Título: Dilma e Lula focarão em SP, MG, RJ e PR
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2010, Política, p. A8

Aliados da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, propuseram à direção da campanha que as ações nesse segundo turno sejam segmentadas para aumentar o nível de eficiência na reta final da disputa. Dilma e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva devem concentrar as viagens a São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Paraná. Os governadores eleitos além dos que disputam segundo turno no Norte e Nordeste passam a ser os responsáveis por consolidar os votos na região. E o presidente nacional do PMDB, Michel Temer (SP), torna-se o interlocutor para garantir a unidade do partido.

A divisão das tarefas compensaria o tempo exíguo - pouco mais de 20 dias - até o segundo turno das eleições, marcado para o dia 31 de outubro. Lula e Dilma visitariam os Estados que concentram um terço do eleitorado brasileiro, escolhidos também como alvo pelo comando da campanha de José Serra (PSDB). No caso do Rio e de Minas Gerais, as visitas serviriam para consolidar a vantagem de Dilma; em São Paulo e no Paraná, para bloquear o avanço da votação tucana.

A campanha de Dilma está atenta aos movimentos de Serra, que escalou Geraldo Alckmin (SP), Beto Richa (PR) e, principalmente, Aécio Neves (MG), todos já eleitos, para impulsionar a campanha da oposição. O ex-governador mineiro conquistou uma dupla vitória, pois, além de eleger-se senador, conseguiu levar Antonio Anastasia ao governo do Estado de Minas, em primeiro turno, saindo de um patamar baixo e contra um adversário forte, apoiado pelo presidente Lula.

Por isso, foi vista como acertada a escolha do vice-presidente José Alencar para coordenar a campanha de Dilma em Minas. Alencar pode não ser tão bom puxador de votos como Aécio, mas é visto como o único capaz de equilibrar o jogo político no Estado e unificar novamente a base aliada para manter a vantagem de Dilma.

A vitória de Anastasia em primeiro turno gerou uma crise entre o PMDB e o PT mineiros. Hélio Costa reclamou que os petistas boicotaram seu nome durante todo o primeiro turno. "Quando se perde, sempre há choro. A verdade é que o Hélio repetiu a sua sina de derrotado", respondeu um militante do PT que trabalhou diretamente na campanha.

Nas regiões Norte e Nordeste, caberia aos governadores eleitos em primeiro turno e aos que estão na disputa no segundo a missão de fortalecer a votação em Dilma. A coligação que sustenta a candidata do PT ganhou a eleição no Amazonas, no Maranhão, na Bahia, no Ceará e em Pernambuco - nos três últimos, com mais de 60% das intenções de votos. E está no segundo turno no Pará, Alagoas, Piauí e na Paraíba.

Também faz parte da nova estratégia utilizar melhor o candidato a vice, Michel Temer (SP). Durante o primeiro turno, ele foi figura praticamente decorativa. Na maior parte das propagandas eleitorais e nos panfletos distribuída pela militância, era o presidente Lula, e não Temer, quem aparecia em destaque. Em reunião na quarta-feira, o PMDB reclamou um papel mais ativo nesse segundo turno.

Temer poderá conter o ímpeto do partido e as possíveis defecções. Pemedebistas de vários Estados - não apenas de Minas - reclamam da postura do PT como aliado, o que pode contaminar as relações no plano nacional. Mais solto, Temer poderá também buscar apoio entre alguns militantes do partido que hesitam em votar na candidata do PT, mas que ainda não declaram apoio à Serra.

Um erro cometido no primeiro turno e que começou a ser reparado com a indicação de Ciro Gomes (PSB) e Moreira Franco (PMDB) para a coordenação geral é o do isolamento de Dilma dos demais aliados. Integrantes dos partidos reclamaram da excessiva concentração de poder nas mãos de poucos petistas. Até mesmo integrantes do PT manifestaram descontentamento, dizendo que não conseguiam "romper o cordão de isolamento" montado em torno da candidata.

Quanto aos 20 milhões de votos de Marina Silva (PV), a avaliação é de que boa parte deles não pertence nem à candidata nem ao PV. Eles representariam um protesto à campanha plebiscitária PT-PSDB, aos escândalos na Casa Civil (Erenice Guerra) e na Receita Federal (quebra do sigilo dos dirigentes do PSDB), o que dificultaria a migração desse eleitorado para Dilma ou Serra.