Título: Vantagem leva Dilma a recolher-se para último debate
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Fonte: Valor Econômico, 28/10/2010, Política, p. A7

A vantagem de 12 pontos percentuais em média obtida pela candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, na última semana da campanha presidencial, deu à petista a tranquilidade necessária para se preparar melhor para o debate final na TV Globo, marcado para amanhã, e viajar menos pelos Estados. Com a voz rouca pelas seguidas carreatas e comícios dos últimos dias, Dilma preferiu poupar-se e não tinha, até o fechamento dessa edição, nenhuma previsão de compromissos públicos marcados para o dia de hoje. Ela não acompanhará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve fazer na noite de hoje um comício de encerramento da campanha em Pernambuco. Apesar da precaução em se preparar com antecedência, já que o debate na TV Globo marca o encerramento da campanha - no sábado não haverá propaganda eleitoral e os comícios passam a ser proibidos - os coordenadores da campanha do PT não esperam um debate agressivo como os que ocorreram na TV Bandeirantes e Rede Record. Segundo eles, o formato não ajuda: não há pergunta direta entre os candidatos, os temas são sorteados com antecedência e há ainda as perguntas de eleitores indecisos, o que obriga os candidatos, em tese, a se concentrarem apenas nas propostas de governo, deixando de lado ataques pessoais.

Para articuladores políticos e aliados de Dilma, a retomada de uma dianteira confortável - as primeiras pesquisas de segundo turno apontavam que a diferença entre Dilma e José Serra oscilava entre seis e sete pontos percentuais - só foi possível porque a militância assumiu a campanha como não acontecera no primeiro turno. O susto por não ter conseguido resolver a eleição no dia 3 de outubro, aliado ao crescimento de Serra embalado pelos votos dados à candidata do PV, Marina Silva, fez com que integrantes dos partidos de esquerda e os movimentos sociais intensificassem a presença nas ruas para impedir que Serra ganhasse a eleição.

A volta da figura de Lula à campanha de Dilma também foi essencial. O presidente foi retirado da propaganda na última semana do primeiro turno, com o intuito de mostrar uma candidata autônoma, sem tutelas. Não deu certo. O presidente ainda é o melhor cabo eleitoral para a petista, viajou com Dilma por diversos estados, atacou José Serra no episódio da "bolinha de papel na cabeça" no Rio de Janeiro, deu entrevistas antecipando os movimentos da Polícia Federal no episódio da quebra de sigilo de dirigentes do PSDB. Solidificou a votação no Nordeste e se contrapôs aos avanços do PSDB no Sul e no Sudeste. Foi Lula o agente da recuperação do vigor da campanha da candidata do PT.

Dilma ainda conseguiu estancar uma crise instalada entre os segmentos evangélicos e católicos ao divulgar um manifesto em que se comprometia a não encaminhar ao Congresso qualquer iniciativa que ampliasse as possibilidades de aborto ou que autorizasse o casamento homossexual. "Aquela carta foi fundamental para evitar a corrosão pelos boatos que estavam disseminados. Nós sabíamos que a Dilma era contra o aborto, mas ela precisava deixar isso claro em um documento público", destacou o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos artífices do manifesto.

Ontem, foi comemorado o aniversário de 65 anos do presidente Lula. Foram três eventos para homenageá-lo: um bolo com salgados, doces e refrigerantes no Palácio do Planalto, reunindo alguns ministros e servidores da Casa; um evento do PT nos jardins do Palácio da Alvorada e um jantar reservado, organizado pela primeira-dama, Marisa Letícia. Segundo assessores de Dilma, a candidata estaria presente apenas no último, o jantar reservado. Durante a festa com funcionários, Lula ouviu discursos de um representante dos servidores, que destacou a imagem obtida pelo Brasil no exterior; e do assessor especial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, que ressaltou a importância da vitória de Lula. Emocionado com o clima de despedida, Lula tentou discursar, mas sua fala resumiu-se a uma frase: "Com toda sinceridade, eu preferia que esse dia não tivesse chegado".