Título: PMDB pode ficar, pela 1ª vez, com menos de 20% do eleitorado sob seu governo
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2010, Política, p. A6

Se o PSB deve sair das urnas como a principal surpresa nas corridas estaduais, o PMDB é o maior derrotado. Pelo critério de eleitores governados, o partido terá a maior perda de poder. Pela primeira vez, os governadores do PMDB terão sob seu comando menos de 20% do eleitorado nacional. Esse resultado, caso confirmado, fará com que o partido, com 15,4%, ocupe, pela primeira vez, um terceiro lugar no ranking. Ficará atrás do PSDB e pode ser ultrapassado pelo PT, que deve governar 15,7% dos eleitores nos Estados. O PSB viria logo em seguida, com 14,76%.

Nas últimas quatro eleições, o PMDB oscilou como um relógio, governando entre 21% e 22% dos eleitores no plano estadual. Foi o seu ponto de equilíbrio depois de governar 37,7%, em 1990, e de se beneficiar do caso extraordinário de 1986, quando, na esteira do Plano Cruzado, o partido elegeu todos os governadores, à exceção do Sergipe (1%), vencido pelo PFL.

Um dos líderes do PMDB, que integra a coordenação da candidatura governista de Dilma Rousseff (PT) à Presidência, o ex-governador do Rio Wellington Moreira Franco minimiza o fraco desempenho do partido nas eleições para governador.

"Eleição tem muito acaso", diz Moreira, ao afirmar que o crescimento do PSB e a desidratação do PMDB decorrem de fatores que "nem sempre acontecem", como o não lançamento pelo partido de um nome à sucessão de Paulo Hartung, no Espírito Santo - o que abriu caminho para Renato Casagrande, do PSB -, e também o não lançamento pelo PT de um candidato do partido à sucessão de Wellington Dias, no Piauí, o que favoreceu, outra vez, o PSB, que pode eleger Wilson Martins, ex-vice de Dias.

O presidente nacional do PSB, o governador reeleito Eduardo Campos, rebate a afirmação de que o partido foi favorecido pela sorte ou pelo acaso.

"É fruto do reconhecimento do eleitor ao nosso trabalho", disse Campos, durante visita a São Paulo.

Curiosamente, PSB e PMDB protagonizam uma disputa direta que simboliza o crescimento de um e o revés do outro partido nestas eleições. Na Paraíba, o PSB pode alcançar sua mais surpreendente vitória. Num crescimento não captado pelas pesquisas, Ricardo Coutinho não só levou a disputa ao segundo turno como ultrapassou o favoritíssimo governador José Maranhão na reta final. Por pouco não o derrotou já na primeira rodada. Fez 49,7% contra 49,3% de Maranhão. Com enorme vantagem para Coutinho, o governador deixou de ir ao debate da TV Globo às vésperas do primeiro turno - o que é apontado como um dos fatores responsáveis por sua queda. A diferença entre os dois agora seria de 12 pontos percentuais.

A ascensão do PSB como nova e grande força partidária nos Estados pode ser facilitada ainda pela competição em Alagoas. Ali, onde ocorre a terceira disputa mais acirrada do segundo turno, o PSDB tem dificuldades, como em Goiás. O governador Teotônio Vilela lidera, mas a diferença para Ronaldo Lessa (PDT) é de apenas 8 pontos percentuais.

Uma eventual troca de posições nas urnas, por outro lado, também pode beneficiar o PSDB a recuperar a posição de líder em Estados conquistados, alcançada em 1998 e 2002, mas perdida em 2006 para o PMDB. Na quarta corrida mais apertada, em Roraima, o governador tucano José de Anchieta está no encalço de Neudo Campos (PP) e tenta tirar a vantagem de 9 pontos percentuais apontada pelo Ibope.

No extremo oposto de Goiás, Amapá, Alagoas e Roraima, dois Estados têm o segundo turno mais previsível, com uma diferença grande entre os concorrentes. No Pará, Simão Jatene (PSDB) aparece com 54% das preferências contra 36% da petista Ana Julia Carepa. No Distrito Federal, a vantagem de Agnelo Queiroz (PT) para Weslian Roriz (PSC) - que herdou a candidatura após renúncia de seu marido, o ex-governador Joaquim Roriz - é ainda maior e chega a 25 pontos percentuais, segundo o Datafolha (55% a 30%).

Com a vitória no DF, o PT consolidaria sua posição de quarta maior força em número de Estados, totalizando cinco governadores, número próximo de PSB, PSDB e PMDB.

Outros três Estados formam um grupo intermediário, onde a disputa tem um claro favorito, mas sem a folga excessiva de que desfrutam o tucano Simão Jatene e o petista Agnelo Queiroz. Um deles é Rondônia, onde o pemedebista Confúcio Moura supera o governador João Cahulla (PPS) por 13 pontos.

Os outros dois são liderados por candidatos do PSB. Na Paraíba, Ricardo Coutinho estaria com 52% contra 40% de José Maranhão, e, no Piauí, o governador Wilson Martins está 11 pontos à frente de Silvio Mendes (PSDB).

Com a queda do PMDB, o PSDB amplia seu domínio e pode chegar a governar 47,3% do eleitorado nacional - ou seja, mais do que PT, PMDB e PSB juntos. Seria o melhor desempenho tucano desde 1994, quando alcançou vitórias em seis Estados que reuniam 50,8% dos eleitores brasileiros.

Se, no primeiro turno, dos 20 governadores que tentavam a reeleição, nove conseguiram, agora seis perseguem o objetivo, mas apenas dois lideram a disputa: o tucano Teotônio Vilela, em Alagoas, e Wilson Martins (PSB), no Piauí.