Título: Meritocracia na educação divide PT e PSDB
Autor: Máximo , Luciano
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2010, Brasil, p. A8

Divergências conceituais no campo pedagógico e concretas no que diz respeito à gestão, além da opção mútua pela continuidade de políticas consolidadas, são as grandes marcas dos programas de governo para a educação dos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).

As campanhas concordam em elevar o financiamento público da educação para 7% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2014, sabem que o Ministério da Educação (MEC) é decisivo nas iniciativas de formação inicial e continuada de professores e têm visões parecidas sobre ensino médio: prevê-se ampliação de vagas vagas, reformulação curricular e integração à educação profissional. No ensino superior, os candidatos prometem manter a expansão da rede federal e reforçar o sistema de avaliação das universidades privadas.

Os candidatos também têm falas ajustadas sobre a importância do relacionamento próximo do novo presidente com prefeitos e governadores. O PT pretende investir suas fichas na construção de um Sistema Nacional de Educação, referendado na Conferência Nacional de Educação (Conae), realizada em abril deste ano. Já o PSDB trabalha para instituir o que a campanha chama de Novo Compromisso Nacional pela Educação. Mas o discurso sai de sintonia quando o PT defende um modelo de educação com função social, que enfatiza a autonomia para as escolas se tornarem espaços de construção do conhecimento e integrados à comunidade. Guiado pela ideia de eficiência, o PSDB acredita que o governo federal pode estabelecer as diretrizes pedagógicas que serão adotadas pelas redes de ensino nos Estados e municípios. Questões salariais e de carreira do magistério também não combinam. A campanha governista propõe melhorias para a categoria como um todo, enquanto a oposição pretende nacionalizar a experiência da meritocracia adotada por Serra em São Paulo.

A historiadora Selma Rocha, que participa da elaboração de planos de governo do PT desde 1989 e atualmente coordena o programa de Dilma para a área educacional, explica que a valorização do magistério passa pela universalização e ampliação do piso nacional dos professores, por políticas permanentes de formação e pelo esforço de incentivar o professor a ter dedicação exclusiva à escola em que trabalha, em vez de manter vários empregos, uma regra no país.

"A meritocracia é uma visão equivocada de quem não entende de educação. Qualidade não resulta só da ação individual. Beira a covardia responsabilizar o professor por uma ação que não depende só dele, envolve alunos, famílias, o diretor, o coordenador pedagógico e, sobretudo, as políticas municipais, estaduais e federal e da legislação educacional", opina Selma. Em entrevista ao Valor, ela disse que o programa de Dilma para educação foi elaborado com participação do MEC e de lideranças partidárias e sindicais. A deputada federal Raquel Teixeira (PSDB-GO), o diretor da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique Brito Cruz, e o sociólogo Simon Schwartzman