Título: Corrupção domina horário eleitoral na TV
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2010, Política, p. A10
O horário eleitoral de ontem foi um embate de denúncias de ligação dos candidatos à Presidência da República com casos de corrupção. A propaganda da candidata do PT, Dilma Rousseff, foi mais agressiva e insistiu na denúncia de envolvimento do ex-presidente da Dersa, Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, em casos de corrupção e irregularidades no Rodoanel. A Dersa é a empresa estatal do governo de São Paulo responsável pela manutenção de rodovias.
O programa petista acusou o adversário do PSDB, o candidato José Serra, de não investigar Souza, "um de seus principais auxiliares no governo de São Paulo" e mostrou reportagem da revista "Istoé" que afirma que Souza teria desviado R$ 4 milhões de "um suposto caixa dois da campanha de Serra". Também cita outra reportagem dizendo que Souza foi preso por interceptar uma joia roubada no valor de R$ 20 mil. O programa do PT afirma ainda que o nome de Souza aparece em documentos obtidos na Operação da Polícia Federal "Castelo de Areia" por irregularidades na construção do Rodoanel de São Paulo e cita que o Ministério Público Federal e o Tribunal de Contas apontaram irregularidades.
O programa do PT utilizou trechos da participação de Dilma no debate na RedeTV! dos presidenciáveis de domingo para reforçar a suposta ligação do ex-presidente da Dersa com José Serra.
"Nós temos uma diferença do candidato Serra. Nós investigamos [em referência ao caso Erenice Guerra]. O candidato Serra esquece que a revista "Veja" disse que o senhor Paulo Vieira de Souza está envolvido no "Castelo de Areia" e isso significa propina da obra mais importante do Estado de São Paulo, o Rodoanel. Então isso também tem que ser investigado. Não me consta que isso foi investigado", diz Dilma no trecho reproduzido do debate da Rede TV!. O programa ainda cita regortagem da "Folha de S. Paulo" sobre a contratação da filha de Souza pelo governo de São Paulo quando Serra era governador do Estado.
O programa do PSDB foi aberto com a comparação entre Serra e Dilma. "Genérico, coisa do Serra. Erenice, coisa da Dilma. Ficha Limpa, coisa do pessoal do Serra. Escândalos, coisa do pessoal da Dilma. Trezentos hospitais, coisa do Serra. Caos aéreo, coisa da Dilma. Seguro-desemprego, coisa do Serra. José Dirceu de volta, coisa da Dilma. Quem compara não tem dúvida, o melhor para o Brasil é Serra presidente", diz um ator.
José Serra defendeu-se da acusação da campanha petista de que seria a favor da privatização da Petrobras. "Hoje, não há nada na agenda do Brasil de empresas para serem privatizadas", disse o tucano em trecho reproduzido do debate de domingo. A campanha do PT afirma que Serra vai privatizar a Petrobras com base em opinião do ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Davi Zylbersztajn sobre o modelo de exploração do pré-sal. Zylbersztajn, que presidiu a ANP no governo Fernando Henrique Cardoso, defendeu o modelo de concessão, adotado nas reservas fora do pré-sal até o momento. O governo Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu aprovar o modelo de partilha no Congresso Nacional. Serra dissociou o ex-presidente da ANP de sua campanha. "Pegaram a opinião de um técnico que não é nem nunca foi meu assessor e não propôs privatização nenhuma e botam isso na televisão", afirmou.
O candidato tucano disse que vai fazer das atuais estatais, "estatais de verdade" e acusou o governo Lula de fazer aparelhamento partidário nas empresas, como a Petrobras. O programa do PSDB na TV cita reportagem da revista "Exame" dizendo que o valor da ação da Petrobras aumentou com a subida de Serra em pesquisa e destaca que o candidato é "o melhor administrador público".
O programa de Serra ainda explorou temas como educação, saúde, política contra drogas e de apoio a deficientes. "A droga vem da Bolívia. O governo brasileiro não fez nada junto ao boliviano para parar a entrada dessa droga", disse Serra, em trecho do debate de domingo.
O programa de Dilma foi aberto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Está na hora de você escolher o Brasil que você quer", disse. O presidente afirma que seu governo tirou 28 milhões de pessoas da miséria e levou 36 milhões à classe média enquanto o "outro Brasil" fechou os olhos para a pobreza. Segundo Lula, a escolha deve se dar entre "O Brasil que dava errado e o Brasil que está dando certo e que Dilma vai continuar".