Título: Isolada entre a direita e a esquerda
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 22/07/2010, Política, p. 5

Sem coligação com partido algum e rejeitada até mesmo pelas legendas mais radicais, tem faltado combustível eleitoral para alavancar a candidatura de Marina Silva à Presidência da República

Acandidata do PV à Presidência, Marina Silva, enfrenta um isolamento político na busca por votos que já compromete a campanha nas cidades que visita. Ela se coloca como opção à esquerda de Dilma Rousseff (PT) e de José Serra (PSDB), mas os próprios partidos dessa linha ideológica refutaram a possibilidade de apoio ao PV e decidiram lançar candidatos próprios na corrida presidencial. A candidatura de Marina, inclusive, foi decisiva para que a Frente de Esquerda, formada em torno da postulação de Heloisa Helena (PSol) à Presidência em 2006, não se repetisse neste ano.

Sem coligação, o PV entrou sozinho na disputa, e o preço da empreitada, além do curtíssimo tempo de propaganda eleitoral na TV e no rádio (um minuto e 24 segundos), é a pequena mobilização de militantes e de eleitores nas cidades visitadas por Marina. A defesa do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (ela foi ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008), a aproximação ao grande empresariado e a concordância com a política econômica em vigor há 16 anos afastaram o PSol, o PSTU e o PCB da candidatura de Marina. Para essas legendas socialistas, que formaram a Frente de Esquerda em 2006, o discurso ambiental da presidenciável não convence.

No período de pré-campanha, o PSol cogitou estar ao lado do PV.

Candidata ao Senado por Alagoas, a presidenta do partido, Heloisa Helena, era a principal entusiasta da ideia. A coligação não vingou, o Psol lançou candidato próprio Plínio Arruda Sampaio e as outras siglas de esquerda seguiram o mesmo caminho. Marina foi decisiva para a fragmentação da frente, afirma Zé Maria, candidato do PSTU à Presidência. Se a esquerda se unisse, jamais seria em torno de Marina. Ela é, no máximo, de centro, e quer conciliar o inconciliável: capitalismo e meio ambiente, reitera o presidenciável do PCB, Ivan Pinheiro.

O apoio que o PV recebeu do PSDB e do DEM no Rio em torno da candidatura de Fernando Gabeira (PV) ao governo estadual foi decisivo para o distanciamento dos partidos de esquerda. Heloisa Helena manteve os elogios a Marina, o que rachou o PSol. A Marina que fez acordo com o PSDB é a mesma Marina a quem o PSol quis se coligar, critica Plínio Arruda.

Em 2006, Heloisa Helena recebeu 6,57 milhões de votos no primeiro turno 6,85% dos votos válidos.

Ficou à frente de Cristovam Buarque (PDT) e atrás de Lula (PT) e de Geraldo Alckmin (PSDB).

Quatro anos depois, os partidos de esquerda estão divididos e Marina Silva, isolada. Marina era governo quando foram aprovados os transgênicos, a transposição do Rio São Francisco e o arrendamento da Amazônia para madeireiras. Que defesa do meio ambiente é essa?, questiona Zé Maria. Ela não é socialista, apoia um governo de direita, endossa Plínio Arruda.