Título: Um terço menor, DEM fica mais ruralista
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2010, Política, p. A8

Composta basicamente por empresários e produtores rurais, a bancada do DEM eleita para a Câmara dos Deputados cresceu em relação a 2006 apenas na região Centro-Oeste, onde os ruralistas têm mais força. Em processo de diminuição desde a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o DEM passou dos 65 parlamentares eleitos há quatro anos para 43 nesta eleição.

A queda é ainda maior quando comparada ao resultado da eleição de 1998, quando Fernando Henrique Cardoso reelegeu-se e o DEM elegeu 105 deputados - mais até mesmo do que os 99 eleitos pelo PSDB naquela disputa.

No Centro-Oeste, no entanto, o partido conseguiu aumentar o número de parlamentares e passou de três para cinco. Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Estados em que o DEM não elegeu deputados há quatro anos, nesta eleição o partido emplacou um parlamentar em cada. Em Goiás, passou de um para três deputados. Da bancada goiana destaca-se Ronaldo Caiado, produtor rural e ex-presidente da União Democrática Ruralista. No Distrito Federal, no entanto, o partido perdeu os dois deputados federais, reflexo direto do escândalo que envolveu o único governador eleito pelo DEM em 2006, José Roberto Arruda, que deixou o cargo no ano passado sob denúncias de corrupção.

O crescimento da bancada no Centro-Oeste e queda nas demais regiões, em especial na Nordeste, refletem a transformação pela qual passou o DEM nos últimos anos. O partido mudou de nome em 2007 de PFL para Democratas na tentativa de renovar sua identidade e lançar políticos novos. O resultado, no entanto, não foi satisfatório. Desde então, a legenda se notabilizou pela saída de políticos tradicionais e não conseguiu compensar a perda com nomes novos.

Nestas eleições, o ex-vice-presidente Marco Maciel não conseguiu se reeleger em Pernambuco. Seu colega de Estado Roberto Magalhães desistiu de concorrer. Na Bahia, José Carlos Aleluia não obteve votos suficientes para o Senado. O mesmo ocorreu com o ex-prefeito do Rio Cesar Maia, que também não foi eleito para o Senado. No Piauí, Heráclito Fortes perdeu a reeleição a senador.

"A expectativa de renovação não se realizou e o partido perdeu lideranças", disse o analista político Antônio Augusto de Queiróz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Segundo Queiróz, a eleição de dois governadores do DEM, Rosalba Ciarlini, no Rio Grande do Norte, e Raimundo Colombo, em Santa Catarina, não compensou essas perdas. Para o analista, o partido tem perdido estrutura nos Estados, onde já deteve a maioria dos governadores, apoiado em forte relação com o governo federal que vinha desde os anos de regime militar.

O DEM chegou a ser maioria da Câmara no governo Fernando Henrique Cardoso e passou por um processo de enfraquecimento no governo Lula. Na oposição, o partido minguou. Em 2002, a legenda tinha 83 deputados federais, quase o dobro do número de deputados eleitos em 2010.

Nesta eleição, a redução mais significativa se deu no Nordeste, cuja bancada se reduziu quase à metade da eleita em 2006 e foi de 27 deputados para 15. No Maranhão, que já teve a governadora Roseana Sarney (PMDB) filiada ao diretório e apoiou sua candidatura à Presidência, em 2002, o partido elegeu apenas Nice Lobão, esposa do ex-ministro Edson Lobão (PMDB). Nice, no entanto, tem forte ligação com o PMDB de Lobão.

Na Bahia, o enfraquecimento do carlismo atingiu diretamente na bancada, que minguou de 13 para 6 deputados. Em 1998, eram 20 deputados pela Bahia, semelhante aos 19 eleitos em 2002 pelo Estado. Apesar da queda, a bancada baiana continua como a maior do partido no país e destaca-se por ter o deputado mais votado do DEM no país, Antonio Carlos Magalhães Neto, com 328, 4 mil votos.

A eleição de dois governadores não alavancou o número de parlamentares eleitos naqueles Estados. No Rio Grande do Norte, o DEM tinha um deputado e elegeu dois nesta eleição. Em Santa Catarina, manteve o número de três parlamentares na Câmara.

"É o preço de ser oposição", comentou o deputado reeleito ACM Neto. "Quem adere ao governo independente de quem esteja no governo não perde espaço. Nós optamos por manter a coerência", disse. Na análise de ACM Neto, uma das principais lideranças atuais do DEM, o partido "não se saiu tão mal das urnas". "Entramos na eleição sem nenhum governador e saímos com dois. O presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva] disse que o partido seria extirpado, mas continuamos sendo a quarta maior bancada da Câmara. Não foi um resultado tão ruim", disse.

O futuro do DEM depende do resultado do segundo turno da eleição presidencial. No caso de vitória de José Serra (PSDB), o DEM passará a ser um dos principais aliados de um eventual governo tucano e aposta na recuperação do espaço no Congresso. O partido tem a vice na chapa de Serra, com Indio da Costa (RJ). No caso de vitória de Dilma Rousseff (PT), dirigentes do DEM já falam em uma provável fusão com o PSDB ou até mesmo com o PMDB. "Independente do resultado da eleição, vamos ter mudanças na geografia partidária", anunciou ACM Neto. "Qual formato terá e com quem [haverá composição] só depois das eleições, com muita calma e conversa", afirmou.