Título: Aécio reúne prefeitos em torno de Serra
Autor: Romero , Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2010, Política, p. A6

César Felício | De Belo Horizonte O senador eleito de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) buscou ontem pela primeira vez mobilizar a sua base de apoio como um todo para impulsionar a candidatura de José Serra (PSDB) a presidente. Aécio reuniu cerca de 450 prefeitos, vice-prefeitos e lideranças políticas para a primeira visita do candidato tucano no segundo turno no Estado, na Associação Médica dos Municípios. No primeiro turno, Aécio não fez convocações para os filiados ao PSB, PDT, PP, PR e PV, partidos que o apoiam localmente, mas que não estão com Serra. "Fomos vitoriosos no primeiro turno, mas apenas em parte. A vitória plena só existirá com a vitória de José Serra em Minas", disse Aécio, ao lado do governador reeleito Antonio Anastasia (PSDB). Serra teve 1,7 milhão de votos a menos que a petista Dilma Rousseff em Minas. Pelo menos o PV atendeu a convocação. "Não podia recusar um pedido do governador", afirmou na plateia o prefeito de Sabará, William Borges.

Foi na cidade vizinha a Belo Horizonte que a senadora Marina Silva (PV) obteve o seu maior percentual nacional na disputa presidencial, com 42,5% dos votos. Na semana passada, Borges disse que não havia recebido nenhum apelo para que apoiasse Serra no primeiro turno e que duvidava que Aécio fosse pedir seu engajamento na segunda rodada. Além de Borges, outros três deputados estaduais do PV foram ao evento.

Durante o ato, partiu do senador eleito Itamar Franco (PPS), ex-presidente e ex-governador de Minas, a estimativa mais alta do que poderia significar o apoio de Aécio. "É preciso falar para Minas, porque se vossa excelência não falar para Minas, não terá a vitória. Aécio é hoje a maior liderança nacional. Se vossa excelência souber tocar o coração dos mineiros, vai ganhar, mas é preciso falar o que os mineiros querem ouvir. Ninguém engana estas montanhas", disse Itamar, dirigindo-se a Serra.

O tucano se esforçou para falar o que os seus ouvintes queriam escutar. Serra prometeu regulamentar todo o texto constitucional que trata da repartição de encargos entre Estados, União e municípios - "é a primeira coisa que vou fazer quando me tornar presidente", chegou a dizer - e garantiu que não irá fazer reduções pontuais de impostos que prejudiquem a arrecadação dos municípios. Em 2009, o governo federal fez reduções nas alíquotas de IPI para determinados setores, o que diminuiu o montante do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Segundo o candidato, somente no ano passado a arrecadação municipal desta fonte diminuiu R$ 3 bilhões e as compensações criadas pelo governo federal repuseram apenas R$ 2 bilhões.

"Nada mais será tirado do FPM sem automático ressarcimento aos municípios", disse. Ao terminar seu discurso, o candidato fez outra promessa, em uma rápida e tumultuada entrevista: a de criar o defensivo agrícola genérico, no mesmo modelo do instituído para a indústria farmacêutica nos anos 90.

Durante todo o evento, Serra e seus apoiadores fizeram referências indiretas às denúncias feitas pela campanha da adversária. "Estou enfrentando um bombardeio cerrado, sem pé nem cabeça, de mentiras", disse. "Nossos adversários falam do passado. Não rejeitamos a comparação se quiserem fazê-la. Estamos preparados para qualquer debate. Quando precisou escolher entre o interesse nacional e o partidário, o PT sempre fez a segunda opção", disse Aécio.

Para tentar frear a ação de Aécio, o coordenador político do governo, ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), e o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, estiveram ontem em Belo Horizonte para reuniões com prefeitos dos partidos que apoiam simultaneamente os governos estadual e municipal. Hoje, o candidato a vice-presidente na chapa de Dilma, o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB), se reúne com lideranças de seu partido. No sábado, Dilma deve participar de carreata com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A campanha de Dilma em Minas Gerais foi abalada pela derrota de seus principais aliados nas eleições para governador e senador. O vice-presidente José Alencar assumiu a coordenação local, com a missão de intensificar a presença da candidata e de Lula no Estado.