Título: País precisa fazer ajustes, diz estrategista
Autor: Villaverde , João
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2010, Brasil, p. A3

Sensação do noticiário internacional por crescer acima de 7% em um ano em que os principais países desenvolvidos se esforçam para garantir algo em torno de 2%, a história de sucesso do Brasil precisa passar por ajustes, a partir de 2011. Para Maurício Cárdenas, diretor para os países da América Latina do Brookings Institution, um dos mais antigos think tanks dos Estados Unidos, parte do sucesso brasileiro se deve à alta de preços das commodities, a partir de 2003, que sustentou o incremento da balança comercial brasileira e, consequentemente, a aceleração da economia.

Segundo Cárdenas, outro componente "relevante" por trás do bem sucedido modelo de crescimento brasileiro foi a atuação do governo federal. "Os três grandes eixos do sucesso macroeconômico brasileiro foram a emergência de uma nova classe média, o surgimento de grandes empresas internacionalizadas e a rápida recuperação após a crise mundial. Todos esses fatores têm maior ou menor ligação com políticas do governo", diz o economista, em entrevista exclusiva ao Valor.

No entanto, ambos os fatores - o boom de commodities e a participação do governo na economia - necessitam de cuidados daqui para frente. "A China não vai adquirir commodities, na proporção que tem feito até agora, indefinidamente, então é preciso estar preparado. Além disso, o incremento de gastos públicos tem um limite, e o controle pode vir, na pior hipótese, via elevação das taxas de juros, o que ampliará a valorização do câmbio", avalia Cárdenas, para quem a saída, para o Brasil, passa por cortes de gastos e elevação da poupança, o que reduziria o crescente déficit em conta corrente - que, segundo o Banco Central, deve atingir 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010.

O Brookings Institution, fundado em 1916, foi um dos primeiros think tanks dos EUA, país onde esses "tanques de pensamento" se disseminaram. No ano passado, a prestigiada revista americana "Foreign Policy" elegeu o Brookings como o "principal think tank do mundo" por sua influência no debate econômico mundial. (JV)