Título: Internacionalização ganha destaque
Autor: Capozoli , Rosangela
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2010, Especial, p. F4

O Banco do Brasil (BB) está "exportando" confiança para clientes brasileiros que atuam no exterior. Com esse esforço, o BB quer transformar em "moeda" a credibilidade que tem garantida no país e desbancar concorrentes internacionais. A estratégia dos bancos brasileiros nessa empreitada de internacionalização é complementar o relacionamento que eles possuem com as empresas brasileiras e com clientes no varejo que tenham laços com o Brasil.

Hoje, o BB está presente na Argentina, nos EUA e agora vai expandir para a África. O BB negocia com o Bradesco a formação de uma parceria com o português Banco Espírito Santo (BES) para operar por meio de uma holding, que já tem negócios em nações, inclusive nos países africanos. O banco, em parceria com o BES e o Bradesco, já iniciou estudos e prospecções no mercado africano. "A parceria estratégica das três instituições reúne expertise e tecnologia para enfrentarmos a competição com instituições globais de porte, que já estão estabelecidas na África", afirma Eduardo de Oliveira Martins, gerente executivo da diretoria internacional do BB.

A África tem atraído cada vez mais empresas brasileiras nos últimos anos. Entre as maiores estão a Vale, o frigorífico JBS e as construtoras Odebrecht e Camargo Corrêa. Ao mesmo tempo em que o BB finaliza negócios na Europa, já estendeu um tentáculo na Ásia. "Na Europa, o banco está finalizando a implantação de plano de reorganização corporativa, pelo qual pretende aumentar sua eficiência operacional, administrativa e financeira", conta Oliveira Martins. Segundo ele, "o BB está estudando como melhor se organizar para atuar na China e aprimorar a operação de varejo no Japão".

"Também está atento à demanda de investidores asiáticos e já iniciou tratativas visando à abertura de um broker dealer no continente. Na América do Sul há vários mercados em prospecção, entre eles Paraguai, Chile, Peru e Colômbia", informa. De acordo com o gerente executivo, "nos EUA, o BB já possui licença para constituir um banco com atuação doméstica ou para investir na aquisição de instituição local". "Naquele mercado, o banco buscará atender as necessidades dos mais de 1,5 milhão de brasileiros presentes nos EUA, oferecendo a eles portfólio completo de produtos e serviços", informa.

O BB é a maior instituição financeira pública do país e o Bradesco é o segundo maior banco privado. O primeiro alcançou R$ 755,7 bilhões em ativos totais ao final do mês de junho e o Bradesco atingiu R$ 611,9 bilhões no terceiro trimestre do ano. O BES é o segundo maior banco privado português, com ativos de mais de R$ 177 bilhões (US$ 100 bilhões).

Para Gustavo Sechin, analista da Votorantim Corretora, "ainda seria prematuro falar em varejo na África". Ele entende que seria necessário, por parte dos bancos, investimentos pesados para conseguir uma atuação forte. Na opinião de Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, "a operação deve ser pequena, e a velocidade de internacionalização será lenta". "Ainda há espaço para crescerem no mercado interno", diz. No entanto, essa estratégia de ganhar terreno fora do Brasil não é nova. "O Itau já possui operações de varejo em mercados fortes da América do Sul, como Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. Além da América Latina, os clientes do Private do Itaú estão também no México, Miami, Luxemburgo e Suíça", informa Carlos Eduardo Maccariello, diretor da área de empresa do Itaú Unibanco. A instituição financeira também já atua no continente asiático. "O processo de internacionalização é uma forma de diminuir o risco das operações."

"A internacionalização é um diferencial do HSBC no mundo. Serviço e produtos são as maiores demandas das empresas brasileiras no exterior", diz Rodrigo Caramez, diretor de produtos de pessoa jurídica do HSBC. Segundo ele, "na área de financiamento, oferecemos um leque de produto para o comércio exterior, tanto na importação como na exportação. O Brasil é um país que ainda está se abrindo. Temos hoje no país cerca de 6 milhões de empresas, das quais apenas 90 mil são importadoras ou exportadoras. É um número bem limitado ainda. Esse número vai continuar aumentando", garante. Pelos seus cálculos, nos últimos 12 meses findos em setembro, o volume de abertura de conta lá fora aumentou 40% sobre igual período anterior. "Esse serviço foi alavancado pelo lançamento no Brasil do Internet Banking Global", explica. "O HSBC é um dos parceiros do BNDES nessa expansão. O BNDES tem buscado fortemente a sua internacionalização especialmente na América Latina e já começamos a operar com um produto, o BNDES Exin Automático", explica Marcelo Aleixo, superintendente executivo do HSBC Empresas.