, de forma a dar anistia a desmatadores. "Podemos aceitar para cada bioma regras específicas, o que é racional, mas não podemos concordar que se mude o Código Florestal", declarou ontem.

O ex-presidente atacou a candidata do PT, Dilma Rousseff, e disse que ela representa um modelo equivocado de crescimento. "A visão antiga, do crescimento a qualquer preço, quem encarna é a Dilma. É o produtivismo, de fazer crescer, crescer, crescer", disse FHC. "O Brasil vai crescer, a questão é outra. Vamos ter uma sociedade decente ou vamos ter uma sociedade em que alguns são ricos e cresceram muito?", questionou.

Os tucanos dividiram com integrantes do PV um palanque improvisado no comitê de campanha de Feldmann. O candidato do PV derrotado na disputa por São Paulo não só declarou o apoio a Serra por conta de "afinidades" na questão ambiental, mas também criticou a candidata do PT, Dilma Rousseff. "A adversária de José Serra tem muita dificuldade de compreender o que é sustentabilidade e desenvolvimento sustentável", disse Feldmann.

Gabeira evitou as críticas ao governo federal e à candidata petista, mas disse que "não é segredo" sua predileção por Serra "desde o primeiro turno". O integrante do PV já gravou um depoimento para ser exibido na propaganda política de Serra na televisão. Ao discursar, o deputado e candidato derrotado no Rio pediu ao tucano que, se eleito, tenha um "excelente relacionamento" com Sérgio Cabral (PMDB), governador reeleito.

Pouco depois do evento, ao falar sobre seu apoio ao tucano, Gabeira disse que é uma posição "individual" e que respeita a neutralidade do PV e de Marina, decidida em congresso , no domingo.

Além de Gabeira e de Feldmann, participaram deputados e prefeitos do PV. O prefeito de Jau, Franceschi Jr, foi em carro oficial. No evento, com início previsto para as 15h e que se estendeu pela tarde de ontem, participou também o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM).

Apesar da declaração de dirigentes do PV, Marina Silva reforçou ontem, em entrevista à Rádio Bandeirantes, que a posição de não apoiar nenhum dos dois candidatos que estão no segundo turno das eleições foi "melhor para a democracia".