Título: PT quer investigação sobre panfletos
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2010, Política, p. A10
O PT entrou com pedido junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a instauração de inquérito policial que apure quem são os responsáveis pela elaboração e financiamento de 1,2 milhão de panfletos, creditados à Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Os panfletos foram apreendidos no domingo pela Polícia Federal, por determinação da Justiça Eleitoral, na gráfica Pana, em São Paulo, e pregam voto contra candidatos favoráveis à descriminalização do aborto, citando nominalmente a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff (PT).
Arlety Satiko Kobayashi, filiada ao PSDB desde 1991, irmã do coordenador de infraestrutura da campanha de José Serra, Sérgio Kobayashi e funcionária da Assembleia Legislativa de São Paulo, é dona de 50% da gráfica. "Embora não possamos fazer acusações definitivas, há indícios veementes de que esse panfleto pode ter sido produzido pelo nosso adversário", disse José Eduardo Cardozo, deputado federal e um dos coordenadores da campanha de Dilma. Segundo Cardozo, a encomenda era de 20 milhões de panfletos: "A central de calúnias que vem atingindo a nossa candidata começa a ter seus autores identificados. Imprimir 20 milhões de panfletos tem um custo caríssimo. É uma coisa tão articulada que não pode ter sido feita por amadores", alega.
Bispos do braço paulista da CNBB divulgaram nota em que dizem que não patrocinar a impressão e a difusão de folhetos.
O presidente estadual do PT, Edinho Silva, afirmou ainda que o partido abrirá um novo pedido de investigação no TSE, pedindo esclarecimentos do fatos noticiados em reportagem do jornal "Correio Brasiliense", sobre um suposto serviço de telemarketing que estaria à procura de eleitores de Marina Silva (PV). "Eles ligam para as casas e perguntam se alguém votou na Marina. Em caso positivo, disparam uma série de inverdades sobre Dilma", afirma.
Depois de participar de um encontro com representantes da Associação Médica Brasileira, Serra desconversou sobre a suposta ligação do PSDB na confecção de panfletos anti-PT e disse que o caso "não tem nada a ver" com sua campanha. "O fato de a gráfica ser ou não ser de um parente de alguém que trabalha na campanha é inteiramente irrelevante", declarou o candidato. "É uma relação perfeitamente lícita entre um cliente e uma empresa privada que não tem a ver com a campanha", comentou.
O candidato do PSDB acusou o PT de criar factoides. "O PT tem muita coisa errada, muitos esquemas de irregularidades no governo, de desvio de recursos. Então o que eles querem sempre fazer é nivelação. "Ah, nós fazemos mas os outros também fazem". Só que nós não fazemos".
Serra negou conhecer o pai de um dos donos da gráfica, Paulo Ogawa, que o PT diz ter sido funcionário do Ministério da Saúde quando o tucano comandava a pasta. "Não sei, não me lembro. E daí? Ele tem uma gráfica, é um negócio particular. A diocese vai lá, faz a encomenda, compra, manda fazer os folhetos. Todo mundo é livre para se manifestar", disse. "E [a conta] não foi paga com dinheiro de campanha".
No início da tarde de ontem, o PT se reuniu com dirigentes de partidos aliados e outros que aderiram à candidatura Dilma no 2º turno. Entre os novos apoiadores, o candidato à presidência Levi Fidelix (PRTB), lideranças evangélicas e católicas, como o pastor Marcos Feliciano, eleito deputado federal pelo PSC, e o padre Júlio Lancelotti, respectivamente. Também estiveram presentes três integrantes do PV que aderiram à campanha de Dilma: Ivana Maria Bertolini Camarinha, prefeita de Pederneiras, o deputado federal Roberto Santiago e o prefeito de Mogi-Guaçu, Paulo Eduardo de Barros.
O candidato à vice, Michel Temer (PMDB), foi a estrela do evento, que conclamou a participação da militância na reta final da campanha, mas não apresentou nenhuma estratégia para os 12 dias faltantes para a votação do segundo turno.