Título: Expansão fiscal e reservas ficam sob críticas
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Fonte: Valor Econômico, 11/10/2010, Finanças, p. C8
O Brasil defendeu a posição de que sua economia está equilibrada e que os problemas cambiais mundiais são causados por outros países, como a China e os Estados Unidos. Mas alguns aspectos da política econômica brasileira, como a forte expansão fiscal e o acúmulo de reservas, acabaram sendo alvo de críticas na reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, que terminou ontem.
"O Brasil está equilibrado", disse ontem o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. "O que não podemos permitir é que o Brasil se desequilibre para permitir o reequilíbrio de outras economias", completou. Ele se referia principalmente à maciça emissão de dinheiro pelos países desenvolvidos para estimular suas economias, que amplia a liquidez internacional e leva a fortes fluxos de capitais ao Brasil.
O FMI, porém, indicou por meio de seu corpo técnico que não considera que a economia brasileira esteja tão equilibrada. Os crescentes gastos do governo, segundo essa visão, contribuem para o superaquecimento da economia, sobrecarregam a política monetária e atraem mais dólares ao país, levando à valorização do real.
Meirelles minimizou os desequilíbrios causados pela política fiscal expansionista. "A economia brasileira está em equilíbrio, e a dívida pública está caindo e é uma das menores do G-20", disse. Mas admitiu que podem ser feitos ajustes. "É legítimo se colocar a discussão sobre qual será a política fiscal do próximo governo."
Outro aspecto da política econômica brasileira questionada pelo FMI é o acúmulo de reservas internacionais. O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, disse que a compra de dólares no mercado é ineficaz para conter a valorização do real. Sua leitura é que o Brasil enfrenta um fluxo permanente de capitais, em virtude das suas boas perspectivas de crescimento econômico, quando comparado com os países desenvolvidos.
Atendendo a um pedido dos Estados Unidos, o FMI vai desenvolver uma nova métrica para determinar qual é o nível adequado de reservas para os países. O trabalho, que deve avançar durante o próximo ano, vai dar ao FMI instrumentos para dizer se um país acumula reservas demais e, assim, contribui para construir novos desequilíbrios entre as economias do mundo.
Para Meirelles, porém, falar do acúmulo de reservas em vez da política monetária americana é inverter a relação de causa e efeito. "Hoje, o desequilíbrio mais importante é a expansão monetária americana", afirmou. "O problema é a grande injeção de liquidez que ocorre na economia mundial, não é o acúmulo de reservas internacionais." (AR)