Título: Permanência de Haddad enfrenta resistência no PT
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2010, Política, p. A8
A permanência de Fernando Haddad no Ministério da Educação no governo de Dilma Rousseff torna-se cada vez mais difícil não só pelos sucessivos problemas envolvendo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mas também pela resistência enfrentada pelo ministro dentro do PT. Dirigentes do partido não estão dispostos a defender o ministro diante das críticas ao exame nacional. Ontem, Haddad enfrentou um novo revés, com o pedido da suspensão do Enem feito pela Justiça Federal do Ceará, devido às falhas que marcaram a prova. Pelo segundo ano consecutivo, o Enem teve problemas. As falhas nas provas neste ano, às vésperas da montagem dos ministérios para o próximo governo, aumentaram a pressão do PT contra Haddad e novos nomes para o ministério já são ventilados. O grupo que comanda o PT paulista cogita a indicação de Marta Suplicy, senadora eleita por São Paulo, e de Aloizio Mercadante, senador e candidato derrotado ao governo paulista nesta eleição. São citados também Newton Lima, ex-reitor da Universidade Federal de São Carlos (SP), eleito deputado federal; o ex-prefeito e deputado Pedro Wilson (GO) e o deputado Carlos Abicalil (MT).
Na avaliação de um político aliado ao grupo de Marta, a senadora recém-eleita não tem interesse no cargo. "Isso é boato, ela está no exterior", disse o político, para quem a maior possibilidade da ex-prefeita é mesmo assumir o mandato de senadora. "[a Pasta da Educação] Não é o perfil dela", disse. Outro aliado de Marta reforçou a indicação de Mercadante.
Dentro do partido, Haddad não é consenso, em especial dentro do grupo que controla o PT. "Não é que ele sofra resistências dentro do PT. Ele nem participa do partido", comentou um aliado de Marta. "Ele é filiado, mas está muito afastado do partido", completou. O ministro é vinculado ao grupo Mensagem ao Partido, cujo expoente o governador eleito do Rio Grande do Sul , Tarso Genro.
Haddad ocupou seu primeiro cargo público na gestão de Marta frente à Prefeitura de São Paulo, como chefe de gabinete do então secretário de Finanças, João Sayad - atual presidente da Fundação Padre Anchieta, mantida governo de São Paulo, sob gestão de Alberto Goldman (PSDB). Sua passagem pelo governo municipal foi marcada por atritos com integrantes da gestão e com a então prefeita. Com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, em 2002, foi convidado pelo então ministro do Planejamento Guido Mantega a integrar o governo federal. Haddad chegou ao comando do Ministério da Educação pelas mãos de Tarso Genro, quando deixou o cargo para assumir a presidência do PT, em 2005. No ano passado, sua gestão foi alvo de críticas, com o vazamento da prova do Enem.
Além das resistências do PT e dos problemas dentro do ministério, Haddad terá de enfrentar o ataque da oposição ao governo federal. Hoje, a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) tentará aprovar um requerimento com o convite para Haddad depor à Comissão de Educação do Senado para explicar a organização do Enem. "Na minha ótica, o Enem fica desacreditado. Dois anos seguidos com problemas é demais, é falta de competência técnica", disse. A senadora pretende apresentar o requerimento amanhã, para que possa ser apreciado em seguida durante reunião da comissão.
Haddad minimizou ontem os problemas envolvendo o Enem. Em entrevista, disse que o MEC recebeu um número relativamente pequeno de relatos de problemas e afirmou que na maior parte dos casos os estudantes que receberam provas com defeito conseguiram trocá-las. O ministro defendeu que o Enem é "absolutamente sustentável" e disse que a prova será reaplicada a quem foi prejudicado. (Colaborou Ana Paula Grabois, com agências noticiosas)