Título: Repórter confessa à PF encomenda de dados sigilosos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2010, Política, p. A7

O jornalista Amaury Ribeiro Jr., ligado ao chamado "grupo de inteligência" da pré-campanha de Dilma Rousseff (PT), confirmou em depoimento à Polícia Federal que encomendou dados de dirigentes tucanos e familiares de José Serra (PSDB). Essas informações, obtidas ilegalmente em agências da Receita Federal em São Paulo, foram parar em um dossiê que, no começo do ano, circulou no comitê dilmista.

O repórter disse que iniciou seu trabalho de investigação quando era funcionário do jornal "Estado de Minas", para "proteger" o ex-governador tucano Aécio Neves - que à época disputava com José Serra quem seria o candidato à Presidência do PSDB.

Amaury não admitiu que pagou pelos dados nem que pediu a quebra de sigilo fiscal dos tucanos. O despachante Dirceu Rodrigues Garcia, porém, declarou à PF que o jornalista desembolsou R$ 12 mil em dinheiro vivo e que entregou a ele as informações protegidas por lei.

O jornalista não disse à polícia se recebeu ou não orientação de Aécio ou de outros políticos do PSDB de Minas para levar adiante a pesquisa. Afirmou que iniciou a apuração após ter tomado conhecimento de que uma equipe de inteligência liderada pelo deputado federal Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), ligado a Serra, estaria reunindo munição contra Aécio.

Amaury contou, contudo, que foram pessoas do PT que roubaram os dados de seu computador pessoal. O laptop, segundo ele, foi violado neste ano num quarto de hotel em Brasília.

Amaury, nessa época, já estava ligado ao "grupo de inteligência" do comitê de pré-campanha de Dilma. Sua estadia na capital era paga por integrantes do PT.

O repórter contou, também, que os dados do dossiê foram vazados à imprensa por uma corrente do PT, envolvida em disputa interna por contratos na área de comunicação.

O senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) desmentiu que tenha qualquer vinculação com o jornalista Amaury Ribeiro Jr., a quem afirmou não conhecer. Aécio divulgou uma nota em que disse que a veiculação de informações comprometedoras contra adversários e inimigos políticos "jamais fez parte" de sua história política "em 25 anos de vida pública". Citando o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), Aécio atacou o PT. "Como disse o senador Sérgio Guerra, quem deve explicações aos brasileiros é o PT, já envolvido anteriormente na violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo, e, agora, na quebra de sigilos fiscais de membros do PSDB".

Na nota, Aécio frisa que "jamais manteve qualquer tipo de relação" com Amaury Ribeiro Jr. e não menciona o jornal "Estado de Minas", empresa em que Ribeiro trabalhava até o ano passado e que teve uma posição pública de apoio à frustrada pré-candidatura presidencial de Aécio.

O texto divulgado ontem teve a preocupação de não procurar contrapor o senador eleito a qualquer declaração supostamente feita pelo jornalista. Havia dúvidas, entre os aliados e assessores mais próximos de Aécio, se a vinculação entre a iniciativa da quebra de sigilos fiscais dos tucanos e a disputa interna pela candidatura presidencial havia sido de fato feita por Ribeiro em seu depoimento ou se era produto de uma interpretação de suas palavras pela Polícia Federal ou dos jornalistas que divulgaram o caso.

Por meio de nota divulgada ontem, o deputado Marcelo Itagiba negou que tenha liderado uma equipe para levantar informações contra Aécio.

"Não sou araponga. Quando fui delegado, fazia investigação em inquérito aberto, não espionagem, para pôr na cadeia criminosos do calibre desses sujeitos que formam essa camarilha incrustada no PT", disse.

O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, por sua vez, cobrou ontem que a Polícia Federal investigue a existência de uma "central de investigação" montada por Itagiba.

Dutra também rebateu a afirmação de Amaury, de que seu computador pessoal foi violado por integrantes do PT. E de que a violação teria ocorrido em um flat pago por um integrante da pré-campanha de Dilma Rousseff. "Eu repilo essas afirmações. Ninguém do PT ou da pré-campanha de Dilma Rousseff pagou um flat ou apartamento para Amaury Ribeiro Jr."

O presidente do PT comemorou o fato de a PF afirmar que não há comprovação do envolvimento da pré-campanha de Dilma na quebra de sigilo de dirigentes do PSDB. Dutra voltou a repetir que Luiz Lanzetta, apontado como um dos interlocutores, com Amaury Jr., de um grupo de espionagem para a campanha do PT, não tinha qualquer função de planejamento na pré-campanha de Dilma. "Lanzetta nunca foi coordenador de comunicação de nossa campanha. Ele foi contratado para montar a equipe de jornalistas que trabalha conosco".

Dilma Rousseff classificou como ilação a tentativa de relacionar integrantes de sua campanha com a quebra do sigilo fiscal de tucanos e familiares de seu adversário, José Serra. "Esse sigilo fiscal foi quebrado entre setembro e outubro do ano passado, quando não existia campanha nem pré-campanha", ressaltou.

Em nota divulgada, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, acusou o PT de ter em seu DNA o "desrespeito à legalidade" ao negar autoria de dossiê contra parentes do candidato José Serra e tucanos.

Guerra afirmou, na nota, que o PT "na sua enorme arrogância acha que o Brasil é feito de tolos" ao criar o "factoide" de que Aécio teria envolvimento com o jornalista.

"A poucos dias das eleições, justamente no momento em que José Serra e Aécio Neves percorrem juntos o Brasil na defesa de um país mais ético e mais justo, o PT tenta ressuscitar mais um factoide que tem como único objetivo tentar provocar a divisão das forças que se unem pela vitória de José Serra". (Com agências noticiosas)