Título: Um terço do PSB veio de partidos de oposição e governo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2010, Política, p. A5
Um dos destinos preferenciais, nos últimos oito anos, de políticos da base governista e da oposição, o PSB teve seu desempenho nas eleições para a Câmara aquém das 40 cadeiras esperadas, embora tenha mantido a trajetória ascendente das últimas eleições.
Com 34 eleitos, sete a mais do que há quatro anos, a legenda considera bem sucedidas as estratégias traçadas, dentre as quais se destaca a condição de porto seguro para abrigar quadros insatisfeitos de outros partidos e, assim, ter nomes competitivos para a eleição. Dos eleitos este ano, pelo menos 13 se enquadram nessa posição. Vieram tanto das siglas mais críticas ao governo, como PSDB, DEM e PPS, quanto dos seus apoiadores, como PMDB e PTB.
Da base governista, filiaram-se, por exemplo, o deputado estadual Audifax Barcelos (ES), até 2009 no PDT; Valtenir Pereira (MT), petista até 2005; Sandra Rosado (RN), no PMDB até 2005; e Jefferson Campos, ex-PTB. Há ainda quadros históricos de outros partidos como Abelardo Camarinha, tradicional pemedebista paulista, eleito já em 2006 pelo PSB, após oito anos à frente da prefeitura de Marília pelo PMDB.
Alguns, em outra frente, são egressos da oposição e foram vitoriosos pelo PSB: o deputado estadual Edson da Silva (CE), eleito pelo PFL em 2006; o deputado federal reeleito Ariosto Holanda (CE), quadro do PSDB entre 1993 e 2003; o também reeleito Júlio Delgado (MG), que ficou no PPS entre 2001 e 2005; Átila Lira, ex-PSDB; Leopoldo Meyer (PR), ex-prefeito de São José dos Pinhais pelo PSDB; e Gabriel Chalita (SP), ex-secretário de Educação no governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Em sua maior parte, esses antigos oposicionistas dizem que se filiaram ao PSB para se adequarem a novas condições políticas de seus Estados. "Divergimos da cúpula do partido e ficamos na época com o então vice-governador Wilson Martins", afirma Átila Lira (PI), deputado federal desde 1986, pelo PFL e pelo PSDB.
Fato semelhante ocorreu com Laurez Moreira (TO), também ex-filiado ao antigo PFL e eleito deputado federal pelo PSB: "Tive divergências internas com o comando estadual do PFL". Para ele, o que o atraiu ao PSB foi mais a incipiência do partido em seu Estado -o que lhe dava condições de estruturá-lo e liderá-lo- do que a condição nacional de base lulista. "Essa história de ser governo ou oposição é muito relativa. Apesar de termos mais presença quando somos da base aliada, também somos mais cobrados", afirma.
Nos Estados onde o partido governa, a ideia foi lançar integrantes do alto escalão ou próximos aos governadores, principalmente nos casos de Cid Gomes (CE) e Eduardo Campos (PE), também presidente da legenda, reeleito em primeiro turno. Do Ceará, cuja bancada dobrou (de dois para quatro), destacam-se Domingos Neto, filho do presidente da Assembléia Legislativa, Domingos Filho (PMDB); e Antônio Balman, ex-presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico. De Pernambuco, além da reeleita Ana Arraes, mãe Campos, há Danilo Cabral, ex-secretário de Educação. Lá a bancada passou de três para cinco deputados.
No Sudeste, onde o partido também é forte -elegeu Renato Casagrande governador do Espírito Santo-, a procura foi por puxadores de votos sem atividade político-partidária, como o ex-jogador Romário (RJ) e Iolanda Ota (SP), mãe do menino Ives Ota, assassinado em São Paulo em 1997. A bancada paulista se manteve a maior do partido, ao passar de quatro para sete deputados. No Rio, aumentou de um para três.
No PSB desde 1988, o deputado Márcio França (SP), presidente regional da sigla, conta que o pragmatismo partiu do fundador do PSB, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, avô de Campos. "Dr. Arraes", como era conhecido, queria obter melhores resultados eleitorais para ter maior participação no tempo de televisão e maior quota do fundo partidário -ambos medidos pelo número de cadeiras. "O partido na origem era de pensadores, ideólogos. Discutia-se mais a tese. Hoje a tese é importante, mas se puder ganhar eleição, é melhor", afirma.
Ele avalia que o resultado é uma bancada heterogênea que não ameaça a condição de partido "de esquerda" com a qual se apresenta. "O PSB funciona como amálgama, mantendo-se equidistante de situação e oposição. Tem espinha dorsal ideológica, mas a aceitação de seus quadros é ampla. Nosso lema é "quem está convencido, que conviva e convença"", diz, citando o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, derrotado para o governo paulista: "Ele saiu muito mais à esquerda do que entrou no processo eleitoral".