Título: Política local influenciou voto nas metrópoles
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2010, Política, p. A10
As eleições no primeiro turno nos 462 municípios que fazem parte de regiões metropolitanas no país mostram que apoio político local foi essencial para o resultado final. Fica em xeque a tese, difundida entre especialistas em pesquisas, de que nas cidades polo dos Estados e em seu entorno a força dos palanques é menor. O candidato tucano José Serra, segundo colocado nas eleições, consegue percentuais maiores de voto nas três regiões metropolitanas de São Paulo, nas do leste de Santa Catarina, norte do Paraná, Belém (PA), Maceió (AL), Campina Grande (PB), Natal (RN) e Goiânia (GO), onde candidatos de sua coligação venceram a eleição para governador ou passaram para o segundo turno. Também foi bem votado nas cidades do entorno de Aracaju (SE), onde o ex-governador João Alves (DEM) teve 45% do total, mas a eleição se definiu no primeiro turno.
As piores votações de Serra ocorreram nas cidades do entorno de Manaus (AM), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Fortaleza (CE), onde os candidatos de sua coligação ficaram com no máximo 20% dos votos para governador. O mesmo fenômeno ocorre com a petista Dilma Rousseff: seu pior desempenho foi nas regiões metropolitanas do leste de Santa Catarina e de Londrina (PR), Estados em que seus candidatos perderam no primeiro turno.
Cidades de regiões metropolitanas, em geral, são as que o eleitor conta com menos vinculações políticas em relação aos caciques locais. O Brasil conta com 35 regiões metropolitanas e duas regiões integradas de desenvolvimento econômico (Rides), que são áreas metropolitanas que englobam mais de um Estado.
Há duas exceções à regra: as regiões metropolitanas de Belo Horizonte e do Vale do Aço, em Minas Gerais, e a região integrada de Teresina (PI). Serra não ganhou em sequer uma das 38 cidades metropolitanas mineiras, apesar do governador Antonio Anastasia (PSDB) ter sido reeleito no primeiro turno. Chegou a ter apenas 14% em uma delas, Raposos, e ficou atrás de Marina Silva (PV) em 20 delas, inclusive Belo Horizonte. Também perdeu, não passando de 25%, em todas as 13 cidades piauienses da região de Teresina, embora o ex-prefeito da capital, Silvio Mendes (PSDB), esteja disputando o segundo turno. Em Minas Gerais, a força do PSDB do senador eleito Aécio Neves está nas pequenas cidades. Boa parte da base aecista pertence a partidos que também estão na base de apoio de Dilma Rousseff, a começar do próprio prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB).
O balanço nas regiões metropolitanas mostra que a terceira colocada, Marina Silva (PV), subtraiu votos tanto de Serra quanto de Dilma, conforme o local do país. Nas 22 cidades metropolitanas do Ceará, a votação da petista invariavelmente é superior a 50%. Os maiores percentuais obtidos por Serra estão nas cidades em que Marina teve o menor percentual, como Barbalha, na região do Cariri, em que o tucano teve 32% e a candidata do PV, 6%. Na Paraíba, com 35 cidades metropolitanas, Marina pareceu concorrer na mesma faixa que Dilma: em Campina Grande, cidade metropolitana em que a petista teve apenas 27%, sua menor votação proporcional, Marina alcançou 28% e Serra, 43%.
No Rio de Janeiro, Marina transitou em uma única faixa de voto, de 26% a 37%, entre os 20 municípios da região metropolitana. Dilma e Serra disputaram a mesma frequência, com vantagem para a petista, que ganhou em 19 das cidades. Seu maior percentual, 57% em Belford Roxo, correspondeu ao menor percentual do tucano: 12%.
O candidato tucano frequentemente obteve resultados melhores nas capitais estaduais do que em seu entorno. Na região metropolitana de São Paulo, Serra venceu na capital, mas não ficou em primeiro em 27 dos demais 38 municípios que circundam a metrópole. O tucano venceu ainda em Porto Alegre, Curitiba, Goiânia e Cuiabá, tendo perdido no conjunto destas regiões metropolitanas. No domicílio eleitoral de Dilma Rousseff, na capital gaúcha, a petista teve 32%, ante 40% de Serra. Mas nas demais 30 cidades da região metropolitana no Rio Grande do Sul, o tucano só ficou em primeiro lugar em cinco delas, todas de pequeno porte.
Um dos melhores resultados obtidos por Dilma Rousseff em regiões metropolitanas ocorreu no entorno de Chapecó, no oeste catarinense, onde ganhou nos 16 municípios com percentuais que oscilaram entre 47% e 63%. Trata-se de uma região tradicionalmente petista em um Estado que consistentemente vota contra o PT para a Presidência, mas onde os candidatos tucanos vinham se fortalecendo. Em 2006, o então presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) havia conseguido vencer na maioria das localidades.
A mais maciça votação em favor de Serra ocorreu na região de Londrina (PR), onde o tucano ficou em primeiro lugar em dez dos 11 municípios onde o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) é a maior expressão política. Mas houve perdas em relação a quatro anos atrás. Alckmin conseguiu percentuais de até 68%. Serra alcançou 59% nos municípios em que foi mais bem votado.