Título: Morre Romeu Tuma, corregedor do Senado, aos 79 anos
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2010, Política, p. A10
Hospitalizado desde o dia 1º de setembro, o senador Romeu Tuma (PTB-SP), de 79 anos, morreu ontem por volta das 13h, em decorrência de falência múltipla dos órgãos. O corpo do parlamentar foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo e o enterro está previsto para hoje.
O primeiro boletim médico sobre o caso de Tuma informou que o senador havia sido internado por conta de uma afonia. Os problemas de saúde se agravaram por conta de uma grave insuficiência cardíaca e no dia 2 ele foi submetido a uma cirurgia cardíaca, para receber um dispositivo que auxilia o coração chamado "Berlin Heart". O procedimento custou cerca de US$ 500 mil e foi pago pelo convênio do Senado. A equipe médica foi coordenada pelo filho dele, o médico Rogério Tuma.
Casado com Zilda Dirane Tuma, o senador deixa quatro filhos.
Mesmo internado no Hospital Sírio-Libanês, Tuma manteve sua candidatura ao Senado e recebeu 3,97 milhões de votos no dia 3 de outubro. O senador ficou em quinto lugar, com 10,79% dos votos e o PTB apostou em Tuma para ajudar na votação da bancada de deputados. Em seu lugar deve assumir o primeiro suplente, Alfredo Cotait (DEM). O cargo de corregedor do Senado, que ocupava, deve ficar vago até 2011.
Ontem, políticos e empresários comentaram a morte de Tuma. Em nota, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o senador atuou "de forma coerente com a visão que tinha do mundo e, por isso, merece o reconhecimento e o respeito dos brasileiros". Em nota, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB), disse que Tuma converteu-se "em ponto de referência para muitas gerações" e reconheceu a participação de Tuma em seu governo. "No Senado, seu desempenho foi exemplar, sua dedicação foi absoluta", disse.
A carreira de Tuma foi marcada por polêmicas relacionadas à sua atuação no período da ditadura militar. Entre as críticas estão as do grupo "Tortura Nunca Mais", que o considera ligado à repressão social e política. Diretor da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) durante o regime militar, Tuma trabalhou no combate às organizações políticas clandestinas de esquerda e na repressão de movimentos grevistas no ABC paulista deflagrados a partir do fim dos anos 70. Naquela época, colaborou voluntariamente com o Serviço Nacional de Informação (SNI). Anos depois, Tuma passou de "perseguidor" dos grevistas liderados por Lula a aliado do petista.
Bacharel em Direito, Tuma tornou-se diretor do Dops oito anos depois de começar sua carreira como delegado de polícia, pelas mãos do delegado Sérgio Paranhos Fleury e do coronel Erasmo Dias. Em 1982, Tuma transferiu os arquivos do Dops paulista para a Superintendência Regional da Polícia Federal de São Paulo. A ação foi para evitar que a oposição à ditadura, que venceu a eleição estadual com Franco Montoro (PMDB), tivesse acesso aos documentos. Com o fim do Dops, assumiu a direção da PF de São Paulo.
Tuma ganhou destaque na imprensa, entre outros casos, ao localizar a ossada do carrasco nazista Josef Mengele na periferia de São Paulo, ao coordenar a investigação da morte do ambientalista e líder sindical Chico Mendes e ao apurar o sequestro do empresário Abílio Diniz e os envolvidos no crime.
O senador ficou conhecido também pela ligação com diferentes governos, como os dos ex-presidentes Sarney e Fernando Collor de Mello (atual PTB) e do presidente Lula.
No governo Sarney , foi nomeador diretor-geral da Polícia Federal e começou a construir sua fama de "xerife". Tuma ajudou o presidente no Plano Cruzado, a combater remarcações dos preços nos supermercados. Na gestão de Collor, foi convidado a ocupar o cargo de secretário da Receita Federal, apesar de não ter experiência com questões tributárias. Em entrevistas, classificava os sonegadores como bandidos. Para reforçar a fama de xerife, visitava estabelecimentos comerciais para coibir a remarcação de preços , depois que Collor implantou um plano de combate à inflação. Naquela época, decretou a prisão de sonegadores e promoveu aumento na arrecadação dos tributos federais.
Com o impeachment de Collor e a posse de Itamar Franco (atual PPS), a relação entre Tuma e o governo federal tensionou-se e ele se afastou do Planalto. Tuma passou a integrar o governo paulista, sob comando de Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB). Nesse período prestou depoimento à Justiça Federal como testemunha de defesa de Collor.
Com Lula, Tuma tinha uma relação cordial. O presidente sempre reconheceu o fato de Tuma tê-lo permitido visitar sua mãe doente, quando estava detido no Dops, e depois que fosse ao enterro dela. A proximidade com o petista permitiu que o senador indicasse seu filho Romeu Tuma Jr ao governo petista. Essa relação, no entanto, foi estremecida quando Tuma Jr. saiu do governo sob suspeitas de participar de irregularidades e abalou-se ainda mais no segundo turno, quando o filho do senador apareceu envolvido em outra denúncia, de que teria gravado diálogos contra o governo federal.
Tuma foi filiado ao PL (atual PR), PSL e PFL (atual DEM), além do PTB.