Título: PTB cresce no Nordeste ancorado no lulismo
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2010, Política, p. A12

Consequência da adesão parlamentar ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as eleições deste ano consolidaram a força do Partido Trabalhista Brasileiro no Nordeste do país em detrimento do Sul e Sudeste, onde historicamente se concentram suas lideranças e o comando da legenda.

Em 2011, a bancada nordestina terá quase a metade do total de 21 eleitos que as urnas garantiram ao partido. Serão nove representantes da região, dois a mais que em 2006 e três a mais do que em 2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez. Em contrapartida, o Sul e o Sudeste caíram nestes oito anos de 15 para oito representantes na bancada.

A opção pelo lulismo é o grande responsável por essa migração da força da bancada. Não à toa, o Estado que despontou na sigla nesses anos foi Pernambuco, o mesmo em que o presidente nasceu e de onde pinçou o então deputado José Múcio (PTB) para seu ministério e depois para o Tribunal de Contas da União. Sem nenhum eleito em 2002, o Estado fez três cadeiras em 2006 e três em 2010, além de um senador, Armando Monteiro Neto.

Ex-integrante do PSDB e ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Monteiro Neto conseguiu deixar na Câmara a vaga que conquistou há quatro anos para um "herdeiro", o também empresário Jorge Corte Real, presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe). "Em Pernambuco éramos um partido inexpressivo e hoje somos a segunda maior bancada estadual e a terceira federal. Passamos a ter peso", afirma Corte Real.

Em Alagoas, o senador neolulista Fernando Collor (PTB) conseguiu eleger dois deputados aliados, a popular Célia Rocha, ex-prefeita da segunda maior cidade do Estado, Arapiraca, e segunda deputada mais votada em Alagoas. Assim como Monteiro Neto, ela também foi filiada ao PSDB alagoano, por onde se elegeu e reelegeu prefeita durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O que chama a atenção é que o crescimento dessa base parlamentar lulista do PTB não foi suficiente para barrar a direção do partido em apoiar o candidato da oposição a presidente, José Serra (PSDB). Com 60% do partido em mãos, a cúpula divide seu poder de forma praticamente equânime entre três Estados, Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul, cujas lideranças são o presidente e ex-deputado Roberto Jefferson (RJ); o secretário-geral e deputado estadual Campos Machado (SP) e o vice-presidente e senador Sérgio Zambiasi (RS).

A força nesses locais se explica pelo fato de neles estar o desenvolvimento do partido nos anos 80, após a ex-deputada Ivete Vargas, sobrinha do ex-presidente gaúcho Getúlio Vargas, assumir seu comando com o fim do bipartidarismo do regime militar. Dos 13 eleitos em 1982, cinco eram do Rio e oito de São Paulo. Em 1986 foram 17 eleitos, sendo 15 do Sul-Sudeste, e apenas um do Norte e um do Nordeste.

Nos anos 90, o PTB foi aliado nos governos Fernando Collor (1990-1992) e FHC (1995-2002), com quem se coligou para elegê-lo e reelegê-lo. Sempre esteve, portanto, do lado adversário ao PT. Foi nesse meio que as três lideranças que controlam hoje a sigla fizeram política, até a chegada de Lula ao poder, quando Jefferson aderiu ao lulismo e acabou por deflagrar a maior crise do governo petista, o mensalão. O escândalo atingiu o partido nas eleições de 2006, levando-o à queda da bancada de 26 em 2002 para 22 quatro anos depois, sendo que apenas 18 assumiram, uma vez que quatro migraram para outras legendas.

Mas, na avaliação de Jefferson, o que prejudicou o partido nesse período foi a "abertura" que ele e o ex-presidente José Carlos Martinez empreenderam, aceitando, sem muito critério, filiações de parlamentares.

"A política de abrir o partido tirou-o das mãos de velhos dirigentes. Trouxemos pessoas sem identidade conosco, sem história. Houve várias tentativas por parte dessas pessoas de afastar as antigas lideranças", afirma Jefferson. Para ele, agora virá uma nova fase. "Quero apurar o partido e crescer, junto com o que somos. Não me passa pela cabeça mais querer inchar o partido", diz.

Sobre as diferenças entre a cúpula e a base emergente do partido no apoio aos candidatos a presidente neste ano, Jefferson afirma que o que os une nacionalmente são suas duas principais bandeiras: a defesa de que alterações na Consolidação das Leis Trabalhistas só sejam feitas mediante plebiscito e a defesa da previdência solidária. "Não somos um partido ideológico, dogmático. Somos uma federação de interesses regionais que tem uma âncora nacional nessas bandeiras. Nesse sentido, somos muito parecidos com o PMDB. Somos um PMDB menor", diz.

Outro fator de união partidária é a pluralidade profissional de seus deputados, independentemente do local de origem. Há desde empresários, advogados, médicos, engenheiros, dentistas, arquitetos e comerciantes, razão por que classifica seu partido de adepto da "classe média baixa e conservadora". "Não é (partido) do trabalhador grevista e revolucionário. É um trabalhador religioso, de resultados", diz.