Título: Efeito Marina foi diferente para PT e PSDB
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2010, Política, p. A8

O fenômeno Marina Silva (PV) no primeiro turno quebrou a polarização entre o PT e o PSDB, mas seu efeito abalou de modo diferente o apoio a cada candidato. É o que mostra o levantamento feito pelo Valor das votações dos presidenciáveis nas faixas de municípios de distintos tamanhos de eleitorado. Enquanto a petista Dilma Rousseff teve sua votação mais prejudicada pela "onda verde" nas cidades médias, que registram entre 200.001 e 500 mil eleitores, o tucano José Serra teve seu pior desempenho nas cidades grandes, com mais de 500.001 votantes.

O levantamento mostra também que a boa votação de Marina Silva influenciou o resultado e levou a eleição para o segundo turno sobretudo pelo impacto no eleitorado das médias e grandes cidades. A onda verde não chegou, ou foi apenas uma leve marola, nos municípios muito pequenos, os chamados grotões - incluídos nas faixas de até 10 mil eleitores e de até 50 mil.

Nestas áreas, que reúnem cerca de 40% do eleitorado brasileiro, a disputa teria se decidido antecipadamente. Se, no resultado geral, Dilma Rousseff ficou abaixo da maioria absoluta, com 46,9% - seguida por Serra, com 32,6%, e Marina, com 19,3% -, nas regiões dos grotões ela avançou consideravelmente em relação à votação obtida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.

A petista cresceu quase 5 pontos percentuais nos municípios de até 10 mil eleitores. Há quatro anos, Lula teve 51,56%, e ela 56,36%. Na faixa seguinte, entre 10.001 e 50 mil votantes, Lula fez 52,81% , e sua candidata 54,6%. O acréscimo na votação da petista nos grotões teve como efeito um dado expressivo, que mostra a ramificação do apoio ao partido: dos 5.567 municípios brasileiros, Dilma venceu em 4.124 (74,1%), mais de mil além dos 3.103 (55,8%) que Lula ganhara há quatro anos. José Serra, vencedor em 1.421 cidades (25,5%), perdeu terreno em relação a seu colega de PSDB, Geraldo Alckmin, que, em 2006, ganhou 2.462 municípios (44,2%).

A única faixa em que Dilma não superou Serra em número de vitórias é a dos municípios médios, de 200.001 a 500 mil eleitores, dos quais o tucano ganhou 26, a petista 25, e Marina Silva conquistou quatro.

Aí, nas cidades médias, é que Dilma Rousseff teve seu apoio mais abalado, o que coincide com o crescimento da candidata do PV. É a única faixa na qual sua votação fica abaixo de 40% e registra 38,48% de apoio. Também é o segmento que tem o pior desempenho - menos 6 pontos percentuais - em relação à votação de Lula em 2006. Na categoria acima, dos municípios grandes, com mais de 500.001 eleitores, a petista volta a subir e atinge 40,9%.

Mas, aqui, é José Serra que observa seu pior índice. Enquanto o padrão de Dilma foi crescer sua votação à medida que o eleitorado do município diminui, e Marina, pelo contrário, conforme ele aumenta, o tucano teve a distribuição mais homogênea. A estabilidade, porém, é quebrada nas grandes cidades, onde o apoio à sua candidatura cai de uma oscilação de 33% a 34% para 29%.

A queda do tucano, assim como a da petista, também pode ser atribuída às ótimas votações de Marina Silva nestes municípios. Se a onda verde não teve qualquer impacto nos grotões - pelo contrário, ali Dilma reinou mais do que Lula em 2006 -, ela se espraiou das metrópoles até as cidades pequenas. É a partir desta faixa, de localidades entre 50.001 e 200 mil eleitores, que a votação de Marina Silva dobra para 20,34% e rompe a polarização entre PT e PSDB. Nestes municípios, Dilma já não vence mais no primeiro turno.

Nas faixas superiores, das cidades médias e grandes, Marina sobe ainda mais, para 26,47% e 27,76%, respectivamente. A candidata do PV ganhou em 19 cidades, sendo três capitais: Brasília, Belo Horizonte (ambas com mais de 500.001 eleitores) e Vitória, que forma, com a vizinha capixaba Vila Velha, e as fluminenses Niterói e Volta Redonda, o grupo de quatro cidades médias vencidas pela presidenciável do PV. Marina Silva venceu em outros 13 municípios, mas que, apesar do reduzido eleitorado, dificilmente se encaixam no rótulo generalizante de grotões: oito estão localizados na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, balneário voltado para o turismo; quatro são da Região Metropolitana de Belo Horizonte e um é do Espírito Santo. Em comum entre estas cidades, está o fato de terem alta concentração de evangélicos.

A candidata do PV teve no Sudeste seu melhor desempenho em todas as faixas do eleitorado, à exceção daquela dos municípios com mais de 500 mil eleitores, na qual consegue liderar uma região, a Centro-Oeste, graças à sua votação no Distrito Federal, e na de 200.001 a 500 mil eleitores, onde se dá melhor no Norte.