Título: Risco-país cai e ações sobem com 'novo cenário'
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2010, Especial, p. A14

Sem espaço para emoções, o mercado financeiro reagiu positivamente ontem à morte do ex-presidente Néstor Kirchner.

O risco-país caiu quase 10% e subiram as ações das poucas empresas argentinas que são negociadas na Bolsa de Nova York. Os papéis do Galicia, banco com forte carteira de empréstimos pessoais, tiveram alta de 26%. O Boden, título da dívida externa fixado em dólares e com vencimento em 2015, teve valorização de 3%. A Bolsa de Buenos Aires não abriu ontem, por causa do feriado na Argentina.

"A visão dos mercados financeiros era muito negativa quanto à condução política da economia argentina. Os ativos argentinos já deveriam estar melhores do que estão valendo, e a leitura é de que se abre um novo cenário", afirmou o economista-chefe da consultoria argentina Ecolatina, Rodrigo Álvarez. Segundo ele, o ex-presidente Néstor Kirchner era visto como o responsável pelas intervenções.

"Não quero parecer cruel, mas aumenta as chances de um candidato da oposição vencer [as eleições de 2011]", disse Edwin Gutierrez, que administra cerca de US$ 6 bilhões em dívida de mercados emergentes, incluindo papéis argentinos denominados em dólares e pesos, na Aberdeen Asset Management, em Londres. "Kirchner era visto como uma pedra no caminho para indicadores de normalização."

Foi o ex-presidente que ordenou, em janeiro de 2007, a intervenção no Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), acusado em seguida de maquiar os números crescentes de inflação.

E era ele quem mais resistia, no governo, à volta da Argentina ao monitoramento das contas públicas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Nos últimos meses, o governo vinha preparando o retorno do país ao mercado voluntário de dívida, e esperava o aval de Kirchner para fazer uma emissão com juros inferiores a 9% ou 10% ao ano.

Algumas iniciativas consideradas hostis aos investidores foram tomadas pelos governos de Kirchner ou de sua esposa, Cristina: o movimento de boicote aos postos de combustíveis da Shell, o enfrentamento com a Telecom Italia, a estatização dos fundos de pensão e a nacionalização da Aerolíneas Argentinas. Durante seu governo, Kirchner favoreceu a compra por capital argentino de empresas controladas por estrangeiros. (DR)