Título: Muito para José Serra, nada para o DEM
Autor: Jeronimo, Josie; Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 22/07/2010, Política, p. 2

Prioridade do cofre de campanha na corrida presidencial cria desconforto na base tucana. Demistas que sonham aumentar bancadas para evitar derrocada do partido veem cenário sombrio

Aestratégia anunciada pelo PSDB e pelo DEM de privilegiar financeiramente a campanha do presidenciável José Serra (PSDB) com os recursos arrecadados pelo diretório nacional irritou aliados do candidato nos estados. Em documentos assinados pelo presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), e pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), enviados ao Tribunal Superior Eleitoral, os líderes dos dois partidos informam na abertura dos comitês financeiros que o dinheiro arrecadado nacionalmente será priorizado na campanha de Serra.

Ao apostar grande parte das fichas no presidenciável, DEM e PSDB deixarão as candidaturas regionais à mercê da própria sorte.

Cada estado se vira. Ter mais dinheiro para os diretórios é o sonho de todos nós. É o número maior de deputados federais que dá possibilidade de alcançar relatorias na Câmara. Eles (o PMDB) fazem a política sem ter o poder da cabeça, mas têm o poder do corpo. A refundação do DEM foi feita nessa dimensão, para ter vereadores, prefeitos, deputados.

Sem base não funciona, pondera o deputado federal Carlos Melles, presidente do diretório do DEM em Minas Gerais.

Depois da polêmica envolvendo o vice de Serra, deputado Índio da Costa (DEM-RJ), os integrantes da chapa fogem de novos conflitos públicos. Mas parlamentares do DEM ouvidos pelo Correio criticam a decisão do presidente do partido de priorizar financeiramente a candidatura de Serra em ano decisivo para a legenda. Todos falam que o DEM corre o risco de acabar e, em vez de o partido se unir para fazer uma boa bancada nos estados e no Congresso, decide investir tudo em uma eleição que pode perder. Nós nunca vamos conseguir competir com a máquina do Lula, reclamou um deputado da legenda.

O presidente do DEM em Tocantins, deputado João Oliveira, afirmou que a executiva nacional ainda não informou aos diretórios os critérios de distribuição do dinheiro que será arrecadado, mas que o diretório já trabalha com a hipótese de bancar sozinho a campanha regional. O deputado federal Felipe Maia (DEM-RN) apoia a decisão da executiva em investir em Serra, mas reclama do custo da campanha e admite dificuldades. As eleições estão a cada dia com custo mais elevado. A dificuldade de arrecadação é muito grande. Os tucanos, também atingidos pelo protagonismo financeiro da campanha de Serra, ainda contam com recursos de distribuição de material feito pelo diretório nacional do partido, explica o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDBPR).

O material básico da candidatura à Presidência, eles (o diretório nacional) acabam mandando. O deputado federal Arnaldo Madeira (PSDB-SP) explica que a maneira de driblar a destinação exclusiva de recursos à campanha presidencial é o doador direcionar a doação para um candidato ou diretório específico. Na receita do fundo partidário, há divisão para os estados, mas na campanha é diferente, afirma.

Indeterminado O PT da presidenciável Dilma Rousseff, porém, não determina, na carta de abertura do comitê financeiro, a candidata como beneficiária prioritária do montante arrecadado. O desenho eleitoral do PT foi feito para eleger Dilma e formar uma bancada forte no Congresso, em especial no Senado.

Na avaliação eleitoral da cúpula petista, existem três categorias de concorrência as mais prováveis, as mais complicadas e as que dependem de fatores externos.

O dinheiro nacional virá dependendo da vertente em que se enquadrar o candidato.

Nesse contexto, as reeleições de Jaques Wagner (Bahia) e Marcelo Déda (Sergipe) e a manutenção do Acre, com o senador Tião Viana, são consideradas tarefas menos árduas. As disputas pela reeleição de Ana Júlia Carepa (Pará), além das vitórias de Ideli Salvatti, em Santa Catarina, de Tarso Genro, no Rio Grande do Sul, e de Agnelo Queiroz, no Distrito Federal, entram no plano das incertezas.

São Paulo, com o candidato Aloizio Mercadante, é colocado na seara das apostas que dependem da possibilidade de levar a disputa ao segundo turno e evitar a vitória de Geraldo Alckmin (PSDB) na primeira rodada de votações.