Título: Dilma acusa Serra para se defender de denúncia
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2010, Política, p. A7

Aborto, Erenice Guerra e o engajamento de Ciro Gomes na reta final de sua campanha. A candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT) foi recebida com perguntas difíceis, ontem à noite, na bancada do "Jornal Nacional", da TV Globo.

Na primeira questão, mais amena, Dilma teve que responder por que não conseguiu uma vitória no primeiro turno, apesar de ter liderado as pesquisas com folga.

A candidata petista afirmou entender que o eleitor "queria uma oportunidade a mais" para pensar e cotejar as propostas dos presidenciáveis. E aproveitou para agradecer os 47 milhões de votos, dizendo acreditar ser "a segunda mulher mais votada do planeta", ficando atrás apenas de Indira Gandhi.

Em seguida, vieram as perguntas mais espinhosas, como à relacionada ao aborto.

"Houve muita confusão. Há diferença entre a posição minha, individual - sou contra o aborto, é uma violência contra a mulher, que o faz numa situação limite. Mas o presidente da República não pode fingir que 3,5 milhões de mulheres recorrem ao aborto, fingir que estas mulheres não existem, e que o fazem em situações precárias, que podem levar à morte. Minha posição é a seguinte: não pode prender, tem que cuidar delas. São duas posições diferentes", disse a presidenciável.

Dilma Rousseff afirmou que "ninguém em sã consciência vai prender 3,5 milhões de mulheres" e se disse favorável ao aborto nos termos já previstos em lei, em casos de estupro ou de risco de morte.

Dilma considerou apropriado conduzir o tema sem alterar a legislação e criticou a ideia da realização de um plebiscito, que, em sua opinião, seria "muito ruim", pois "dividiria o Brasil de ponta a ponta". A proposta de plebiscito foi defendida pela candidata do PV, Marina Silva, cujos 19 milhões de votos interessam à candidatura governista.

Sobre o escândalo que envolveu sua ex-braço-direito na Casa Civil, Erenice Guerra, Dilma foi questionada sobre como poderá garantir que episódios semelhantes não ocorram em seu governo, uma vez que o caso atingiu uma subordinada tão próxima.

"Erros acontecem, a diferença é a atitude em relação ao erro. Investigamos e punimos", justificou a candidata. Dilma aproveitou a pergunta para atacar o adversário José Serra (PSDB) e o episódio envolvendo o ex-presidente da Dersa, Paulo Preto, acusando o tucano de acobertar o caso.

Por fim, Dilma foi interpelada sobre o apoio recebido de Ciro Gomes (PSB), no segundo turno, uma vez que o deputado federal, ao ver sua candidatura presidencial naufragar, disse que Serra seria mais preparado do que ela e que o PMDB seria um "ajuntamento de assaltantes", liderado por Michel Temer, vice da chapa governista.

Dilma afirmou que entende que Ciro deu as declarações num momento em que estava magoado.