Título: Privatização e segurança pública polarizam debate presidencial
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2010, Política, p. A8
Numa tentativa de reeditar os debates do segundo turno de 2006, a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff tentou pautar o encontro de ontem promovido pela Rede TV e pela "Folha de S. Paulo" pelas privatizações. A estratégia fez desaparecer a pauta religiosa do encontro. O candidato do PSDB, José Serra, pareceu surpreendido pela pergunta sobre a venda da Gas Brasiliano, empresa paulista de distribuição de gás comprada pela Petrobras. Dilma o acusou de tentar impedir a venda da empresa, apesar de a estatal ter a oferta de melhor preço.
Na plateia, o marqueteiro petistas, João Santana parecia satisfeito com a abordagem da candidata, enquanto o tucano, Luiz Gonzalez parecia desaprovar a primeira tentativa de Serra de se esquivar do tema.
Ao tentar responder à pergunta, Serra disse que a tentativa de veto visava evitar que a Petrobras, que já produz gás, adquirisse poder excessivo com a distribuição. O candidato do PSDB acusou o PT de trazer um assunto que não estava em pauta na sociedade para escamotear o fato de que as estatais federais no governo Luiz Inácio Lula da Silva são loteadas entre aliados petistas, entre os quais, o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Mencionou ainda os Correios entre as estatais loteadas pelo PT.
Serra citou declarações favoráveis do atual presidente do PT, José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobras, às mudanças na Lei do Petróleo feitas durante o governo Fernando Henrique Cardoso que abriram o mercado. E disse que Dilma, no passado, também elogiou o processo de privatização da telefonia. A candidata do PT não respondeu. O candidato do PSDB acabou sendo aplaudido pela plateia ao dizer que as ações da Petrobras subiram no segundo turno quando as perspectivas de sua vitória cresceram. E acabou dizendo não ser favorável à reversão do modelo de partilha para a exploração do pré-sal.
Depois de um primeiro bloco favorável a Dilma, onde o tema predominante foi o da privatização, Serra conseguiu equilibrar o debate no segundo bloco, levando o debate para o campo da segurança pública. Apesar disso, o campo petista comemorou a resposta dada por Dilma no terreno do adversário em relação à cracolândia. Os serristas aprovaram a resposta de Serra sobre a redução da criminalidade em São Paulo.
Dilma citou as 300 vagas criadas pelas clínicas estaduais de tratamento de drogados e disse que São Paulo precisaria de um século para tratar todos os seus dependentes químicos.
Serra acusou o governo federal de não dar prioridade ao combate às drogas. Citou o gasto de apenas 50% dos recursos do fundo nacional de combate à droga. E citou episódio do governo petista de Ana Júlia, no Pará, quando uma adolescente foi colocada numa cela de presidiários e estuprada.
No terceiro bloco, ao responder a perguntas de jornalistas da Folha e da emissora, Serra negou ter dito que não conhecia Paulo de Souza, ex-diretor da Dersa acusado de ter desviado recursos da campanha do PSDB. Dilma aproveitou uma pergunta sobre a ex-ministra Erenice Guerra para se dizer "indignada" com as denúncias sobre a Casa Civil. "As pessoas erram e a Erenice errou", disse, citando as 16 pessoas que já foram investigadas pela Polícia Federal no inquérito.
Na plateia do debate , a claque de Serra era formada por Geraldo Alckmin, Rodrigo Maia, Gilberto Kassab, Alberto Goldmann, José Anibal e Guilherme Afif Domingos. A de Dilma era formada por Marta Suplicy, Michel Temer, Moreira Franco, Marco Aurélio Garcia, José Eduardo Martins Cardozo, Antonio Palocci e Cândido Vaccarezza.