Título: Dólar amplia queda e ouro dispara com sinais de mais estímulos pelo Fed
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2010, Finanças, p. C2
A expectativa cada vez maior de novas compras de ativos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e o anúncio de alguns balanços empresariais encorajadores levaram as ações mundiais a seus maiores patamares em seis meses e o ouro a mais uma cotação recorde, enquanto o dólar retomou sua tendência declinante.
As minutas da reunião de política monetária do Fed em setembro, divulgadas na terça-feira, pareceram confirmar que o banco central dos EUA embarcará em breve em uma segunda rodada de flexibilização quantitativa, que já vem sendo chamada de "QE2", pelas iniciais em inglês. "Uma QE2 em novembro é praticamente certa e a única dúvida é sobre os detalhes de sua introdução", afirmou Jeffrey Rosenberg, estrategista de crédito do Bank of America Merrill Lynch.
Rosenberg, no entanto, mostrou-se cético quanto a sua efetividade e impacto sobre os ativos de risco. "Nossos argumentos alinham-se com os poucos céticos no Fed acreditando que a liquidez não é mais o problema - logo, não pode ser a solução", afirmou Rosenberg. "Além disso, muita liquidez agora está se tornando o próprio problema."
Analistas também destacaram as referências do Fed à possível manipulação das expectativas inflacionárias. "A ideia é que, ao aumentar as expectativas, as taxas reais de curto prazo possam ser empurradas para baixo, proporcionando, portanto, estímulos monetários adicionais", afirmou Sacha Tihanyi, estrategista de câmbio da Scotia Capital.
De fato, a diferença entre o rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA de cinco anos e o dos bônus protegidos contra a inflação com o mesmo vencimento - um indicador das expectativas inflacionárias - chegou a seu maior nível desde junho.
John Higgins, da Capital Economics, sugeriu que o Fed encontraria dificuldades em elevar as expectativas inflacionárias, tendo em vista o estado da economia dos EUA. "O índice de desemprego, perto de 10%, é cerca de duas vezes o nível geralmente considerado consistente com um índice de inflação estável", afirmou.
"A pressão negativa sobre salários e preços decorrente do alto desemprego deverá ser compensada por algum tempo pela pressão positiva sobre os preços dos alimentos e energia [...] mas, se novas compras de ativos, não conseguirem transmitir grande impulso à economia, como suspeitamos, então, os preços das commodities podem recuar acentuadamente."
O rendimento dos bônus de dez anos do governo dos EUA subiu 4 pontos-base, para 2,47%, antes do leilão de US$ 21 bilhões desses papéis, que são referenciais do mercado, que ocorreria ainda ontem.
O rendimento dos "bunds", os bônus de dez anos do governo alemão, subiu inicialmente, na esteira dos comentários anti-inflacionários de Axel Weber, presidente do Bundesbank, o banco central da Alemanha e membro do conselho de governo do Banco Central Europeu (BCE).
Weber disse que o BCE deveria suspender seu programa de compra de bônus e começar a reduzir outras medidas emergenciais de estímulo. Também considerou que o risco de recessão na Europa é "insignificante".
O contraste total entre as políticas monetárias dos EUA e da região do euro ajudou a levar o euro a seu maior patamar em oito meses em relação ao dólar. A moeda dos EUA ficou próxima da menor cotação em 15 anos em relação ao iene.
Os preços das commodities industriais tiveram uma sessão de valorizações. O cobre chegou a sua maior cotação em 27 meses, negociado acima de US$ 8,4 mil por tonelada. O petróleo bruto nos EUA avançava US$ 1,50, para US$ 83,17 por barril - primeira alta em três dias.
O ouro atingiu recorde, superando US$ 1.372 por onça troy, impulsionado pela fragilidade do dólar.