Título: Senado deve ter perfil menos radicalizado
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Fonte: Valor Econômico, 25/10/2010, Política, p. A10
O Senado Federal que assumirá em 2011 terá apenas seis novatos na política. A bancada ruralista cresce, a empresarial se fortalece com eleição de lideranças de peso do setor, a base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumenta e políticos tradicionais serão substituídos por parlamentares mais jovens, com perfil mais técnico e moderado. Segundo analistas, o Senado tende a ser uma Casa "menos beligerante" do que a atual, independentemente do presidente que vier a ser eleito. Do ex-governador Aécio Neves (Minas Gerais), eleito senador pelo PSDB e provável principal liderança da atual oposição na Casa, é esperada uma atuação mais conciliadora do que a de senadores que deixam os mandatos após fortes embates com o governo, como Arthur Virgílio (PSDB-AM), Heráclito Fortes (DEM-PI) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Para o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, o Senado que assume em 2011 tende a ter mais diálogo e menos confrontos pessoais. Se a oposição perde Arthur, Tasso e Heráclito, entre outros, a base de sustentação do governo atual ficará sem Ideli Salvatti (PT-SC) e Aloizio Mercadante (PT-SP), que protagonizaram fortes embates com a oposição no plenário e em comissões permanentes.
"Não vai ter aquela raivosidade, resistência e oposição intransigente. A negociação vai voltar para a pauta. Aqueles que tinham essa postura foram afastados pelas urnas", diz Toninho. Na sua opinião, até mesmo os parlamentares que estão trocando a Câmara pelo Senado, alguns deles, são de uma "nova geração de políticos, que não carregam em seu DNA disputas familiares ou históricas".
Ele cita os exemplos de Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Valter Pinheiro (PT-BA) e dos ex-ministros Humberto Costa (PT-PE) e José Pimentel (PT-CE). "Boa parte dos novos senadores tem perfil mais técnico e não é representante de oligarquia. Vai haver um arejamento. O aspecto pessoal ficará em segundo plano em relação à política. A Casa deverá ser pacificada", afirma o diretor do Diap.
Uma curiosidade é o fato de o Senado abrigar, a partir de 2011, três ex-presidentes da República: José Sarney (PMDB-AP) e Fernando Collor (PTB-AL), senadores atuais, e Itamar Franco (PPS-MG).
Uma avaliação quantitativa da eleição mostra que os senadores que defendem interesses do setor de agronegócios passam de 20 para 24. Dos 81 senadores, 33 têm algum interesse empresarial - o maior representante do setor é o presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Armando Monteiro Neto (PTB-PE), que troca a Câmara dos Deputados pelo Senado.
Além de Aécio, outros ex-governadores - a maioria político com perfil moderado - chegam ao Senado, como Jorge Viana (PT-AC), Eduardo Braga (PMDB-AM), Blairo Maggi (PR-MT), Wellington Dias (PT-PI), Luiz Henrique Silveira (PMDB-SC), Ivo Cassol (PP-RO), Marcelo Miranda (PMDB-TO) e Roberto Requião (PMDB-PR), o mais polêmico de todos.
O sangue novo virá de Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), professor universitário que foi deputado estadual e faz oposição ao senador José Sarney (PMDB-AP) no Estado, Pedro Taques (PDT-MT), ex-procurador da República e professor universitário, Gleisi Hoffmann (PT-PR), advogada com especialização em gestão pública e administração financeira - mulher do ministro Paulo Bernardes (Planejamento)-, Ana Amélia Lemos (PP-RS), jornalista e representante do setor rural, e Marinor Brito (PSOL-PA), professora da rede pública e ex-vereadora que se beneficiou da lei da Ficha Limpa.
Além desses cinco, que foram eleitos no dia 3, outra cara nova será a de Ana Rita Esgário (PT-ES), que assumirá na vaga de Renato Casagrande (PSB-ES). Ele terá de renunciar para tomar posse no governo do Estado, para o qual acaba de ser eleito.
O cálculo das mudanças de bancadas do Senado não é fácil. É preciso levar em conta os senadores reeleitos e os que, como Casagrande, teriam mandato até 2015, mas foram eleitos para outros cargos e serão substituídos por suplentes. Nesse sentido, a renovação das cadeiras será de 41 ou 42, a depender do resultado da eleição para o governo de Goiás.
Aos 37 senadores novos, se somarão quatro suplentes que assumirão as vagas de senadores que teriam mandato até 2015, mas foram eleitos para os governos dos seus Estados. Estão nessa situação os senadores Renato Casagrande (PSB-ES), Rosalba Ciarlini (DEM-RN), Raimundo Colombo (DEM-SC) e Tião Viana (PT-AC).
Os titulares eleitos para outros cargos terão que renunciar ao Senado para assumir o novo mandato. Seus suplentes passarão a ser titulares. Ainda falta a definição de Marconi Perillo (PSDB-GO), que disputa o segundo turno em seu Estado.
Eles serão substituídos, respectivamente, por Ana Rita Esgário (PT), Garibaldi Alves (PMDB) - pai do atual senador Garibaldi Alves Filho (PMDB) -, Casildo Maldaner (PMDB) e Aníbal Diniz (PT). Se Perillo for eleito, sua vaga irá para Cyro Miranda (PSDB). Por esse cálculo, chegamos aos 41 ou 42 novatos.
A maioria dos senadores que tomarão posse é formada por integrantes da Casa reeleitos para mandato até 2019 (17), ex-governadores que deixaram o cargo recentemente (9), deputados federais que estão trocando deixando a Câmara dos Deputados (17), ex-prefeitos (2) e outros ex-parlamentares que estão vindo de cargos no executivo, como Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), ex-secretário da Casa Civil do governo de São Paulo na gestão de José Serra.
O PMDB será a maior bancada, passando de 18 para 20 parlamentares. O PT virá em seguida, com 14 (hoje são oito). O PSDB cairá de 14 para 11 e o DEM, de 14 para seis. O PTB, que tem seis senadores, ganhará mais um. O PP cresce de um para cinco senadores. O PDT e o PR, que têm, hoje, seis e quatro senadores, respectivamente, terão quatro cada.
O PSB e o PRB, cada um com dois senadores atualmente, terão, respectivamente, três e um. O PSC manterá um parlamentar na Casa. O PSOL e o PC do B passarão de um para dois. PSC mantém um senadores. PMN e PPS, hoje sem parlamentar no Senado, ganham um cada. E o PV perde a única que tem, Marina Silva (AC).