Título: No JN, tucano é questionado sobre ex-diretor do Dersa
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2010, Política, p. A6

A exploração da mistura entre política e religião, o caso de desvio de dinheiro envolvendo um ex-integrante de seu governo em São Paulo e a crítica feita à Marina Silva, no primeiro turno, na qual afirmou que a candidata do PV se parecia muito com a adversária Dilma Rousseff (PT) por terem participado do mesmo governo envolvido no escândalo do mensalão, em 2005. Foram estes os temas mais polêmicos que o presidenciável tucano José Serra enfrentou ontem à noite, na entrevista ao vivo de 10 minutos, ao "Jornal Nacional", da TV Globo.

Do mesmo modo que na noite anterior, quando sabatinaram a candidata petista Dilma Rousseff, os apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes iniciaram a entrevista com uma pergunta leve, questionando o desempenho do tucano no primeiro turno, quando obteve uma votação nove pontos percentuais inferior à obtida, em 2006, pelo então candidato do PSDB à Presidência Geraldo Alckmin.

José Serra alegou que as disputas foram diferentes e que, há quatro anos, Alckmin não enfrentou uma concorrente tão forte quanto Marina Silva.

Em seguida, na sequência de questões mais polêmicas, a jornalista Fátima Bernardes perguntou ao tucano por que sua campanha passou a explorar a mistura de política e religião, que teria radicalizado a discussão no segundo turno e levado a um retrocesso da agenda pública.

Serra contra-argumentou alegando que não foi sua campanha que trouxe a religião para o debate. "Não fomos nós que levantamos nem exploramos. A Dilma se manifestou a favor do aborto, está em um vídeo. E o PT fez o Plano Nacional de Direitos Humanos", disse o tucano.

A apresentadora insistiu, dizendo que Serra levou a seu programa no horário eleitoral gratuito imagens em que aparecia em missas e recorreu a discursos em que mencionou frequentemente o nome de Deus. Serra alegou, então, que a discussão religiosa foi ressaltada no segundo turno pela contradição de posições de sua adversária, que "afirmou uma coisa e depois disse outra". "Sempre visitei igrejas católicas e evangélicas. Sou uma pessoa religiosa. Não é nada forçado. Já ela passou a frequentar igrejas, coisa que não fazia", disse.

Na pergunta seguinte, Bonner referiu-se ao caso Paulo Vieira de Souza, ex-diretor do Dersa, empresa do governo do Estado de São Paulo que foi responsável por tocar obras como o Rodoanel e a ampliação da Marginal Tietê. Paulo Preto foi acusado de ter arrecadado ilegalmente recursos para a campanha de José Serra e ter ficado com o dinheiro. O apresentador do "JN" quis que o tucano comentasse a frase em que Paulo Preto disse, em entrevista, que "não se abandona um líder ferido na estrada".

Serra respondeu com os argumentos que tem usado para tratar do episódio: que o caso não revela um desvio de dinheiro de sua campanha e que seria vítima.

Bonner insistiu para que o candidato comentasse a frase dita por Paulo Preto, ressaltando que ela parece uma ameaça, de alguém que teria algo a dizer que pudesse comprometer o presidenciável. Serra desviou novamente.

"Em todo caso, seríamos vítimas. E não seria dinheiro de governo, mas de campanha. O que o PT gosta de fazer é nivelar os escândalos", afirmou.

Serra também teve de responder sobre a crítica que fez, no primeiro turno, à Marina Silva, de cujos votos depende para vencer Dilma Rousseff, e sobre suas promessas de aumentar o salário mínimo para R$ 600, reajustar as aposentadorias em 10% e criar um 13º para o Bolsa Família.