Título: Dolarizado, Equador se dá bem com a queda do dólar
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/10/2010, Internacional, p. A13

Os canteiros de rosas da Agrinag se espalham por 18 hectares, aos pés do vulcão Cotopaxi, nos Andes equatorianos. São flores de cores diversas, 80 tipos diferentes de rosas, algumas delas desenvolvidas pela própria empresa para agradar americanos, europeus e russos. O trabalho de colheita, seleção e empacotamento é febril, segundo os administradores da empresa. O motivo: o setor de flores do Equador está avançando sobre uma fatia de mercado que antes era dominada pelos colombianos. A razão: a Colômbia está sofrendo com uma valorização recorde de sua moeda frente ao dólar; já o Equador adota o dólar como moeda.

"Graças a Deus o dólar está fraco. Assim podemos recuperar um pouco de nossa competitividade", disse à Bloomberg o presidente do Equador, Rafael Correa.

Jorge Peñafiel, superintendente da produtora de rosas Agrinag, diz que isso é muito claro para os exportadores de flores. "Nossos custos não estão subindo como do outro lado da fronteira", afirmou, ao se referir aos produtores de rosas da Colômbia. "A produção está crescendo e quase não estamos dando conta das encomendas."

A Agrinag espera exportar cerca de 25 milhões de flores neste ano, tendo como principais mercados os EUA e a Rússia.

O peso colombiano foi a moeda latino-americana que mais se valorizou ante o dólar neste ano: 13%.

O Equador adotou o dólar como moeda em março de 2000, na esteira de uma crise econômica que provocou o colapso de seus sistema bancário e levou a uma queda de 6% do PIB. A dolarização estabilizou a economia e o país voltou a crescer. "Desde que adotamos a dolarização, as políticas do Federal Reserve [Fed, BC dos EUA] nos têm sido bastante convenientes", disse o presidente Correa.

A queda de competitividade dos vizinhos ajuda a um setor equatoriano que já vinha dando sinais de vitalidade. No ano passado, por exemplo, as exportações de flores do país chegaram a US$ 600 milhões. E o setor cresce numa média anual de 13% desde 2003. Hoje, as flores respondem por cerca de 2% do PIB de US$ 57,3 bilhões e empregam, de forma direta ou indireta, cerca de 100 mil pessoas - a população do país é de 14,5 milhões.

As exportações não petroleiras do Equador cresceram quase 11% de janeiro a julho deste ano, em relação ao mesmo período de 2009, segundo o Banco Central do país.

Nesse cenário, os exportadores de flores estão procurando sofisticar seus mercados, para dar maior valor agregado a suas exportações.

Peñafiel diz que sua empresa vem ampliando as pesquisas de novas rosas híbridas, que reúnem na mesma pétala cores variadas. "É o que o mercado russo está pedindo, por exemplo."

Roberto Nevado, presidente da NevadoEcuador, está testando um nicho novo: a gastronomia.

Cerca de 5% de sua produção de rosas é orgânica, ou seja, não usa pesticidas, fertilizantes nem outro produto químico industrializado. Essa parcela tem se destinado a restaurantes sofisticados de todo o mundo, como o catalão El Bulli, do chef Ferran Adriá, que usam as pétalas em receitas inovadoras.

Além das flores, outros setores chamados de não tradicionais vivem um boom. As exportações de camarões e pescados enlatados, por exemplo, crescem ininterruptamente desde 2000. E setores tradicionais, como o de banana (o Equador é o maior exportador do mundo), mostram sinais positivo.

"Não há dúvida que a dolarização está nos ajudando. Sabemos que Correa é a favor de restituir uma moeda nacional, mas ninguém em sã consciência pensaria em abandonar o dólar agora", disse Fernando Crespo, diretor da Associação dos Produtores de Cacau Fino e de Aroma do Equador (Aprocafa). Crespo, além de grande produtor de cacau, fabrica chocolates no país e os exporta principalmente para a Europa.

O otimismo dos exportadores privados pode, entretanto, ser contrabalançado pela parte mais importante da economia equatoriana, o setor petroleiro.

Petróleo e derivados respondem por cerca de 65% das exportações do país e por cerca de 35% de toda a arrecadação do governo. Desde que Correa assumiu o poder, em janeiro de 2007, a produção de petróleo caiu 6,1%, segundo dados do Banco Central do Equador.

"Nós [setor privado] estamos fazendo nossa parte", diz Crespo. (Com agências internacionais)