Título: Mantega conta com Lula para ficar na Fazenda
Autor: Romero , Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2010, Política, p. A7

Embora não seja "o candidato dos sonhos" da presidente eleita, Dilma Rousseff, Guido Mantega pode permanecer à frente do Ministério da Fazenda em sua gestão. Dilma avalia também a possibilidade de manter no cargo, pelo menos por alguns meses, o atual presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Antes cotado para assumir a Pasta da Fazenda, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, deve ficar no banco. No caso de Mantega, que trabalha abertamente para continuar na Fazenda, pesa em seu favor o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo fontes graduadas ouvidas pelo Valor, Lula não indicou nem indicará diretamente nomes para o ministério da presidente eleita, mas, sempre que conversa com Dilma, elogia o atual ministro da Fazenda.

A presidente eleita ainda não tomou uma decisão, como, aliás, não o fez em relação a nenhum ministério, mas a opinião do presidente Lula pode influenciar. "Mantega pode continuar, mas esta não é um hipótese fechada", ponderou um dos participantes das negociações para a montagem do novo governo. Segundo ele, a chance de Mantega ficar na Fazenda hoje é maior que a da sua substituição por Luciano Coutinho, do BNDES.

Coutinho, que foi professor de Dilma na Universidade de Campinas (Unicamp), tem afinidade intelectual com a presidente eleita. É um desenvolvimentista como ela, mas com uma diferença marcante em relação a Guido Mantega: ele defende o fortalecimento das contas públicas, com a redução do déficit público e da relação entre dívida líquida e Produto Interno Bruto (PIB), como precondição para a diminuição da taxa de juros a médio e longo prazo.

Em tese, a manutenção de Guido Mantega no Ministério da Fazenda seria uma contradição com as promessas feitas por Dilma para a área fiscal - geração de superávit primário real (sem descontos) de 3,3% do PIB por ano entre 2011 e 2014 e redução da dívida pública de 41% para 30% do PIB no prazo de até quatro anos. O que integrantes da equipe de transição dizem em defesa do ministro é que essas metas foram definidas pela presidente eleita. Se Mantega ficar no cargo, terá que trabalhar para cumpri-las.

No caso de Henrique Meirelles, a ideia é mantê-lo na presidência do Banco Central no início do governo e, dessa forma, mostrar à sociedade e ao mercado que a instituição não faz parte da divisão partidária do poder. Ele ficaria no cargo por cerca de quatro meses e, depois, seria substituído por um nome do banco - o mais cotado é Alexandre Tombini, funcionário de carreira do BC e um dos arquitetos do regime de metas para inflação. "Dilma não tem pressa em relação ao BC", informou uma fonte.

A presidente eleita já decidiu, também, que nada mudará na política monetária conduzida pelo Banco Central. Não haverá meta de taxa de juros e a instituição continuará atuando com autonomia operacional. Os juros serão calibrados, explicou um aliado de Dilma, de acordo com as condições fiscais do setor público e da política de combate à inflação.

Quando sair do Banco Central, Henrique Meirelles ainda poderá ser indicado para ocupar um outro ministério, provavelmente, da área de infraestrutura - uma Pasta citada nas conversas preliminares é a dos Transportes. O vice-presidente eleito, Michel Temer, hoje presidente da Câmara dos Deputados e do PMDB, teria firmado compromisso com Meirelles em abril, quando este desistiu de disputar com ele a indicação para a chapa de Dilma. "Temer disse a Meirelles que ele seria o primeiro nome do PMDB a ser indicado para o ministério", revelou uma fonte.

Antes de escolher os nomes do ministério, a presidente eleita vai definir o formato do seu governo. Um exemplo é a Casa Civil. Se o cargo tiver um perfil mais técnico, sem atribuições políticas, Maria das Graças Foster, atual diretora de Gás e Energia da Petrobras, poderá assumir o seu comando. Se o perfil for mais político, é possível que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci seja o escolhido.

Palocci - cujo mandato como deputado federal por São Paulo termina em fevereiro - tende a ser o negociador político de Dilma, o que poderá fazer, inclusive, ocupando outro cargo no Palácio do Planalto, em vez da chefia da Casa Civil, como vinha sendo cogitado - a Secretaria-Geral da Presidência da República, por exemplo, é uma alternativa. Os rumores sobre a ida do deputado federal petista para o Ministério da Saúde são desmentidos por seus interlocutores mais próximos. Segundo eles, por ser médico sanitarista, Palocci até teria interesse por essa área, mas, neste momento, falta-lhe "apetite político".