Título: PMDB perde posto de maior partido da Câmara e busca novos líderes
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2010, Política, p. A8
A perda do status de maior partido da Câmara e de quadros que comandaram as negociações da pauta legislativa nos últimos anos deve reposicionar as forças internas do PMDB, com a ascensão de novos expoentes políticos. Pelo menos cinco integrantes do grupo que comandou o partido nas últimas legislaturas - Eliseu Padilha (RS), Eunício Oliveira (CE), Geddel Vieira Lima (BA), Jader Barbalho (PA) e Michel Temer (SP) - não mais integrarão a bancada, que, além disso, encolherá em 2011, de 89 para 79 deputados.
Com isso, cria-se um vácuo que deve ser ocupado por forças que despontaram nestes quatros anos ou foram eleitas para seu primeiro mandato, mas têm o respaldo de padrinhos políticos com experiência no Legislativo. Da futura bancada, é possível relacionar muitos eleitos que só atingiram essa condição mediante apoio explícito de ex-ministros, senadores, governadores e prefeitos.
Essas novas figuras, contudo, deverão, inicialmente, seguir os comandos ou das lideranças que permaneceram na Casa ou daqueles que vinham em rota ascendente. Figuras como Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que ruma para seu terceiro mandato, e Henrique Eduardo Alves (RN), indo para seu 11º mandato e cotado para a presidência da Casa, devem continuar sendo os condutores das negociações envolvendo o partido.
A abertura das urnas, porém, beneficiou os dois Estados que já controlavam o partido na Câmara: Rio e Minas. Os fluminenses perderam dois deputados e elegeram oito, ficando, assim, próximos aos mineiros, que mantiveram o mesmo patamar de 2006: sete deputados.
A proximidade numérica tende a aumentar a força de Minas, em cujos quadros desponta a liderança de Leonardo Quintão, que, após ser conduzido há dois anos ao segundo turno das eleições em Belo Horizonte, viu crescer sua influência não só entre os deputados mineiros, como também entre o restante. A eleição do ex-governador Newton Cardoso e a reeleição do presidente estadual da legenda, Antonio Andrade, e de um ex-secretário do presidente Itamar Franco (quando governador de Minas, entre 1999 e 2002), aumentaram o poder dos mineiros.
Por outro lado, a dupla fluminense Sérgio Cabral, governador do Rio reeleito em primeiro turno, e Eduardo Paes, prefeito do Rio eleito em 2008, conseguiu emplacar aliados. Cabral deu apoio a Washington Reis, que foi seu subsecretário de Obras nos últimos dois anos, eleito com mais de 138 mil votos. Paes conseguiu eleger dois deputados muito próximos a ele: Rodrigo Bethlem, secretário especial da Ordem Pública, idealizador do "choque de ordem" e filho da atriz Maria Zilda Bethlem, e Pedro Paulo, seu ex-secretário da Casa Civil.
Dos que deixaram o grupo pemedebista que comandava o partido na Casa, três fizeram sucessores. Os cearenses que colocaram Eunício Oliveira no Senado também elegeram deputado seu afilhado político, Genecias Noronha, prefeito por duas vezes do município de Parambu (CE). Geddel Vieira Lima (BA), derrotado em primeiro turno na disputa do governo baiano, fez dois deputados: seu irmão e presidente regional do partido, Lúcio Vieira Lima; e Arthur Maia, seu auxiliar na Assembleia Legislativa da Bahia. Jader Barbalho (PA) reelegeu sua ex-mulher, Elcione Barbalho, e seu fiel seguidor, José Priante. Ele tenta nos tribunais conquistar o mandato de senador, uma vez que foi atingido pela Lei da Ficha Limpa.
Vários governadores do PMDB fizeram aliados na Câmara. No Paraná, Roberto Requião, eleito senador, conseguiu eleger seu sobrinho, João Arruda. A bancada do Maranhão é formada por correligionários da governadora reeleita do Maranhão, Roseana Sarney. Três dos eleitos do PMDB de Santa Catarina foram secretários estaduais do ex-governador e futuro senador Luiz Henrique.
Em Goiás, tanto Iris Rezende quanto Maguito Vilela conseguiram fazer deputados. Íris fez dois, sua mulher, Íris de Araújo, e Thiago Peixoto, seu secretário de Governo na Prefeitura de Goiânia. Maguito fez Leandro Vilela, seu sobrinho, e Pedro Chaves, seu secretário de Obras. Germano Rigotto (RS), derrotado para o Senado, tem proximidade com dois ex-secretários estaduais - de Saúde e de Habitação - que integrarão a bancada gaúcha do PMDB. O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, fez campanha declarada para apenas um candidato, Lelo Coimbra, que se reelegeu.
Senadores também emplacaram deputados. Valdir Raupp (RO), por exemplo, reelegeu sua mulher, Marinha Raupp; Romero Jucá (RR), líder do governo e ex-ministro, elegeu a ex-mulher, Teresa Jucá; Renan Calheiros (AL) reelegeu-se senador e levou seu filho, Renan Filho, à Câmara.